segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vinícola Petronius em Gramado

A INAUGURAÇÃO DO

CENTRO MUNICIPAL DE CULTURA II

Inaugurado em 19 de Julho de 1995

O PARQUE DA VINÍCOLA

Regulamentado em Abril de 2006

Releitura em 2007

Esta foi a minha participação neste momento histórico de Gramado e como convidada, registrei aos presentes nesta inauguração, um pouco da história daquele lugar.

Agora encontrei este pequeno relato e resolvi socializá-lo, pois os estudantes não têm nada sobre isto para pesquisar.

Agradeço ao Prefeito Pedro Henrique Bertolucci, que na época, possibilitou o meu convívio com a Cultura local, quando me confiou, por cinco anos, os destinos e a responsabilidade do Património Artístico e Histórico Municipal, composto por: Museu Histórico Municipal Professor Hugo Daros, Arquivo Histórico Municipal João Leopoldo Lied, Museu de Artes Dr. Carlos Nelz e Museu e Arquivo dos Festivais de Cinema de Gramado.

Todos os eventos realizados naqueles anos, foram comprometidos com a busca de socialização da história e tiveram a cumplicidade política necessária para que acontecessem.

Meu pronunciamento naquela oportunidade:

“Nesta hora em que se abrem as portas deste Centro Municipal de Cultura, neste local tão especial e, agora, recuperado em sua visão global, vale relembrar o passado, que aqui se faz presente, nas paredes, janelas, portas, espaços, alicerces e telhados.

Aqui, onde hoje se inicia uma somatória de formas de educação e cultura, já aconteceram horas de trabalho e de dura lida, na sustentação de nossa economia inicial.

Este espaço foi a VINICOLA PETRONIUS.

Esta empresa foi registrada em 15 de Fevereiro de 1939, iniciando suas atividades na liderança de EMILIO KUNZ, uma pessoa altamente conhecedora deste ramo comercial.

Faziam parte do conjunto 3 prédios: o do Centro de Cultura I; este prédio que agora se inaugura como Centro de Cultura II e, entre eles, um grande prédio de madeira que se perdeu com o tempo.

Estes prédios foram erguidos com mão-de-obra local e com todo o material fornecido por nosso próprio povo, para as diversas finalidades.

As grandes pedras que formam os alicerces de base deste prédio foram retiradas aqui mesmo, ao fundo, com o uso de picaretas e trazidas em zorras ou carroças puxadas por animais.

Os tijolos vieram de uma olaria artesanal que havia no Mato Queimado.

Este prédio que ora inauguramos foi erguido sobre um grande porão que possui seis grandes tanques de concreto para armazenagem de vinho já pronto ( a granel ), com capacidade para um total de

100.000 litros. Sobre os porões, assoalho de grande pranchas de tábuas maciças de pinheiros, sustentadas em vãos de até 15 metros, em troncos (em cerne), também de pinheiros.

Telhado sóbrio e janelas com vidros, parte fixos, parte móveis, acompanhadas de venezianas na parte frontal.

Onde agora é a rampa principal, ficava o trapiche, para carga e descarga da mercadoria que vinha de quase todas as nossas colônias, em pipas armazenadas pelos próprios colonos. As pipas eram descarregadas, bem como as uvas, passando pela máquina de moagem (à pressão movida por locomóvel), sendo tocadas por bombas, indo parar nas grandes pipas de madeira (como as que se encontravam no jardim principal). Pipa que podiam armazenar de 30 até 60 mil litros. Depois, iam para os tanques de reserva e depois, engarrafadas, rotuladas e engradadas.

Nas pipas de madeira passavam 6 meses em fermentação.

As sobras da fermentação e a água servida, desciam para o Arroio Grande que passa logo abaixo, onde ainda existem vestígios de taipas escalonando o declive, caminhos, hortênsias plantadas e possíveis tanques de decantação, para evitar ao máximo a poluição.

O controle de qualidade era qualificado e a empresa tinha sempre muito trabalho, sendo que nos finais de ano, mal dava conta dos pedidos. Chegou a ser a maior potência municipal na década de 40.

Na parte frontal havia um espaço especial para a residência de Emílio Kunz, em dois pisos ligados por uma bonita escada interna.

