Esta Freguesia, do concelho de Angra do Heroísmo, voltada a Sudoeste, foi buscar o nome á serra que lhe fica a Norte.
Segundo a tradição, nos fins do século XVI, um piedoso sacerdote, vítima duma injusta perseguição, ali se estabeleceu.
A lenda:
«Havia um velho padre, velho e santo homem, que para fugir do Mundo e dos homens, tomou o seu bordão e foi por serras e montes á procura de um ermo onde pudesse orar.
Foi-se embrenhando pelos matos, mais e mais até não ouvir outros ruídos que os do vento agitando as florestas e os do mar quebrando-se nos alcantilados rochedos.
O venerando sacerdote conseguiu o que tão arduamente desejava, por entre penas, trabalhos e provações de toda a ordem, chegou á Serreta exausto de forças, mas vigoroso de fé e de confiança. Era bem aquele lugar que Nossa senhora lhe havia indicado numa visão encantada e doce, visão que lhe enchia a alma inteira, que o alentava, que o fortalecia. Erigiu uma modesta capela, onde colocou a imagem da virgem, que sempre o acompanhou. Foi ali que orou prostrado ante a mãe de Deus durante o resto de seus dias.»
Anos depois da morte deste sacerdote que construíra a primitiva Capela, onde acorria todos os anos muito povo em romagem, a Imagem foi transferida para a paroquial das Doze Ribeiras, pelo estado de abandono em que se encontrava a Capela.
No ano de 1762- ao saber-se, por comunicado, do Conde de Oeiras, que as tropas espanholas tinham entrado em Portugal, várias “pessoas de eleição” da Ilha e oficiais de guarnição, no intuito de pôr a Terceira em estado de repelir um eventual ataque, percorreram o litoral escolhendo os locais para construir fortificações. Chegados ás Doze Ribeiras invocaram o auxílio de Nª Sª dos Milagres, obrigando-se a fazer-lhe festa solene se a Ilha não fosse atacada.
Assim sucedeu. Dois anos depois os peticionários “Escravos da Senhora” lavraram um termo firmando aquele voto, com a data de 11 de Setembro de 1764.
Dez anos mais tarde, a 13 de Setembro de 1772, na freguesia das Doze Ribeiras, lavraram um acordo pelo qual os “Escravos da Senhora” convieram na reedificação da Ermida da Serreta, obtendo desde logo na Ilha grandes donativos para a obra.
Não obstante tão excelentes propósitos, 25 anos depois, e, 1787, ainda não estava reedificada a Capela. Como por essa ocasião ameaçasse o reino o perigo da ocupação francesa, foi revalidado o voto com referência á festa, obrigando-se todos a cumprir o propósito da reedificação da pequena igreja. Voto com data de 26 de Julho de 1797.
Passado o perigo, os votos foram esquecidos. Em 1818 o general Francisco António de Araújo obedecendo ao plano geral de levantar as capelas das igrejas que ao povo competia acabar, nos lugares em que o desenvolvimento da população o exigisse, e sabendo dos votos feitos em 1762 3 1797, promoveu a construção duma igreja na Serreta por meio de donativos de alguns devotos e do Estado, chegando a obter o levantamento das paredes.
As perturbações politicas, da época, obstaram á conclusão da obra.
Em 1848, o conselheiro
José Silvestre Ribeiro, governador civil do distrito de Angra do Heroísmo, conseguiu levar a efeito a construção da igreja coadjuvado pelos Srs. Visconde de Bruges e Vital de Bettencourt Vasconcellos e Lemos, que por escritura de 30 de Agosto de 1842 fez doação de 4#000 reis anuais para património da nova Igreja, e outros cavalheiros angrenses.
A 10 de Setembro do mesmo ano realizava-se a trasladação da Imagem de N.ª S.ª dos Milagres para a sua nova Capela, sendo criada ali um curato, até que por decreto de 16 de Outubro de 1861 e provisão do bispo D. Frei Estevam, de 24 de Setembro do mesmo ano, foi criada a Paróquia e Freguesia denominada de Nossa Senhora dos Milagres, que principiou a funcionar em 1 de Janeiro de 1862.
Fonte: recorte de jornal