(continuação do anterior)
Por: José Aurélio Dias de Almeida
Para além deste valor sentimental, esta característica paisagem reveste-se de uma importância histórico-cultural visto que representa um tipo de actividade tradicional dos Biscoitos que remonta à data de criação da própria freguesia e se interrelacionou ao longo dos anos com outras artes, tais como a cestaria e a tanoaria.
Também em termos paisagísticos esta área merece cuidados especiais, visto apresentar características únicas a nível mundial, nomeadamente em relação à forma que as "curraletas" tomam.
Todo o conjunto de condicionantes de localização (clima local, proximidade do oceano e baixa altitude), bem como de construção (características particulares do "biscoito"), levam a que, nesta área, se gerem condições climáticas, ou melhor, microclimáticas especiais e que são responsáveis pelo típico verdelho ali produzido. Por acréscimo a este facto, nada nos garante que essas condições não sejam fonte de desenvolvimento de exemplares de espécies animais ou vegetais endémicas e/ou de grande raridade.
Diz a tradição popular que "perante factos não há argumentos". O que é certo é que actualmente (e é esse o problema que nos preocupa) nem mesmo perante estes factos, que não são recentes, foi tomada a decisão, por quem de direito, a proteger nos termos da lei, a reduzida área de aproximadamente 120 ha. de inegável interesse patrimonial.
O grande perigo surge do arrasamento incontrolado destas pedras para se proceder a construções que, muitas vezes, nem respeitam alguns dos padrões mínimos de segurança.
Não estamos contra as construções. Apenas pensamos que poderiam ser realizadas em outros locais, situados a poucas dezenas de metros, evitando-se a destruição patrimonial referida.
Acreditamos com toda a nossa convicção que também em termos turísticos é muito mais profícuo a preservação de algo que é único e marcadamente nosso e que, se convenientemente divulgado, poderá ser um autêntico chamariz de turismo, tanto nacional como internacional, para a nossa ilha.
Para tal, há que complementar e organizar as hipóteses turísticas delineando programas que incluam alguns dos interesses referidos, nomeadamente os relacionados com a vitivinicultura, com o artesanato e com as manifestações festivas locais, pugnando para bem receber.
Uma questão que se relaciona directamente com o bem receber consiste na limpeza da nossa freguesia e na manutenção da mesma para que não se assistam a situações degradantes a até de perigo, nomeadamente para a saúde pública, como algumas que actualmente persistem em existir, formando autênticas lixeiras a céu aberto em algumas das nossas canadas e em caminhos, que servem, nomeadamente, de acesso às explorações agro-pecuárias.
*Mandatário Principal nos Açores da Associação Portuguesa de Jovens Enófilos (APJE)
Continua
Outros relacionados com a paisagem vitícola dos Biscoitos:
Planta da Freguesia dos Biscoitos (ano 1830) aqui
Plantas Vasculares nas Vinhas dos Biscoitos (ano 1971) aqui.
"A vinha perde-se e a população nada ganha" (ano 1994) aqui.
"Região de Biscoitos, nos Açores - Casas em vez de vinhas" - Santos Mota (ano 1994) - aqui.
"As Vinha dos Biscoitos" -Bailinho de Carnaval da Freguesia das Fontinhas. (ano 1997) aqui.
"Uma virada nos Biscoitos"(Açores)- (ano 1998) aqui.
O viticultor açoriano está envelhecido (ano 1998/99) aqui
“Provedor de Justiça dá razão à Confraria” (ano 1999) aqui.
“Museologia de Interpretação da Paisagem Ecomuseu dos Biscoitos, da ilha Terceira” - por Fernando Santos Pessoa (ano de 2001) aqui.
"Carta de risco geológico da Terceira" (ano ano 2001) aqui.
"Paisagem Báquica - Memória e Identidade" - Aurora Carapinha (ano 2001) aqui.
“A Paisagem Açoriana dos Biscoitos” - por Gonçalo Ribeiro Telles (ano 2002) aqui.
"Fadiga sensorial" (ano 2007) aqui.
"Defender curraletas!" (ano 2007) aqui.
"Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI"- por Rute Dias Gregório (ano 2008) aqui, aqui e aqui.
“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - por Margarida Pessoa Pires (ano 2009) aqui.
(continua)
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