quarta-feira, 7 de maio de 2008

O custo do transporte dos vinhos

Os meios de transporte: circulação e a cabotagem

Os transportes marítimos entre o continente e as ilhas, e estas e o continente eram asseguradas, sobretudo, pela Empresa Insulana de Navegação, que nos anos cinquenta tinha ao seu serviço os navios "Lima" e "Carvalho Araújo", que vieram substituir o "Funchal"(antigo) e o "S.Miguel" (mistos de passageiros e carga) e o "Terceirense" (cargueiro).

O "Carvalho Araújo" da Empresa Insulana de Navegação"
Foto da colecção de J.B.B.
O "Lima" da Empresa Insulana de Navegação entrando no porto de Ponta Delgada
Foto da Colecção de J.B.B.

A circulação entre ilhas esteve a cargo dos chamados "iates do Pico". Essas embarcações não excediam as 30 toneladas e viajavam especialmente entre as ilhas dos grupos central e ocidental ou entre o grupo oriental. Deslocavam-se inicialmente com alguma regularidade ao grupo oriental, sobretudo a Ponta Delgada, viagens essas interrompidas em finais da década de 50, com o aparecimento dos N/M "Arnel", "Cedros"e depois ""Ponta Delgada".

Os "iates" prestavam relevantes serviços nessa época, pelo que perduram na memória dos açorianos que viveram ao tempo. Lembramos os mais antigos, como a chalupa"Helena", da responsabilidade de mestre José Morgado, ou o "Andorinha", com mestre José Gaspar ao leme.

Mas, concretamente em 1953/54 estavam ao serviço o "Ribeirense", de mestre João Alves, o "Santo Amaro", onde pontuaram os mestres Teixeira, Alvernaz, Agostinho, Manuel Leonardo e Daniel Costa. Estas embarcações do Pico, e o "Terra Alta", duma empresa com capitais do Faial e Pico, que teve entre vários mestres Vieira, Eduardo, e Humberto. Da Graciosa havia a "Maria Eugénia"(único a navegar em 1999, agora agora no grupo oriental, creio que pertencente à "Corretora" e que foi comprada pelo mestre Manuel Anhanha), o "Espírito santo" (uma série com o mesmo nome), contou mestres como Manuel Joaquim, Manuel Leonardo e Daniel Costa Berló, e o "Fernão de Magalhães" (antigo), os dois derradeiros pertencentes a uma sociedade com século e meio de actividade, que começou a cabotar com o "Livramento" e o "S. João".

Na travessia do canal Pico-Faial operavam no transporte de vasilhame (vinhos e aguardentes), frutas, lenhas e carga geral os chamados "barcos do Pico".
No porto da Madalena havia o "Adamastor" e o "Rival", no da Areia Larga o "Picaroto" e o "Manuel José" e ainda, os "barcos do Calhau": "Santo António do Monte" e "Caridade".

O custo destes transportes era variável:
Graciosa para Angra do Heroísmo ou vice -versa:

80$00 por pipa
45$00 por meia pipa
10$00 por barril

Pico-Horta ou vice-versa

30$00 por pipa

Movimento de cargas, em "dia de vapor", no cais da cidade de Angra do Heroísmo
Foto da Colecção de J.B.B.

O iate "Ribeirense" acostado ao molhe da doca de Ponta Delgada em
operação de carregamento
-As obras da doca foram inauguradas em 30 de Setembro de 1861.
Foto Colecção: F. E. O. M.

Referem -se os custos de Cabotagem(1) para vinhos e vinagres, aos quais se deve acrescentar o custo do transporte em lanchas nos portos onde não existe cais acostável, como acontecia em Angra do Heroísmo, onde os preços respectivos eram:

Casco......................15$60
Pipa........................12$50
Meia - Pipa..............6$00
Barril......................1$50 a 3$00
Caixas 30- 40 Kg.......2$00
Caixas 9-15 Kg ..........1$00
Garrafões 5 -10 litro....1$50

(1) Cabotagem-envolve todas as modalidades de transporte não compreendidas na definição de "Circulação".

J.B.B.
No Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos. Ilha Terceira- Açores.
Ano IV N.º 4 ano 1999
...e o transatlântico "Roma" na baía de Angra do Heroísmo.

Curiosidades no Almanach Açores para 1906:

Sua Majestade o Senhor D. Luiz, visitou Horta, ilha do Faial, quando infante, a 2 de Novembro de 1858, a bordo da corveta Bartholomeu Dias, do seu comando.

No Almanach Açores para 1912:

O vapor "Luso" da Empresa Insulana de Navegação naufragou na vila da Lagoa, ilha de São Miguel, em 26 de Julho de 1883.

A 11 de Julho de 1866 chegou à ilha Terceira a fragata D. Fernando e a corveta Duque de Palmela, trazendo para aqueka ilha, com ordem do governo português, duzentos e tantos espanhois emigrados.
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O primeiro navio que encostou à doca de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, foi a escuna inglesa White, no dia 27 de Setembro de 1867.

A primeira exportação de ananases da ilha de São Miguel, foi pela escuna inglesa Maux Meihg em 12 de Novembro de 1864.

O farol do Nordeste na ilha de São Miguel acendeu-se pela primeira vez no dia 25 de Novembro de 1876.

Em 21 de Julho de 1857, chega à baía de Angra o vapor Duque do Porto, iniciando a carreira a vapor entre os Açores e o continente, por conta da Companhia União Mercantil.


1 comentário:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Muito interessante este blogue, pela carga humanista e simpática de todas as suas letras e imagens.

Gostei particularmente deste apontamento sobre os navios.

Acerca do vapor DUQUE DO PORTO, este navio inaugurou efectivamente as ligações Continente - Açores com navios a vapor mercantes, pois já em Julho e Agosto de 1836 o Estado havia promovido a primeira viagem de Lisboa a São Miguel, Terceira e Faial, com o vapor TERCEIRA. A instabilidade politica da época levou a que a iniciativa não tivesse na altura a continuidade necessária e desejável.
O vapor DUQUE DO PORTO pertencia à Companhia Luso-Brasileira de Navegação a Vapor, com sede no Porto. Este navio fez três viagens consecutivas aos Açores no Verão de 1857, sendo vendido no ano seguinte ao armador J. H. Andresen, também do Porto, vindo a naufragar em Peniche a 26 de Julho de 1859, durante uma viagem do Porto para Lisboa.
A Companhia União Mercantil só foi constituída em 1858, tendo inaugurado a carreira dos Açores com o paquete D. ESTEPHANIA em Junho de 1858. Este navio destinava-se à linha da África Ocidental, e a União Mercantil adquiriu na altura o primeiro vapor destinado especialmente às ligações regulares Açores - Continente: o vapor AÇORIANO, de 496 toneladas de arqueação bruta, com 60,39 m de comprimento e 1 hélice. Saiu de Lisboa para os Açores na viagem inaugural a 4 de Setembro de 1858 com 36 tripulantes, 49 passageiros e encomendas, comandado pelo capitão António Telles Machado.
Este capitão navegou nos paquetes das ilhas durante décadas, pois chegou a comandar os primeiros vapores da Empresa Insulana na década de 1870.

Luís Miguel Correia