📷 Foto Gabriel
Uma delegação presidida pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Cooperação e Integração Regional de Cabo Verde, Rui Figueiredo Soares, que se fez acompanhar do Embaixador de Cabo Verde em Portugal Eurico Correia Monteiro, da Diretora-Geral dos Assuntos Consulares e Migrações de Cabo Verde, Embaixadora Edna Monteiro Marta e do responsável pelo Serviço de Relações Públicas e Protocolo da Embaixada em Lisboa, João Silva, deslocou-se expressamente a Angra do Heroísmo para condecorar o Cônsul Honorário da República de Cabo Verde nos Açores Jácome de Bruges Bettencourt.
O Governo de Cabo Verde aprovou a atribuição da medalha de Serviços Distintos a este açoriano, segundo despacho de 8 de fevereiro último, do gabinete do Primeiro Ministro, sob proposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros Rui Soares “pela dedicação e empenho que colocou ao serviço de Cabo Verde ao longo dos mais de 25 anos como Cônsul desse País. No despacho, é referido que Jácome de Bruges “assumiu na plenitude as suas funções desde que o Estado de Cabo Verde decidiu abrir uma representação consular na Região Autónoma dos Açores, tornando-se uma figura popular no seio da comunidade cabo-verdiana residente nos Açores.” “Com efeito destacou-se sobretudo pelo apoio que prestou à nossa comunidade, impulsionando vivamente a sua integração. Cultivou a ligação dos cabo-verdianos ao país de origem e visitou várias vezes as ilhas de Cabo-Verde para melhor conhecer o povo e a sua cultura” e dá relevo a algumas passagens como“. São notórios os contributos de Jácome de Bruges na vida social, cultural e desportiva dos cabo-verdianos nos Açores. Foi um ator ativo no recenseamento eleitoral dos cabo-verdianos e grande promotor da regularização da comunidade naquele arquipélago. Refere ainda “Jácome de Bruges, enquanto cônsul honorário, prestou um serviço extraordinário na integração dos cabo-verdianos nos Açores e no reforço das relações entre Cabo-Verde e Açores”.
Aliás, durante o desempenho das suas funções já merecera homenagens públicas, como em novembro de 2016 pela Associação dos Imigrantes nos Açores.
Durante a cerimónia, que diga-se teve um brilho excecional, usaram da palavra o poeta António Neves, com um testemunho cabo-verdiano e Jorge Bruno com testemunho de outro utente consular e amigo de há muitos anos, ambos felizes e ricos nos dotes oratórios bem como, o Embaixador Eurico Monteiro e o Ministro Rui Soares que puseram em evidência o trabalho realizado pelo homenageado, não fossem eles, como demonstraram, conhecedores do seu currículo e a finalizar o ato da imposição da condecoração pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Jácome de Bruges Bettencourt, agradeceu comovido com palavras simples e sinceras, fazendo um breve historial das relações que vem existindo entre açorianos e cabo-verdianos, sobretudo desde os tempos da baleação nas barcas americanas, até hoje. É de recordar que alguns açorianos da baleação, na centúria de mil e oitocentos, que foram tripulantes de barcas dos E.U.A., companheiros de viagem de cabo-verdianos, acabaram por se fixar em ilhas como São Vicente, Santo Antão, Fogo e Brava, deixando aí descendência, como o caso do trisavô nascido na Praia da Graciosa (Açores), do antigo embaixador de Cabo Verde no Brasil, Daniel Augusto Pereira, considerado pela sua obra um dos mais notáveis historiadores do País. Evidentemente que recordou figuras cabo-verdianas como Manuel Lopes (1907-1989), do Movimento Cultural “Claridade” que viveu quase 11 anos, entre 1944/1955, no Faial, onde escreveu parte de alguns dos seus livros e colaborou em jornais açorianos (até deu a provar aí o grogue), Eduardo Augusto de Castro (1920-2001), protésico-dentista com notoriedade, na Praia da Vitória, chegado à Terceira como clandestino num navio grego, em 1951. Henrique Sena Ben-David (1926-1978), futebolista, arribado a S. Miguel para treinar o Santa Clara em 1957 e a cantora Justina Silva, Dona DjutaBen-David (1929-2015) que podia ombrear em mornas com Cesária Évora, Mário Herberto de Almeida Fonseca (1942-1998), aportado à Terceira em 1962, como enfermeiro militar do Hospital da Terra-Chã e que em 1972 passou a profissional competentíssimo no Centro de Saúde da Praia da Vitória sendo homenageado postumamente pelo Município. Outro nome será o de Inês Pereira Furtado – Dona Néné que chega à Terceira em 1980, no pós sismo, com mais 226 cabo-verdianos que vieram reconstruir o parque habitacional terceirense, contratados pelo empreiteiro Emídio Soares. Hoje é empresária, tendo desenvolvido várias campanhas de solidariedade para o envio de contentores para Cabo Verde destinados ao apoio de necessitados com vários artigos além de roupas, em ações de louvar. D. Néné é mãe do célebre Eliseu Santos.
