VELA DE ESTAI
FRANCISCO MADURO-DIAS
REMAR PARA O MESMO LADO
In Diário Insular 7.AGO.2021
O verdelho, branco e roxo, juntamente com o terrantez o arinto são a base legal para a produção do vinho com o nome Biscoitos (deixo aqui de lado a parte das designações porque os nomes são diferentes, para a mesma casta, em diferentes ilhas, mas isso é outra história...).
Quem visite o Museu do vinho da Casa Agrícola Brum, nos Biscoitos, descobrirá, no entanto, que, ao lado dessas, muitas outras castas já "andam por cá", pelas ilhas, há um ror de anos, com testemunhos reunidos num campo ampelográfico que o meu amigo Luís andou a compor, depois de as encontrar meio esquecidas, aqui e ali.
Quem quiser deixar em paz as cepas e preferir leituras, bastará dar uma olhadela por cronistas como o Doutor Gaspar Frutuoso e as suas Saudades da Terra, para encontrar, lá descritas, uma boa variedade de castas, muitas delas as mesmas de que o meu amigo Luís recolheu exemplares.
Venho com isto a terreiro porque, seja por uma questão de identidade nossa, seja por uma questão de qualidade do turismo que queremos, parece-me que pouca gente está a ter em devida conta estes factos.
As razões, como sempre, são as da carteira, as do curto prazo, as do "toca a andar".Exactamente as mesmas que costumam ajudar os negócios a dar com os burros na água, frequentes vezes. Procura-se castas que sejam resistentes às doenças, que dêem muitos cachos e toca a inovar que se faz tarde e enquanto se puder.
É verdade que a inovação também existiu quando os portugueses, aqui desembarcados, trouxeram variadas castas, das muitas que conheciam, no continente. Seguindo esse raciocínio nada impede, portanto, que se tentem, agora, outras castas.
Porém, procurando ter uma visão abrangente e estratégica,existem bastas razões,sejam de mercado, de cultura, de identidade, de turismo,para se revisitar as tais "curiosidades" que andam por cá desde há séculos, já aclimatadas e adaptadas à nossa ressalga impenitente e aos vendavais do oceano, antes de enveredar pela inovação.
Vejamos. Quando falamos de moscatel lembro-me de Setúbal; de alvarinho, lembro-me de Monção; de Riesling lembro-me do Reno; de Tokay lembro-me da Hungria. Os vinhos do Dão têm as suas castas determinadas, os do Douro, idem, assim como os franceses, italianos, espanhóis ou gregos.
Seja pelas castas usadas seja pelos resultados, cada região ou sub-região procura garantir um sabor, uma textura, um aspecto e um nome. No fundo querem que a memória perdure, seja a do gosto, seja outra, quando a pessoa estiver longe ou passado tempo.
Ora, quando falamos de verdelho, seja o dos Biscoitos, o do Pico ou o da Graciosa, seja, agora apenas e por enquanto como recordação, o que mais se produzia e mais famoso de todos, o dos Casteletes, em São Jorge,essa memória já existe, com nome feito e identidade de séculos.
Quem quiser acrescentar valor basta fazer bem feito e lutar para que seja adequada a remuneração de quem se esforça e participa. Seja em vinhos de mesa, seja em licorosos e velhos. Quem quiser inovar tem a lista de Frutuoso ou as cepas mãe como as do campo do Luís.
Deixo aqui a frase de um húngaro que nos visitou há tempos, provando verdelhos, dos bons e dos legítimos: "este é daqueles que deixam memória e nos fazem querer voltar!"
É por aqui que temos de remar. TODOS!
Outras "Parras":
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2 de Fevereiro de 1890 - 2 de Fevereiro de 2020. Ver e Ler Aqui