Tudo funcionava perfeitamente e Gramado produzia e exportava vinho como nunca. Alem do vinho, havia vermutes, conhaques, caninha velha, porto, sucos de uva, vinho licoroso, barbera, moscatelate, bagaceira, vinagres...

Em 1982, esta Vinícola foi totalmente desativada. Mais tarde, desapropriada a área, pela Prefeitura Municipal de Gramado.

Em 5 de Novembro de 1988, o Centro Municipal de Cultura I era inaugurado.

Muitas são as histórias sobre esta Vinícola e seu relacionamento com a comunidade. Nem todas estão registradas. Estas imagens todas que precisam ser preservadas, garantindo a memória social deste local, que de histórico, passa a ser, também, educacional e cultural.

Que o passado se preserve neste local para sempre, guardando estes valores que só a educação e a cultura podem abrigar. Este é o respeito da comunidade gramadense para com sua historia.

Comentário final:

Passados 19 anos de sua inauguração, meu convívio não mais é criativo, mas meus relatos continuam andando, pois a história não pára de acontecer.

A Biblioteca Pública Municipal ali foi instalada posteriormente. A memória da Vinícola nunca foi colocada com o devido valor neste espaço cultural tão importante. A vida humana colonial ligada à vinícola, acabou sendo um capítulo encerrado de todo passado mágico que ali aconteceu.

Um apelo, ainda agora, para que isto aconteça.

Um desejo sincero que nosso turismo saiba muito mais da importância social que foi a grande construção de nossa história.

Um bom projeto, deixado lá em 1994, durante o RAÍZES DE GRAMADO II e que hoje, poderia ser mais uma grande fatia de atração cultural.

Quem sabe um dia desses...

Quem sabe com o PARQUE DA VINÍCOLA...

O PARQUE DA VINÍCOLA – Projeto SEMEANDO PESQUISAS: 1º Encontro de Estudos Ambientais e Históricos Estudantis de Gramado - 2006

Pois este assunto da Vinícola ficou na minha cabeça por muitos anos, vendo a história se perder e me sentindo impotente para poder dar socorro ao local. O tempo foi passando e a oportunidade surgiu.

Fazer o meu trabalho de conclusão do Curso de Pós Graduação em Educação Ambiental, FACCAT, 2005/6, para dizer especialmente que “Semear o lugar que habitamos é mais do que viver nele e dele tirar o seu sustento. Semear o lugar que habitamos é zelar pela sua qualidade de vida presente e futura.”

Este Projeto “Semeando Pesquisas” tentou fomentar a busca da informação de nossos valores histórico-ambientais em vários tempos, tendo como foco, em 2006, um dos Parques Ecológicos oficiais, que é o “Parque da Vinícola”, bem no centro da cidade e que poderia servir de referência para as pesquisas estudantis de muitas de nossas escolas

Tendo a análise de um caso, acredito poder fazer uma leitura clara das necessidades públicas e escolares, para que estes parques se tornem, realmente, espaços preservados, pois entendidos e estudados, pela própria comunidade. Descobertas estudantis repassadas para o poder público, num exercício pleno de cidadania.

O turismo provoca uma série de impactos nas comunidades: sociais, econômicos, industriais, agrícolas e, especialmente, culturais e ambientais. Em virtude desta complexidade crescente, uma nova perspectiva está sendo formatada, baseada em diagnósticos, priorizados no impacto ambiental e cultural. Gera-se e aparece então, a necessidade da “gestão” sócio cultural e sócio ambiental, agregada à “gestão” do turismo cultural e do turismo ambiental. Uma nova estrutura educacional precisa ser gerada para que estas “gestões” tenham a parceria correta com o progresso e as modificações que o turismo contempla. As consultas populares são a comprovação disto, pois nada mais é possível sem que se ouça a voz do cidadão.

A consciência da cidadania precisa ser animada com ações práticas, com indivíduos preocupados com o social e, especialmente, com a busca de soluções para o desenvolvimento sustentável e harmônico do nosso hábitat. O exemplo da Cascata dos Narciso nos anos 40, faz pensar sobre esta relação.

