Litoral dos Biscoitos (Zona vitícola) em Novembro de 2007
A paisagem! Ou as admiramos, ou as repudiamos ou, ainda, nos são indiferentes porque nada nos dizem.
Aquelas que admiramos, porque são belas, despertam em nós emoções de ordem estética. A paisagem para muitos, é uma memória e uma história porque nelas nasceram e viveram. A paisagem é assim a imagem sempre presente, que representa a nossa terra e, por extensão. a figuração territorial da Pátria.
A paisagem, como valor patrimonial, é um quadro vivo onde se espelha a identidade cultural do nosso país, e por isso a sua importância é comparável à da língua que falamos e se espalhou pelo mundo.
A paisagem tem, portanto, uma ligação profunda à cultura dum povo e à sua história porque construída e sedimentada ao longo do tempo. O esforço das gerações, nessa construção, correspondia, em cada época, não só às necessidades da subsistência e do quotidiano, como também, às inquietações culturais e estéticas da sociedade.
Não é portanto, de estranhar que se encontrem raízes comuns nas paisagens do Portugal continental e do insular, por mais que hajam circunstâncias ambientais e geográficas diferentes aspectos culturais próprios de cada região.
E o que se diz para Portugal podemos afirmar para os diferentes teatros geográficos por onde passaram os portugueses. Também aí, na paisagem se sentem essas raízes e, no seu desenho, traços comuns.
As paisagens são, de facto, um valor indispensável à afirmação dos Povos e, por conseguinte, à sua identidade cultural e à própria independência política das Nações. O prestígio, a segurança do país e a sua riqueza, dependem de um desenvolvimento que respeite e valorize as paisagens tradicionais, garanta a sua sustentabilidade e delas saiba retirar, em cada época, o melhor proveito. O futuro de Portugal como estado independente, também depende da qualidade e identidade própria das nossas paisagens.
As paisagens tradicionais, como a dos "Biscoitos", têm, por um lado, um crescente valor económico, pelo simples facto de continuarem a existir, devido à qualidade de determinado produto e, por outro, um significativo valor cultural, não só pela beleza dos lugares como também pela memória que representam.
A qualidade do "vinho de Verdelho" e o seu crescente interesse turístico que a "Paisagem dos Biscoitos" poderá vir a despertar, são suficientes para a sua defesa e valorização. Os fluxos turísticos mais cultos, que são os que garantem maiores receitas, procuram paisagens belas e com história.
As paisagens tradicionais, consequência do passado, riqueza do presente e garantia do futuro têm, portanto, que ser defendidas e valorizadas. São um corpo vivo natural, transformado e gerido pelo homem a partir da natureza primitiva.
Em nome duma falsa ideia de progresso, com graves consequências para um verdadeiro e sustentável crescimento económico, as paisagens tradicionais têm vindo a ser simplificadas e destruídas por uma política que fomenta a exaustão dos recursos naturais, tendo em vista a máxima rentabilidade possível, num curto intervalo de tempo.
Às paisagens artificiais, degradadas e abandonadas corresponde um turismo de massas, que tem tido sempre graves inconvenientes para a cultura e qualidade de vida das regiões.
A "Paisagem dos Biscoitos" da ilha Terceira, ocupa solos constituídos por lavas basálticas onde a vinha prospera com facilidade, devido ao trabalho de muitas gerações, que construíram e mantiveram o admirável desenho da estrutura de muros que a compõem para defesa da agressividade do clima.
Esta paisagem de vinha, deveria ser classificada como "paisagem protegida", representativa do esforço do Homem na transformação da natureza e na criação do belo.
A "Paisagem dos Biscoitos" é um autentico " monumento nacional", indispensável ao prestígio e à afirmação cultural da Ilha Terceira que poderá contribuir, em muito, para o desenvolvimento turístico e económico dos Açores.
Gonçalo Ribeiro Telles
Professor Catedrático da Universidade de Évora, jubilado.
