sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"Remomerando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (3)

* Rute Dias Gregório

Continuação do "Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (1)
e do
"Rememorando as origens dos Biscoitos nos séculos XV e XVI" (2)

Pese embora o afirmado, em 1511 ainda ficava registado que ali não existiam outras casas nem povoado, senão os de Pero Anes do Canto, pelo que os níveis da ocupação se limitariam aos contingentes daquela unidade de exploração agro-pecuária em formação: a designada herdade do Porto da Cruz.

Pelos anos de 1505, 1506 e 1507, o movimento das gentes atesta-se pela acção de aproveitamento que o proprietário incumbiu a seus homens, nas terras e nas zonas de biscoito. Em 1512, a herdade estava no seu todo arrendada a Jorge Marques e Afonso Anes e são estes rendeiros que passam a ter a seu cargo a árdua tarefa, e obrigação para com o senhorio, de conduzir o roçar e o desbravar da terra. Em simultâneo, sementeiras, novidades, ervagem e pães ressaltam nos documentos, atestando-se a produção e o aproveitamento de então.

Por outro lado, a tais homens das primícias, europeus de origem – alguns cujos nomes se perderam –, juntavam-se ainda, e pelo menos, os de Inês, Vasco, Diogo, Gonçalo e Pero, escravos do primeiro Canto. Todos eles, em conjunto, e até pelo menos 1515, constituem os verdadeiros pioneiros da humanização deste nosso espaço.

É apenas a 23 de Fevereiro de 1523 que, nas fontes escritas coevas, fica registada a existência de uma pouoraçom dos byscoytos do porto da cruz que he de pero anes do quamto”. Mantém-se aqui a toponímia afirmada por volta de 1505 – Porto da Cruz –, manifesta-se a pertença do espaço e povoado a Pero Anes do Canto, mas emerge pela primeira vez a existência de uma povoação – e não de um simples loguo – que agora também é dita “dos biscoitos”.

Estavam, pois, lançados os elementos da toponímia actual. Aliás, ainda na primeira metade do século XIX, Francisco Ferreira Drummond continuava a designar a freguesia com o nome que emergira na década de 20 do século XVI e que era o de Biscoitos do Porto da Cruz (6) .

Entretanto, o povoado tomou ainda outras designações, como o “lugar de São Pedro, chamado os Biscoutos” na segunda metade do século XVIII (7), ou a povoação do orago de S. Pedro, como também no século XIX podia ser denominada (8). Do mesmo modo, esta designação se remete para o primeiro Canto das ilhas e tem raízes muito anteriores aos séculos XVIII e XIX.

6- Autor citado- Apontamentos topográficos, políticos, civis e eclesiásticos para a história das nove ilhas dos Açores servindo de suplemento aos Anais da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo: Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1990, p. 131.
7- Padre António Cordeiro- História insulana das ilhas a Portugal sujeitas no oceano ocidental. Lisboa: Typ. Do Panorama. 1866.
8- Ver nota 6 (Drumond).


* Aqui


(Continua)

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