Proteger, disciplinar e assegurar a sustentabilidade é um dever do poder público, mas também, de cada cidadão consciente de sua comunidade.

A pequena cidade começará a inchar desordenadamente e as áreas ao redor serão ocupadas sem nenhum planejamento. Bastarão menos de 10 anos para retirar grandes porções de vegetação nativa, até o ponto de alterar radicalmente a paisagem. Além de causar impactos ecológicos, haverá conseqüências decorrentes das várias atividades que se desenvolverão no local.” (FERRETTI, Eliane Regina, 2002)

Foi exatamente assim que aconteceu com Gramado e somente este repensar sócio-ambiental poderá inverter o processo de perdas. E se, dentro da Educação Ambiental, em cada escola, uma “semente” for lançada, plantada e cuidada em seu desenvolvimento, certamente, poderá acontecer a transformação esperada. E

“com a participação das escolas em todos os níveis, o eco turismo e a educação ambiental poderão cumprir seus objetivos, pois a população atuaria efetivamente na conservação dos recursos natural e cultural e, também, passaria a perceber que o turista é um cliente e que, não necessariamente, as tradições locais devem ser modificadas para agradar esse cliente. As tradições culturais estariam protegidas, pois a comunidade perceberia a sua importância e não aceitaria um processo de aculturação.”(FERRETTI, Eliane Regina, 2002)

Quando um espaço é mapeado e desapropriado pelo poder público para se tornar um espaço público monitorado, é preciso que aconteça a pesquisa. Em todos os níveis de conhecimento e da história da história do local em si. Quanto maior for a informação sobre a área, quanto mais pesquisa houver, maior será a possibilidade de acertos. Menores as chances de errar.

Se o jovem for convidado a fazer parte deste processo de releitura e de mudanças, saberá o que aconteceu, o que pode ser feito e estará preparado para participar do futuro construído agora, enquanto presente.

Este espaço estudado é precioso para Gramado pois é uma área verde demarcatória entre o centro da cidade e o bairro. Tudo o que acontece no centro, tem conseqüências neste espaço natural e no bairro Piratini, abaixo dele. Enquanto houver cuidados para com este “limbo” natural, o bairro também estará cuidado, e o centro, mais ainda. É uma questão de equilíbrio e de muito comprometimento com a modernidade bem planejada.

A perda cultural que hoje existe, por não ter sido feito até agora um estudo aprofundado do passado natural de Gramado é preocupante mas não é irreversível. A reprodução, a revitalização no nosso hábitat, quem sabe possa ser o motivo inicial de uma pesquisa ainda maior sobre tantas espécies que estão em extinção, em função do alto índice de ocupação.

Garantir a MPV, ou seja, a mínima preservação viável, é garantir que os novos parques naturais e áreas de preservação tenham realmente, um controle exato das espécies fundadoras do espaço municipal gramadense, pois, quando a população de uma espécie é muito reduzida, como agora, os indivíduos reprodutivos também se reduzem.

Mostrar que o quadro pode ser revertido, retomando alguns estudos através da pesquisa, será uma forma de revitalizar a história e a natureza de Gramado. E tudo isto é muito freqüente em muitos municípios, como o é em Gramado.

Quando o poder público souber realmente o que é, e como manter o meio ambiente de seu espaço de domínio, com ética e conhecimento científico, então haverá a superação da pura especulação e exploração da natureza, disciplinando as ações e os projetos das comunidades administradas.

“É incontestável a afirmação que onde há turismo, há degradação ambiental.” (FERRETTI,Eliane Regina, 2002)

Minha parte foi feita, a Semente lançada. Já não me sinto mais assim tão impotente...

Marília Daros

Antiga Vinícola Petronius em Gramado. Rio Grande do Sul.

Foto de Marília Daros.

Rótulo para vinho tinto da Vinícola Petronius.
da Colecção de Marília Daros.

Bagos d'Uva: Agradecemos à Professora Doutora Marília Daros ter-nos facultado o resumo da sua intervenção, aquando da inauguração do Centro Municipal de Cultura II, bem como as fotos, incluindo um dos históricos rótulos que gostosamente publicamos.

1 comentário:

Dani disse...

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