Foto Aristides Pires- ano de 1997
Com efeito, se juntarmos aos elementos referidos a animação que a população ainda confere à actividade, temos todas as condições para anunciar um ecomuseu, e já não apenas um museu de interpretação de paisagem.
A instalação de novas curraletas continua a ser feita por processos artesanais, o que confere mais um elo de continuidade histórica à área do ecomuseu.
Ao longo do ano efectuam-se todas as práticas culturais que a vinha exige, mas a época grande é a das vindimas, que continuam a fazer-se tradicionalmente; e o que é agora mantido pela casa Agrícola Brum pode ser fomentado nos outros proprietários, se houver empenho colectivo e das autoridades: grupos de homens e mulheres vão colher as uvas, depois forma-se um cortejo com o transporte em carro de bois até ao lagar.
Aqui grupos de homens e mulheres pisam as uvas com os pés, e a festa continua.
É preciso esclarecer que o vinho licoroso que se produz no sítio dos Biscoitos é de elevada qualidade (VLQPRD) e a sua pequena produção é toda vendida sem qualquer dificuldade.
Portanto, para além do valor histórico e cultural que representa a paisagem deste sítio, existe ainda a sua valia económica que se traduz num vinho famoso e cuja produção merece, sem sombra de dúvida, continuar e ser preservada.
O Ecomuseu dos Biscoitos poderá contar, recorrendo à documentação que existe, a história da ocupação da área da freguesia dos Biscoitos desde o povoamento, a escolha da zona para a plantação das primeiras vinhas, as outras actividades económicas de que há registo, a saga das vinhas ao longo dos séculos, etc.; depois o visitante poderá seguir os percursos do sítio ou o “espaço museológico” durante os quais contará com vários pontos de interesse da listagem acima referida e outros pontos que um estudo de mais pormenor poderá vir a indicar.
Já vimos como a área de paisagem histórica está a ser continuamente delapidada, que aliás a imagem junta ilustra; sucessivas medidas preventivas publicadas pela Autarquia mais não têm sido paliativos que adiam a tomada de decisão pela protecção total e definitiva daquela paisagem, e possibilitam que se continuem a construir moradias.
Estas cortam a ligação da área de vinha com a paisagem envolvente, com a qual se constitui uma unidade de paisagem bem identificada; além disso as casas ensombram áreas de curraletas e alteram as condições microclimáticas que são o suporte da excelência dos vinhos, incluindo o licoroso (VLQPRD).
Assim, custa a compreender porque é que as Autoridades Regionais não são sensíveis ao valor do património paisagístico, económico, cultural e económico dos Biscoitos, ou que interesses poderosos estarão por trás deste continuando adiamento da decisão que um património tão valioso mercê. È fundamental que o Governo Regional, nomeadamente das suas Secretarias que se ocupam da Cultura e do Ambiente, além é claro da Agricultura, não perca mais tempo a intervir e dê provas de maturidade cultural digna de condição europeia do século XXI, instituindo ali uma Área de Paisagem Protegida.
Gostaria, por isso, de propor aqui, neste momento que uma das conclusões deste Seminário Internacional seja relativa ao Sítio dos Biscoitos, com uma recomendação ao Governo Regional dos Açores solicitando-lhe todo o empenho para a salvaguarda imediata e urgente da área histórica da vinha, não a desenquadrando da paisagem envolvente com a qual constitui uma unidade de paisagem, e impedindo novas construções de habitação; e que essas medidas possam conduzir à criação, não só de uma área protegida, como de uma instituição de carácter museológico que interprete e conserve o património ali existente.
Setúbal, 15 de Maio de 2001
* Engenheiro Silvicultor e Arquitecto Paisagista
In Verdelho- Ano VI- Nº 6- 2001
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