sábado, 7 de abril de 2018

Gonçalo Ribeiro Telles

Continua a marcar, profundamente o nosso País

· Jácome de Bruges Bettencourt



O Professor Arquiteto Gonçalo Pereira Ribeiro Telles (G.R.T.), nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1922, filho do Dr. Joaquim Ribeiro Telles Júnior, médico veterinário e oficial do exército, e de D. Gertrudes Guilhermina Gonçalves Pereira Ribeiro Telles (sobrinha de Joaquim Cardoso Gonçalves). A família paterna é ribatejana, de Coruche, aí tendo casa e propriedades, onde se dedicam, há séculos, à lavoura, como criadores de gado, sempre com grande fascínio pela trilogia cão (galgos)-cavalo-toiro, tal como a maior parte dos seus familiares, com destaque para o cavaleiro tauromáquico Mestre David Ribeiro Telles, filhos e netos. Casou em 1953 com D. Maria da Conceição de Calazans de Sousa, de quem teve cinco filhos.

G.R.T. militou na Juventude Agrária e Rural Católica (J.A.C.), do padre Diamantino Gomes, e trabalhou em ligação com a Juventude Operária Católica (J.O.C.), do padre Abel Varzim, envolvendo-se assim, sempre, em atividades cívicas, uma constante na sua longa vida. Cumpriu serviço militar em Vendas Novas (artilharia) – 1943.

Foi membro fundador do Centro Nacional de Cultura – 1945 (sócio n.º 1). Engenheiro agrónomo e arquiteto paisagista (I.S.A.) – 1950.

Em 1957, fundou o Movimento dos Monárquicos Independentes, com Francisco de Sousa Tavares, ao que se seguiu o Movimento dos Monárquicos Populares, de oposição ao Estado Novo. Candidato à Assembleia Nacional pelos Monárquicos Independentes – 1957 e 1961 e para as eleições à Assembleia Nacional de 1969, integra a Comissão Eleitoral Monárquica, na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (C.E.U.D.). Em 1971, funda a Convergência Monárquica, que reunia os militantes dos vários grupos de monárquicos existentes, contando logo com a aderência nos Açores, de Jácome de Bruges Bettencourt (J.B.B.), que ele conhecia bem, desde 1964, dos tempos em que este açoriano fora vice-presidente da Junta Escolar Liceal de Lisboa da Comissão de Juventude da Causa Monárquica, que contava então jovens dinâmicos, como António Pardete da Fonseca e João Fernando de Mattos e Silva de Almeida (já falecidos), e no seu Boletim “A Folha”, apareciam artigos algo contundentes, como os de Miguel Serras Pereira. Lembro que nessa altura, aos sábados à tarde, eram convidados para participar com alocuções, nas instalações da Causa, conhecidas figuras monárquicas de relevo, como o capitão Júlio da Costa Pinto, Pedro Homem de Melo, Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares, Fernando Amado, Henrique Barrilaro Ruas, Jacinto Ferreira, Álvaro Dentinho, João Camossa de Saldanha e Gastão da Cunha Ferreira entre outros nomes menos sonantes. Foi um período de excecional atividade, o que incomodava, sobremaneira a PIDE/DGS e fez redobrar a sua vigilância, com a colocação de um vendedor de gravatas (disfarçado), à porta do n.º 46 do Largo de Camões…

Após o 25 de abril foi cofundador do Partido Popular Monárquico – 1974-1993, de cuja ação política resultou a sua participação como Subsecretário de Estado do Ambiente, nos I e II Governos Provisórios (de Adelino Palma Carlos e Vasco Gonçalves), em que visitou a Terceira, nessa qualidade, sendo recebido e acompanhado por J.B.B., que exercia em regime de substituição as funções de Presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo) e como Secretário de Estado do Ambiente, nos III, IV e VI Governos Provisórios e mais tarde Ministro de Estado e Ministro da Qualidade de Vida no VIII Governo Constitucional, AD de Francisco Pinto Balsemão – 1981-1983. Deputado pelo P.P.M. – 1979 e independente pelo P.S. – 1985. Integra a AD com Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, os três liderando os respetivos partidos 1979-1983. Vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Movimento Alfacinha – 1984. Cofundador do M.P.T. – Movimento Partido da Terra – 1993-2007.

Como o mais reputado e conhecido arquiteto paisagista português, bem como corajoso ecologista defendeu, como ninguém o fizera até aqui, o ambiente e ordenamento do território, a humanização do habitat, a conservação da natureza e a preservação da paisagem. Luta que desenvolveu ao longo de décadas de atividade profissional e sobretudo no empenho por causas, representando a sua obra um incontornável legado de experiência e sabedoria.

A sua obra, no âmbito de planos do ordenamento do território e da paisagem, de projetos de espaços verdes públicos e privados e das referências escritas, é vastíssima. Criou as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as Bases do Plano Diretor Municipal. Não era maleável em termos políticos.

