Foram 34 casais açorianos
os primeiros povoadores de Porto Alegre
"O Dr. Sebastião de Leão, médico, já falecido, que tinha clínica em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul (confederação brasileira) e, além disso, ilustrado e fecundo publicista, escreveu em 1912, sob o pseudónimo, que usava, de Coruja Filho, um interessante artigo de investigação histórica, cuja leitura não seria talvez destituída de interesse para os habitantes do Arquipélago dos Açores, onde podem ainda sobreviver descendentes remotos dos colonos açorianos, que, no último quartel do século XVIII, pediram a D. João V autorização para emigrarem por dificuldades prementes de subsistência em sua terra natal.os primeiros povoadores de Porto Alegre
Fotos: José da Silva Maia (19o9)/Arquivo Luís Mendes Brum ,
sacadas do Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos n 5 ano-2000.
Transatlântico "Roma" na baía de Angra (Açores), junto ao Monte Brasil.
Convés e castelo da proa do "Roma" repleto de passageiros (emigrantes).
Os primitivos habitantes da actual metrópole deste Estado (Rio Grande do Sul), como já tivemos ocasião de referir, em opúsculo publicado em Angra do Heroísmo, no ano de 1918, foram, segundo rezam as crónicas daqueles tempos, 34 casais de Açorianos, que, de 1742 a 1780, aqui se vieram estabelecer. No lugar, onde, alinhadamente, fixaram residência, ao longo da margem esquerda do rio, que banha a cidade, se estende agora a principal artéria urbana, presentemente chamada Rua dos Andrades, porém ainda mais conhecida pela antiga denominação de Rua da Praia , apesar de já se achar muito distante do litoral, pelas sucessivas conquistas territoriais, que as administrações públicas tem ido fazendo a ampla enseada, que o Jacuhy ali forma, tomando em seguida o nome igualmente guaraniatico de Guahyba.sacadas do Boletim da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos n 5 ano-2000.
Transatlântico "Roma" na baía de Angra (Açores), junto ao Monte Brasil.
Convés e castelo da proa do "Roma" repleto de passageiros (emigrantes).
À parentela, embora remota, que talvez ainda exista, desses modestos emigrantes de além-mar, não deve, por certo, deixar de ser agradável conhecer o nome de seus progenitores.
O lugar, onde eles vieram estabelecer-se, como casais de número, que eram, ficou por longo tempo chamando-se Porto dos Casais ou, pela lei do menor esforço, simplesmente Porto. Mais tarde, passou a denominar-se Porto de S. Francisco dos Casais e, finalmente, deram-lhe o sugestivo nome de Porto Alegre, que, por tanto lhe convir, parece perpetuar-se.
A maior parte dos nomes desses casais, nunca mais se retiraram do lugar onde se estabeleceram, não tendo os mais porfiados investigadores conseguido descobri-los, nem mesmo o próprio António Alves Pereira Coruja, que, com a epigrafe Antigualhas,tão preciosas notas publicou sobre o início da capital em questão e sua acidentada história.
Mas, o supradito Dr. Leão, depois de minuciosas pesquisas, conseguiu, enfim, descobrir alguns desses nomes, que são os que a seguir vamos enumerar.
Entre eles figuram os de dois irmãos, naturais da Ilha de São Jorge, Manuel e Mateus de Oliveira, o primeiro casado com uma mulher chamada Maria Rosa, da Ilha Terceira e o segundo com D. Luísa de Quadros, sua conterrânea. O último sabe-se que faleceu em Porto Alegre a 7 de Novembro de 1772. Tanto de um , como do outro proveio numerosa descendência, sendo ambos muito protegidos do Tenente-Coronel Pascoal de Azevedo, quinto comandante militar da ex-capitania riograndense , ou de El-rei, como era dantes denominada.
Outros foram os Silveira da Ilha do Faial, entre eles se destacavam Francisco António da Silveira, Manuel Silveira, Francisco Silveira de Azevedo (por alcunha o Chico Ilhéu) e Vicente Silveira Gonçalves, cognominado de Brabo, dos quais descendeu também numerosa prole.
Francisco António da Silveira, casado com uma Paulista, natural de Guaratinguetá, montou, pelo ano, mais ou menos, de 1760, a primeira azenha no corrego, chamado Riacho, que atravessa a parte baixa da cidade e que deu aquele bairro por-alegrense o nome de Azenha, e ao proprietário do moinho o apelido de Chico Azenha. Este colono, cuja esposa se chamava Antónia Maria de Jesus, foi avô, do republicano, por alcunha Juca Ourives, o qual tanto se celebrizou na revolução de 1835 a 1846, que assolou a então província.
Além desses, se descobriu mais o mesmo Dr. Leão os nomes dos seguintes colonos:
Da Ilha de São Jorge - José de Sousa Pacheco e Manuel António Machado; da Ilha do Pico- José Severo Leal; da Ilha Terceira - António Martins, José Coelho Severino, Francisco Cardoso e Estêvão da Costa; da Ilha do Faial - Caetano de Carvalho; José Pereira, António Pereira Gomes, José Lopes e António da Silveira Pereira.
O penúltimo era pai de António José Lopes, que foi mais tarde administrador das obras da Igreja de Nossa Senhora das Dores, o mais pomposo templo católico de Porto Alegre e cuja pedra fundamental foi lançada a 2 de Fevereiro de 1807.
O último, casado com D. Ana de Sousa, teve no lugar denominado Várzea , ora dentro dos limites urbanos, uma concessão de terras de 281 x 150 braças.
Supõe-se pertencerem também aos açorianos os troncos das seguintes famílias deste Estado:
Terra, Garcia, Rosa, Goulartt, Fanfas e Medeiros.
De registar ainda a nota mencionada pelo Dr. Leão:
- Raro eram os casais que contavam menos de seis filhos. O de Lopes, por exemplo, teve 21 e Manuel Jacinto que era da Ilha da Madeira, teve 30, sendo 15 de cada uma das mulheres com que foi sucessivamente casado, como consta dos respectivos assentos de batistérios nos livros recolhidos à secretaria da arquidiocese."
J. SANTOS LIMA
No "Almanaque Açores" de 1929
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