Sabemos paralelamente que, Jácome de Bruges Bettencourt no dia da homenagem, à hora do almoço recebeu um telefonema do Presidente da República de Cabo Verde, pelo telemóvel do Ministro Rui Soares, que o passou ao Cônsul, em que José Maria Pereira Neves se associa a esse ato com um grande abraço. Na mesma ocasião é-lhe enviada uma mensagem via e-mail do Representante da República para a Região Autónoma dos Açores, embaixador Pedro Catarino, na altura ausente em Lisboa, em que refere que ao ter conhecimento que o Cônsul Honorário de Cabo Verde está em vias de cessar funções, não podia deixar de o felicitar vivamente pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo de 25 anos junto da Comunidade Cabo-Verdiana, contribuindo e impulsionando a sua integração na Região Autónoma dos Açores. Considera o seu trabalho de apoio aos cidadãos de Cabo Verde digno dos maiores encómios, pelo que é de inteira justiça a sua condecoração com a Medalha de Serviços Distintos com que foi agraciado pelo Governo de Cabo Verde. Recebeu mais de vinte mensagens de amigos de há imensos anos, vindas do Continente, E.U.A. e Canadá, cujos textos deixam aperceber o quanto foi apreciada a sua ação, como o manifestado por exemplo numa felicitação do Coronel, Manuel Lamas de Mendonça “tudo isso vem apenas comprovar as tuas qualidades de autêntico diplomata. Espírito de Serviço que usaste durante toda a tua vida pública, e no relacionamento interpessoal, em prol da nossa Pátria, em todas as circunstâncias, mantendo a isenção, independência e capacidade conciliatória que apenas um homem com o teu curriculum, e características pessoais, poderia manter. Como seguramente terás presente, o teu exemplo, e os reconhecimentos públicos que foste granjeando, derramam-se tangencialmente sobre toda uma geração de Açorianos que tiveram ensejo de cumprir o melhor que souberam e puderam, serviço à Região Autónoma dos Açores”. Outra mensagem demonstrativa do quanto a sua figura é querida e estimada por todos aqueles com quem trabalhou ao longo de tantos anos, foi a deixada por Leoter Viegas, Vice-Presidente da Associação dos Imigrantes nos Açores e as suas funcionárias, que há tantos anos têm um acordo de cooperação com o Consulado.
Maria João Afonso Galvão Teles, enviou o texto que foi lido no início da cerimónia, vindo de Cascais: “A muitos quilómetros de distância e com muita pena de não poder estar presente, não quero deixar de me associar à justíssima homenagem que a República de Cabo Verde lhe presta hoje. É uma honra para os Terceirenses e Açorianos em geral, ter um filho da terra que se soube distinguir em profícuo trabalho em prol de quem escolheu os Açores como terra de adoção. Bem-haja pela sua meritória ação ao longo de tantos anos”.
Brevemente tomará posse o novo Cônsul Honorário de Cabo Verde nos Açores, em cerimónia presidida pelo Embaixador Eurico Monteiro, provavelmente em finais de abril próximo.
G. Soares
Angra, 14 fevereiro de 2022
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