terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ciclo do Touro (5)

Festa Brava

Alto das Covas 

“Embora comum a todos lugares desta Ilha, a festa brava em S. Pedro assume e ganha expressão única entre nós.
O arraial da toirada à corda, já clássico em S. Carlos no expirar do século XIX, bem ilustra quão viva a tradição se preserva.
-O maior «número» exterior do calendário festivo no dia de S. João, nesta Angra, Ribatejo dos Açores, sem igual no género, vivo se desenha na zona oeste da cidade.
A rua Sidónio Pais (Rua de S. Pedro), extensa e graciosa, credita-se de um poema, graças ao empenho e capricho dos seus moradores. Em alindarem varandas e janelas, transformadas em cachos humanos, com mantas de tear, vistosas nos seus arabescos coloridos, magia de artesanato feminino terceirense, válida dimensão regionalista. A airosa artéria oferece moldura garrida, exuberante de entusiasmo de desusada afluência popular, na sua maior expressão de sempre. E o mosaico de mil tons, orgia policromada, guarnece ainda o Alto das Covas e a Madre de Deus, inclusive por detrás da Escola Infante Dom Henrique.
  
O verde, o amarelo, o azul, o vermelho, o rosa, o escarlate pincelam a panorâmica maravilhosa, como se fosse imenso bouquet. Regalam-se os olhos, extasiam-se os sentidos.

Já antes do almoço, costuma a rua de S. Pedro franquear-se sugestiva, matizada, jubilosa, em auspicioso da tela empolgante que se avizinha, festa do povo por excelência, a afirmar a aficion da nossa gente pela diversão dos toiros. Feição peculiar. Quantos balcões improvisados, em madeira, sobre os ladrilhos, igual se observando com “caminhetas” apinhadas de forasteiros. Todos os lugares servem, até os mais inverosímeis, mesmo ao alcance dos bichos para gozar o espectáculo. Nos degraus de acesso aos prédios, nos terraços.

Desponta o sol, que se não escusa a engrinaldar os festejos, agora a pino, dardeja faiscante revérberos. Visão soberba, própria de cinemascópio, de pastel ilustrado. Cenário estuante e buliçoso, de castiço e tradicional ambiente, a superar o de Vila Franca, com laivos de Pamplona, mas sem igual no seu todo. A aficion terceirense concretiza-se nestes festivais galvanizantes.

Quantos milhares? Vinte mil? Quem os pode contar? E quando “suas majestades no mato” rua a cima, ou rua abaixo, na plenitude da sua fase emotiva, dominam e reinam o burburinho, a algazarra, a gritaria, a graça, as correrias, o movimento. O povo, no auge da excitação, a maioria olvidando os risos, minimizando o perigo, num desfio ao bicho, incitando-o, provocando-o, repta-o – é toiro! É toiro! – num alarde varonil, em ar de geral gáudio, folia e alarido, reminiscências vivas e ardorosas da valentia ancestral.

Desde quando esta modalidade taurina em Angra? Em 1937 lhe encontramos noticia, que julgamos ser a primeira, com a particularidade de nesse ano haver desfile de marialvas."

In Pedro de Merelim – As 18 Paróquias de Angra – Sumário histórico – 1974

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