Antigo Ministro de Estado e da Qualidade de Vida, Agrónomo e Arquitecto Paisagista.
In Verdelho. Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos - Ilha Terceira- Açores.
Ano VII. N.º 7 - 2002
A paisagem, como valor patrimonial, é um quadro vivo onde se espelha a identidade cultural do nosso país, e por isso a sua importância é comparável à da língua que falamos e se espalhou pelo mundo.
A paisagem tem, portanto, uma ligação profunda à cultura dum povo e à sua história porque construída e sedimentada ao longo do tempo. O esforço das gerações, nessa construção, correspondia, em cada época, não só às necessidades da subsistência e do quotidiano, como também, às inquietações culturais e estéticas da sociedade.
Não é portanto, de estranhar que se encontrem raízes comuns nas paisagens do Portugal continental e do insular, por mais que hajam circunstâncias ambientais e geográficas diferentes aspectos culturais próprios de cada região.
E o que se diz para Portugal podemos afirmar para os diferentes teatros geográficos por onde passaram os portugueses. Também aí, na paisagem se sentem essas raízes e, no seu desenho, traços comuns.
As paisagens são, de facto, um valor indispensável à afirmação dos Povos e, por conseguinte, à sua identidade cultural e à própria independência política das Nações. O prestígio, a segurança do país e a sua riqueza, dependem de um desenvolvimento que respeite e valorize as paisagens tradicionais, garanta a sua sustentabilidade e delas saiba retirar, em cada época, o melhor proveito. O futuro de Portugal como estado independente, também depende da qualidade e identidade própria das nossas paisagens.
As paisagens tradicionais, como a dos "Biscoitos", têm, por um lado, um crescente valor económico, pelo simples facto de continuarem a existir, devido à qualidade de determinado produto e, por outro, um significativo valor cultural, não só pela beleza dos lugares como também pela memória que representam.
A qualidade do "vinho de Verdelho" e o seu crescente interesse turístico que a "Paisagem dos Biscoitos" poderá vir a despertar, são suficientes para a sua defesa e valorização. Os fluxos turísticos mais cultos, que são os que garantem maiores receitas, procuram paisagens belas e com história.
As paisagens tradicionais, consequência do passado, riqueza do presente e garantia do futuro têm, portanto, que ser defendidas e valorizadas. São um corpo vivo natural, transformado e gerido pelo homem a partir da natureza primitiva.
Em nome duma falsa ideia de progresso, com graves consequências para um verdadeiro e sustentável crescimento económico, as paisagens tradicionais têm vindo a ser simplificadas e destruídas por uma política que fomenta a exaustão dos recursos naturais, tendo em vista a máxima rentabilidade possível, num curto intervalo de tempo.
Às paisagens artificiais, degradadas e abandonadas corresponde um turismo de massas, que tem tido sempre graves inconvenientes para a cultura e qualidade de vida das regiões.
A "Paisagem dos Biscoitos" da ilha Terceira, ocupa solos constituídos por lavas basálticas onde a vinha prospera com facilidade, devido ao trabalho de muitas gerações, que construíram e mantiveram o admirável desenho da estrutura de muros que a compõem para defesa da agressividade do clima.
Esta paisagem de vinha, deveria ser classificada como "paisagem protegida", representativa do esforço do Homem na transformação da natureza e na criação do belo.
A "Paisagem dos Biscoitos" é um autentico " monumento nacional", indispensável ao prestígio e à afirmação cultural da Ilha Terceira que poderá contribuir, em muito, para o desenvolvimento turístico e económico dos Açores.
Gonçalo Ribeiro Telles
Professor Catedrático da Universidade de Évora, jubilado.
Antigo Ministro de Estado e da Qualidade de Vida, Agrónomo e Arquitecto Paisagista.
In Verdelho. Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos - Ilha Terceira- Açores.
Ano VII. N.º 7 - 2002
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