PUBLICA LIVRO DE FRANCISCO BORBA
*Jácome de Bruges Bettencourt
Com a chancela da Chiado Editora, saiu em finais de 2017, o livro de Francisco Fernando de Borba (1949-2010) O Topo e as Fajãs do Norte na ilha de São Jorge, (209 p.). O autor, nascido em Angra do Heroísmo, foi batizado no Topo, pelo padre João Jorge Brasil, tendo passado a infância, quase até aos 10 anos, na freguesia de Santo Antão, donde eram oriundos os avós maternos. Estudou na Terceira, onde concluiu, com elevada classificação, o curso Geral de Comércio. Após a aposentação regressa à sua ilha de eleição, instalando-se numa casa que adquiriu nos Biscoitos da Vila da Calheta, recuperada com o carinho que os meios financeiros lhe proporcionaram.
Falecido no Centro de Saúde da Calheta, após doença de foro oncológico, foi cumprida a vontade própria de ser enterrado em Santo Antão, que tanto amou, e o seu caixão coberto com a bandeira com o escudo real da Casa de Bragança (e de Portugal), como bom Monárquico que sempre foi.
A nossa Amizade nasceu há mais de 50 anos, tendo-o apresentado, por carta, ao Professor Doutor Jacinto Ferreira, de saudosa memória, diretor do semanário lisboeta “O Debate”, de ideologia monárquica, que o convidou a aí colaborar. Aliás, o Francisco Borba deixou em “O Debate” interessantes escritos, como em outros órgãos de comunicação social, com destaque para o “Diário Insular”; “A União” e “Correio de São Jorge”, assim como no Boletim do Museu Etnográfico da Ilha Graciosa.
Teve o rasgo benemérito de doar o acervo da sua biblioteca e outros curiosos bens a diversas instituições públicas locais, como à Escola Básica e Secundária da Calheta, ao Museu de São Jorge e à Casa do Povo de Santo Antão. A direção desta última, recebeu como espólio o original do livro agora em apreço que conseguiu publicar, que sem dúvida, é o melhor agradecimento e homenagem que se lhe pode prestar.
Há ainda mais duas obras que aguardam publicação, cuja temática é relacionada com a história do antigo Concelho do Topo (que estava planeado sair em 2 volumes) e a freguesia de Santo Antão.
Estes trabalhos obrigaram-no a muitas horas de leituras e investigação, assim como de conversa com pessoas, a maior parte já desaparecidas, e a centenas de quilómetros percorridos, a pé, por caminhos, muitos desaparecidos, entre a vegetação agreste das encostas da ilha.
Uma das pessoas que mais se empenhou no surgimento da obra do Francisco Borba foi o seu amigo Paulo Teixeira (antigo Presidente da Junta de Freguesia de Santo Antão e Presidente da Casa do Povo local), um dos que reconheceram nele o valor que muitos lhe negaram em vida. E lembro as suas qualidades como funcionário público competentíssimo e incapaz de prejudicar quem quer que fosse. Foi responsável, anos a fio pela colocação de pessoal docente nos concursos públicos na Secretaria Regional da Educação e Cultura do Governo Regional dos Açores.
De referir os depoimentos que o livro contém, de quem conheceu bem os terrenos que pisava e com ele privou nas suas andanças como amigo, na vida militar (sargento miliciano enfermeiro, mobilizado em Angola), como funcionário administrativo, com longa carreira nos Açores, (reformado na categoria de chefe dos serviços administrativos da Escola Secundária da Lagoa – São Miguel) e até como Administrador de Posto-Região Administrativa de Angola (quadro ultramarino), sem esquecer a sua atividade política.
E, lembramos que nos bancos da Escola Industrial e Comercial de Angra do Heroísmo, que ocupou o Palacete Silveira e Paulo, o cognominaram de “O Historiador”, reconhecendo a sua apetência para a História de Portugal…
Acima de tudo era um homem de carácter.
Contou como seus amigos os dois últimos Duques de Bragança, Dom Duarte Nuno e Dom Duarte Pio, D. João Brito do Rio e seu filho Pedro da Luz Brito do Rio, Jácome de Bruges Bettencourt, José Mendonça Brasil e Ávila, arq. Álvaro Dentinho, arq. Gonçalo Ribeiro Telles, Doutor Henrique Barrilaro Ruas, Francisco Jorge Ferreira, Luis Filipe Cota Moniz, coronel Manuel Lamas de Mendonça, Augusto Ferreira da Silva (Augusto Gomes), Paulo Oliveira Teixeira, Cidália Ramada, Eduardo Guimarães e Valter Bento Ferreira, estes os mais chegados.
Aderiu ao P.P.M., logo na fundação e como tal foi candidato em eleições para a Assembleia da República, Assembleia Legislativa Regional dos Açores e Autárquicas, integrando a equipa que planeava a execução das sessões de esclarecimento ideológico. Porém, a desilusão chegaria anos depois, e como muitos, hoje, consideram que aquilo em que os partidos se converteram constitui um anacronismo corporativo e concluía, desiludido: “temos de ser militantes de Causas e não de Partidos”.
Penso que neste livro valem, por muito peso, as palavras deixadas pela sua segunda filha, Fernanda Isabel, residente em Ponta Delgada, que foi desportista federada e tal como a irmã mais velha, Ana, que vive em Londres, é enfermeira. Ela reconhece que, apesar de certas vicissitudes, alegra-se bastante por ser filha de um grande Homem, de uma pessoa de valores, com caráter suficiente para assumir posições e suas consequências. Um grande trabalhador e operacional, que não vivia de utopias, em que o saber deveria ser útil e não um delírio! Um católico convicto, que ensinou os filhos a respeitar as diferenças do outro sem nunca esquecer quem era. Detentor de uma personalidade e sabedoria excecional, e incrível força. A Fernanda Isabel termina assim: “Pediu desculpa a quem tinha de pedir…. E morreu rodeado de amigos verdadeiros e não de abutres... Quantos de nós terão a sorte de viver assim e poder morrer assim? Assim era o meu Pai…”
De facto é comovedora esta análise da Fernanda, que creio ser comungada pelos outros filhos.
Relativamente ao livro em si, lamento as gralhas de composição, por deficiente revisão da Editora, sobretudo nos textos iniciais e menos no corpo do livro, talvez por beneficiar de uma leitura do, igualmente falecido, Professor José Mendonça.
Espero que em próxima edição se corrija tal, pois esta obra é uma notável achega ou contributo para a história do ex-concelho do Topo.
Ficamos a aguardar a merecida publicação dos dois outros trabalhos que o Francisco Fernando de Borba com empenho nos legou.
Curvo-me perante a sua memória, e que Deus o tenha em Sua companhia.
Amadora, 19 de Março de 2018