Helena Roseta, sobre catástrofe ocorrida, recorda que G.R.T. foi … “uma das poucas vozes que me recordo de ter ouvido, que com grande destemor punha o dedo na ferida: a tragédia tinha causas naturais, por certo. Não se podia ignorar a degradação física e biológica da região, por motivos que são da inteira responsabilidade do homem.”.

A Fotobiografia, publicada pela Argumentum – 2011, insere depoimentos a atestar o mérito que todos lhe reconhecem, aí deixados por Emílio Rui Vilar, Alexandre Cancela d’Abreu, António Ramalho Eanes, Ário de Azevedo, Aurora Carapinha, Diogo Freitas de Amaral, Dom Duarte de Bragança, Francisco Pinto Balsemão, Jorge Paiva, Manuela Raposo de Magalhães, Mário Soares, Guilherme d’Oliveira Martins, Fernando Santos Pessoa e Margarida Cancela d’Abreu.

Foi aluno dileto do Professor Francisco Caldeira Cabral no I.S.A., uma das mais notáveis personalidades do meio académico português do século XX que o haveria de influenciar notoriamente pela vida fora. Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora – 1994 e

Professor Emérito da mesma Universidade – 2008, onde foi Professor Catedrático entre 1976 e 1992, tendo aí fundado o Curso de Planeamento Biofísico – 1975 que é transformado em Licenciatura em Arquitetura Paisagística – 1981. Membro Honorário da Ordem dos Arquitetos – 2002.

Recebeu vários prémios, com realce para o Prémio Valmor – 1975, com o colega António Viana Barreto. Projeto dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, apresentado em 1967, que constituiu a melhor e bem conseguida obra de arte paisagista do século XX. Prémio da Latinidade. Troféu Latino “João Neves da Fontoura” – 2010. Prémio máximo e honroso IFLA Sir Geoffrey Jellicoe – 2013.

Recebeu inúmeras veneras com destaque para: Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada – 1969, Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo – 1988. Grã-Cruz da Ordem da Liberdade – 1990, Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Comendador da Ordem da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa – 2001, Cavaleiro da Ordem de Mérito da República Italiana – 2011, Ordem da Bandeira com Rubis da República Popular da Hungria, Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique – 2017, Medalha de Mérito Municipal de Lisboa (grau ouro – 2013), entre outras. Foi investido como Confrade Honorário em várias Confrarias Báquicas e Gastronómicas de Portugal, como na Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, cujo grau de Mérito, respetiva insígnia e diploma, lhe foi entregue pelo então Grão-Mestre Jácome de Bruges Bettencourt – 2007, que contemplou simultaneamente S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança, José Meneres Pimentel e Casa Agrícola Brum Lda., cuja cerimónia decorreu na Igreja da Lapa, seguida de um almoço na Casa dos Açores, à Rua dos Navegantes, na Lapa, Lisboa.

G.R.T., além da já aludida visita de 1975, deslocou-se aos Açores pelo P.P.M. em 1979 e 1984, partido que apresentou candidaturas à Assembleia da República, Assembleia Legislativa Regional dos Açores e Autárquicas. Com a saída de G.R.T. em 1993, a maior parte dos militantes nos Açores acompanharam-no. No entanto, visitou a Região Autónoma dos Açores, e mormente a Terceira, mais algumas vezes, ora a convite da C.V.V. dos Biscoitos, para palestras, em defesa das especificidades relativas à conservação da natureza e preservação da paisagem local, bem assim a convite do Presidente do Município da Praia da Vitória, Carlos Lima – 1991, para o lançamento do livro de Francisco Ernesto de Oliveira Martins “Arquitectura Popular do Ramo Grande” (1991) e dissertar sobre o Património Imóvel do Ramo Grande- Concelho da Praia da Vitória, Ilha Terceira.

Sempre fiel às suas convicções nunca deixou de lutar pela reinstauração duma Chefia de Estado Real para o seu muito amado Portugal.

G.R.T. é monárquico porque: “Por este caráter perene, a Monarquia assume a história na sua inteireza, ultrapassando os estreitos limites de um mandato eleitoral. […] É uma instituição que se insere no ciclo da própria natureza humana: o reinado termina na morte do rei, mas perpetua-se e renova-se pelo nascimento do herdeiro (ou herdeira). Assim, a instituição monárquica consegue representar de modo muito natural e espontâneo a história, a cultura, os anseios e as inquietações das pessoas e das sociedades que serve. De igual modo, a Monarquia reflete o sentir de cada época, sofrendo, inclusivo no seu intimo, as fraturas que as crises de pensamento provocam nas sociedades em período de mudança. Nesse sentido, a Monarquia é intrinsecamente contemporânea. Por isso, não é legitimo projetar nos tempos de hoje as formas que a Monarquia assumiu no passado, nem transpor para um dado país o estilo de funcionamento de uma Monarquia inserida numa sociedade culturalmente distinta.”.

Sem dúvida um Grande Homem, com um extraordinário exemplo de vida.



Amadora, 2 de Abril de 2018

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