domingo, 28 de setembro de 2008

"Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (5)


* Rute Dias Gregório

Continuação do "Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (4)

A história mais remota desta nova área, ou de parte dela, que se vai juntar àquela que deu origem ao lugar, também se encontra razoavelmente documentada. Nasce da concessão de uma terra ao célebre Pedro de Barcelos, em 1490 e depois confirmada em 1495, que de qualquer modo não vingará nem se apresentará mais legítima do que a dada da mesma a João Valadão e filhos, a saber, Diogo, Margarida e Isabel, no mesmo ano de 1495. Ao tempo, a área é localizada simplesmente no limite das Quatro Ribeiras e as confrontações confirmam a vizinhança com o nosso conhecido Pero Álvares. Por outro lado, as referências definem a terra como estando em matos maninhos (13) .

É apenas em inícios dos século XVI, mais propriamente no ano de 1504, que Gonçalo Álvares Pamplona adquire pelo menos uma boa parte desta propriedade, por compra a Diogo Valadão (14). Em 1507 aqui se atestavam bardos a dividir as terras onde pastava o gado e as áreas das sementeiras, denotando uma actividade agrícola que justificava os já edificados, em 1506, granel com 50 côvados de comprimento (0,55m ou 0,66m – sistema de craveira ou comercial) 15 e uma casa de granar pastel.

Se associarmos estas infra-estruturas à produção documentada para a propriedade de Pero Anes do Canto, o tal núcleo forte dos Biscoitos iniciais e constituída principalmente por gado, trigo e pastel, perguntamo-nos então onde estava o motivo principal das actividades que nos trazem por cá hoje e amanhã. Ou seja, onde se vislumbra a vinha e o vinho destes tempos e que lugar ocupavam na vida dos homens dos Biscoitos dos primórdios?

A propriedade de Pero Anes do Canto produzia vinho desde a primeira metade do século XVI. Em 1512, arrolavam-se 5 pipas no rol do instrumental (16) e em 1564, conjuntamente com a fazenda da Ribeira da Lapa, atingia-se o rendimento de pelo menos 80 pipas (17). A atestar, muito particularmente, a iniciativa na introdução da vinha no lugar, ficaram alguns contratos perpétuos, ou aforamentos. Incidiam estes sobre parcelas que andavam entre os 15 e os 30 alqueires em semeadura e sobre áreas designadas por “biscoito”, “biscoito e terra” ou “pedaço de biscoito”.

Estes espaços percebem-se como periféricos relativamente ao centro nevrálgico da exploração, constituindo-se em áreas que exigiam um trabalho ainda mais árduo para se tornarem aptas à produção. Nas exigências do senhorio àqueles que ficavam com tais parcelas – identificámos pelo menos 16 concessionários só entre 1423 e 1542 –, contava-se a renda parciária em géneros de 1/3 da produção do vinho (18).

13 AA, XII, 270-271.
14 BPARDL. FEC:CPPAC, nº 1, fl 16.
15 Rute Dias Gregório- Terra e Fortuna..., p. 244.

16 Rute Dias Gregório - Pero Anes do Canto..., p.201.
17 Rute Dias Gregório - Uma exploração agro-pecuária terceirense... p. 48.
18 Rute Dias Gregório - Uma exploração agro-pecuária terceirense ... p. 40.
* Aqui

(continua)

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