Continuação do "Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (1) ,
do "Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (2)
e do "Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (3)
Em finais do século XVI, tanto quanto se sabe desde a década de 60 de quinhentos, já existia a freguesia de S. Pedro dos Biscoitos com a sua paroquial, nos continuamente designados por Biscoitos de pedreanes do Canto (9). Por testamento e adendas deste último, fica expressa a sua vontade em erigir uma igreja desta invocação, abaixo da sua Capela da Nazaré (c. 1512)’’’’’’ que em finais do século XVI surge designada como Nossa Senhora do Loreto (como, aliás, se mantém). Fá-lo, entre outros, e conforme as suas próprias palavras, por virtude da nova igreja vir a ficar mais próxima das gentes. Determina-a em maior tamanho, o que também atesta o crescimento do povoado, e terá iniciado a construção da mesma ainda em sua vida porque para ela, pelo menos, havia adquirido pedra em 1554.
Data de 1559, cerca de 3 anos após a morte do 1º Canto, a escritura pela qual seu filho e o pedreiro, de nome Sebastião da Ponte, alteram o acordo da construção da igreja anteriormente realizado entre o mesmo oficial e o velho Canto. Nesse ano estavam já erguidas as paredes e iniciada a torre dos sinos. Pelo mesmo contrato, ainda podemos vislumbrar uma igreja, já distante da actual em termos de estrutura e quiçá de localização, com pelo menos dois portais, um para Sul e outro para Noroeste, 2 pias de água benta e com um espaço interior dividido em três naves, com 4 pilares de cada lado (10).
Naturalmente que esta iniciativa do 1º Canto, concretizada em definitivo pelo 2º – António Pires do Canto –, se justifica pelo crescimento do lugar. Não obstante, deve também ser entendida no quadro do senhorio e domínio que estas figuras tinham sobre o lugar e as suas gentes.
Por outro lado, o próprio patrono, S. Pedro, da reverência particular do nosso poderoso do mesmo nome, acaba acidentalmente por também rememorar o primeiro Pedro, na forma proclítica do nome – que é Pero-, aquele que foi o verdadeiro povoador quatrocentista, o já referido Pero Álvares. Sobre ele apenas pudemos inferir tratar-se de um homem do grupo popular, naturalmente da respectiva elite porque privilegiado com uma sesmaria e, por isso mesmo, detentor do capital de investimento necessário ao processo de arroteamento e exploração da terra. Não obstante, nada equiparável ao estatuto do possidente, tido pelo mais poderoso fidalgo de todas as ilhas em 1546 ( 11) e que era o dito Pero Anes do Canto.
Mas pese embora a importância nevrálgica da área pertencente à referida figura (que posteriormente se dizia cobrir mais de 2 léguas de terra 12), na composição espacial da freguesia dos Biscoitos de ontem e de hoje, todo o espaço actual deixaria de ficar coberto se não referíssemos, também, a área que ficava além da que a partir de certo tempo se chamou a Ribeira do Pamplona.
Na segunda metade do século XVII, o então Bispo de Angra e das ilhas dos Açores incorporou nos Biscoitos alguns dos fregueses dos Altares. Tal realidade acaba por incorporar neste lugar um conjunto de assentos e gentes que, na origem mais remota, eram vizinhos confrontantes com os dos Biscoitos de Pedro Anes do Canto, mas que agora na organização paroquiana lhe passam a pertencer.
9- Gaspar Frutuoso- Livro sexto das saudades da terra. Ponta Delgada: Instituo Cultural de Ponta Delgada, 1978, p. 37.
10- Rute Dias Gregório - Configurações de patrocínio religioso de um ilustre açoriano do século XVI: 0 1º provedor das armadas dos Açores. Ponta Delgada: Universidade dos Açores, 1999, p. 36 ess. Sep. de Arquipélago. História. 2ª Série, Vol. III.
11- TPAC, p. 29.
12- Rute Dias Gregório - Uma unidade de exploração..., p. 33.
Aqui
(Continua)
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