quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Francisco de Borba ( 1949 – 2010 )

Francisco de Borba caricaturado por Orlando Baptista

Francisco Fernando de Borba nasceu há 61 anos, a 22 de Janeiro de 1949 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Angra do Heroísmo. Foi baptizado no Topo pelo Padre João Jorge Brasil e viveu a sua infância em Santo Antão (S. Jorge). Estudou em Angra, concluindo o curso da Escola Comercial com boa classificação. Era “um barra” em História, daqueles alunos de 20, o que lhe valeu ficar cognominado de “Historiador”.
Padecendo de doença do foro oncológico acabou por falecer no passado dia 15 de Julho em S. Jorge, terra que muito amava e que fora berço de seus antepassados maternos. Não morreu em Santo Antão como gostaria, mas no Centro de Saúde da Calheta. Porém, foi a enterrar como destinou em Santo Antão. O caixão esteve coberto pela bandeira nacional branca com o escudo real da Casa de Bragança. Era simpatizante da facção Miguelista.
Foi um monárquico convicto, causa que sempre defendeu e fez dele figura respeitada por todos, mesmo pelos adversários.
Conheci o Francisco de Borba já lá vão 45 anos. Sabendo me monárquico, veio falar comigo em plena rua da Sé. Disse-me, então, que era leitor dos meus escritos no semanário lisboeta “O Debate”, onde aliás veio, também, a colaborar, assim como no “Diário Insular” e “A União”, ambos angrenses.
Lamento que essa Amizade fosse abruptamente interrompida assim, quando ia a caminho do meio século.
Porém, muitas recordações boas ficarão na memória daqueles que com ele privaram, não esquecendo percursos políticos como as candidaturas em eleições para as Assembleias da República e Legislativa Regional dos Açores, bem assim Autárquicas.
Ele foi sempre um Homem recto, por vezes de ideias fixas, porém defendendo com “unhas e dentes” aquilo em que acreditava e tomava a sua defesa a peito.
Lembro alguns momentos maus da sua vida, como por exemplo quando acabou o seu curso e queria concorrer para um lugar de administrativo do quadro do Governo Civil de Angra e foi ter com um parente que era sub-gerente de uma agência bancária, mais tarde promovido ao lugar cimeiro, para que este lhe emprestasse 100 escudos para a papelada, o que este recusou. Socorreu-o João Brito do Rio, correligionário nos ideais e pessoa bem formada. Religiosa e escrupulosamente quando recebeu o seu primeiro ordenado logo se dirigiu à Madre de Deus para honrar tal compromisso. Devo dizer que ele nunca esqueceu isso, ao ponto dessa Amizade se ter prolongado até à morte no filho Pedro Brito do Rio. Menciono, igualmente, o facto de quando soube da morte de João Brito do Rio, pois estava comigo, logo foi comprar uma gravata preta para o luto.
Cumpriu serviço militar em Angola, como furriel miliciano enfermeiro, merecendo ser reconhecido pelo empenho no bem-estar daqueles que o procuravam, muitas vezes mais à espera duma palavra amiga, de solidariedade, do que de “mesinhas”, pois há certas dores que custam a passar…
Seguidamente, ingressou no Quadro Administrativo Ultramarino, escolhendo Angola para seu primeiro posto, uma vez que conhecia bem o território e tivera bom relacionamento com o seu Povo. Ia para ficar, mas foi o que se viu…
Regressa, ainda por cima, com o rótulo estigmático de “retornado”. Ele que sempre fora um Bom Português, sentiu-se olhado de forma esquisita.
Acabou por ingressar no Quadro da, então, Secretaria Regional da Educação e Cultura, onde se reforma com a categoria de Chefe de Serviços Administrativos da Escola Secundária da Lagoa. S. Miguel.
O seu apego ao Continente Africano foi uma constante, mesmo já na reforma, o que o fez deslocar-se a São Tomé e Príncipe por duas vezes, e se não fosse atingido pela doença que o vitimou, talvez aí estivesse.
Foi Amigo e Grande Defensor da Etnia Cigana em Portugal e seus valores culturais, deixando alguns escritos sobre a temática.
Mereceu a admiração e respeito de Suas Altezas Reais, D. Duarte Nuno e D. Maria Francisca, bem como de seus filhos, que o chegaram a receber em sua Casa.
Contava episódios divertidos passados durante a sua recheada vida de funcionário público e cidadão prestante nas Comunidades onde se inseriu e que sempre soube servir sem esperar veneras.
Integrou, em tempos uma Tertúlia que tinha assento na Portugália, cervejaria do Sr. Adelino Augusto, na esquina das ruas do Galo com a do Santo Espírito. Inicialmente esta contava com o Sr. Luciano Freitas (antigo gerente da Fábrica de Conservas Virgílio Lory), José Orlando Bretão e o signatário (até se ausentar para o Continente). Mais tarde, apareceram J.H. Santos Barros, José Daniel Macide, Rui Rodrigues, Sérgio Alves, Renato Costa e Silva, Carlos Medeiros, entre outros.
Ria-se maliciosamente daqueles que se “borravam” de medo disto e daquilo, como de certas passagens da sua Vida, como aquela história que contava dum antigo graduado a Mocidade Portuguesa (que muitos de nós chamávamos de “Bufa”). O Francisco fez parte da Mocidade Portuguesa como centenas de milhares de portugueses e foi graduado, mas nunca teve vergonha disso.
Como era costume, mesmo depois de deixarem esta instituição, continuaram a festejar o 1.º de Dezembro, no caso dele, por motivos de patriotismo mais fortes. Porém, grande parte fazia-o para agradar aos Poderes que diziam “legalmente constituídos”.
Ora aconteceu que no 1.º de Dezembro, não me recordo se 1974 ou 75, para o habitual Jantar do Hotel de Angra, uma mão só dava e sobrava para contar aqueles que compareceram.
Ficou admirado, mas lá esteve. Porém, no dia seguinte, na rua da Sé, eis que encontrou um dos mais destacados “patriotas” da Mocidade Portuguesa e logo “disparou”: “- Então não quiseste aparecer ontem?” Ao que muito “enfiado” teve como resposta: “ – Ora essa! Isso é assunto encerrado na minha vida, e escusas de voltar sequer a referir tal. Aliás, agora sou filiado num partido do espectro democrático.” Ao que o Borba, com aquele arzinho trocista que lhe conhecemos, logo retorquiu : “Sim, sempre foste um “cagão arranjista”.“ E tinha razão.
Francisco Fernando de Borba foi co-Fundador da Real Associação da Ilha Terceira.
Foi casado com uma senhora angolana, Maria Fernanda Lopes, de quem teve quatro filhos, um deles infelizmente falecido em criança de atropelamento. As duas filhas licenciaram-se em enfermagem, estando a mais velha a trabalhar em Inglaterra.
Francisco Fernando de Borba nunca foi um subserviente pobre de espírito conformado.

Praia da Vitória, Agosto de 1983. Dom Duarte de Bragança e Irmãos Infantes Dom Miguel e Dom Henrique com Jácome de Bruges Bettencourt, Francisco de Borba, Francisco Jorge Ferreira e José Alpoim de Bruges.
Fotografia: Foto Íris.

J.B.B.

Sem comentários: