sábado, 20 de novembro de 2010

Região de Biscoitos, nos Açores - Casas em vez de vinhas

Por: Santos Mota
“Criada em Janeiro deste ano, a zona vitivinícola dos Biscoitos, na ilha Terceira (Açores), encontra-se já ameaçada pelo urbanismo desenfreado, que em regra nada poupa para favorecer, muitas vezes sem respeito pelo ambiente, a especulação imobiliária.”

Os vinhos com nome “Biscoitos” integram-se na categoria comunitária dos vinhos licorosos de qualidade produzidos em região determinada (VLQPRD) e podem assumir, no futuro, assinalável importância económica, quer como produto local, quer indirectamente por as regiões onde são cultivadas as vinhas constituírem pólos de atracção turística.

É significativa a tipicidade dos métodos culturais empregues, que se coadunam com o interesse que a existência de uma zona vitivinícola sempre desperta, inserida em solos formados sobre substrato consolidado de basalto e rochas afins, andesitos e traquitos, em geral correspondentes a lavas recentes.

Apesar das vantagens de toda a ordem que a zona vitivinícola representa nas ilhas açorinas, há já pressões e cobiça sobre terrenos que se encontram em estado de semi-abandono, para construir nos Biscoitos habitações secundarias, dada a proximidade das zonas balneares que lá existem e do uso tradicional daquela freguesia como estância de veraneio das gentes de Angra do Heroísmo.


Diz-se em certo passo que “o resultado de tais pressões urbanísticas tem sido a crescente dispersão de habitação secundária no interior das zonas de vinhas e o aparecimento de um plano destinado a “ordenar” aquele espaço.

Contudo, o referido plano, já antigo e feito numa altura em que a sensibilidade pelos problemas ambientais e o interesse pela vinha eram muito pequenos, correspondia a um simples lotear quase total da área abaixo do Caminho do Concelho.

Após protestos vários e a intervenção da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, o referido plano foi alterado pela Câmara Municipal da Praia da Vitória e reduzido o seu âmbito. Contudo, mesmo na sua versão mais recente, a sua execução corresponde ao quase certo fim da cultura da vinha em mais de metade da área regulamentada pelo Dec-Lei nº17/94. A abertura de caminhos proposta (particularmente o prolongamento da canada do Caldeiro em direcção ao mar) vai criar novas frentes de expansão urbana e abrir à especulação imobiliária novos terrenos.

Se o projecto avançar, as pressões no sentido da urbanização serão tais que muito em breve a consolidação da malha urbana a criar conduzirá a uma situação que em pouco diferirá do projecto inicial e significará o fim certo da cultura da vinha nos terrenos mais adequados para a vitivinicultura que existem na ilha Terceira.”

E o articulista conclui: “Lugar para construir casas há muito, mesmo na freguesia dos Biscoitos fora da área delimitada para a vinha, mas para produzir VLQPRD “Biscoitos” há apenas aquela pequena zona. Daí não ser de admitir a abertura de quaisquer novas vias na zona abaixo do Caminho do Concelho, devendo toda aquela zona ser transformada em área estritamente reservada ao cultivo da vinha. Sem excepções nem cedências a pressões. Senão todos perdemos algo que não poderá jamais ser recuperado”.

In Revista de Vinhos nº 58 – Setembro 1994



Outros relacionados com a paisagem vitícola dos Biscoitos:

Planta da Freguesia dos Biscoitos (ano 1830) aqui

Plantas Vasculares nas Vinhas dos Biscoitos (ano 1971) aqui.

"A vinha perde-se e a população nada ganha" (ano 1994) aqui.

"As Vinha dos Biscoitos" -Bailinho de Carnaval da Freguesia das Fontinhas. (ano 1997) aqui.

O viticultor açoriano está envelhecido (ano 1998/99) aqui

“Provedor de Justiça dá razão à Confraria” (ano 1999) aqui.

“Museologia de Interpretação da Paisagem Ecomuseu dos Biscoitos, da ilha Terceira” - por Fernando Santos Pessoa (ano de 2001) aqui.

"Carta de risco geológico da Terceira" (ano ano 2001) aqui.

"Paisagem Báquica - Memória e Identidade" - Aurora Carapinha (ano 2001) aqui.

“A Paisagem Açoriana dos Biscoitos” - por Gonçalo Ribeiro Telles (ano 2002) aqui.

"Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI"- por Rute Dias Gregório (ano 2008) aqui, aqui e aqui.


“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - por Margarida Pessoa Pires (ano 2009) aqui.


(continua)

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