(o anterior aqui)
Por: Joaquim Pires *
Podemos afirmar, que o conceito de ruralidade abrange todas as ilhas. È neste quadro que o homem e a mulher rural açorianos, conseguem fazer funcionar em seu redor os espaços caracterizados pela predominância da utilização do solo, numa intima ligação à paisagem, aos recursos e às condições que de uma forma natural são aproveitadas pelos conhecimentos e saber de quem conhece e domina bem os segredos de uma profissão.
Os segredos da profissão de agricultor, permitiu não só produzir e gerar economia, não só prover as necessidades básicas do Homem, como ser também responsável pelo ordenamento do território, que se verifica desde o povoamento do arquipélago, passando pelo embelezamento, preservação e protecção da nossa paisagem.
Esta última componente, de preservação e protecção da paisagem, conjugada com a capacidade de produzir, faz hoje um sector de enormes responsabilidades, no quotidiano e na definição da própria qualidade de vida das populações.
Foi de facto o colocar em prática os segredos e o saber dos primeiros povoadores que natural e habilmente os passaram de geração em geração, que hoje nos permite deparar nas nossas ilhas com óptimos exemplos em matéria de produção agrícola e pecuária, bem como a implantação nos locais próprios das culturas mais indicadas. Exemplo fiel deste facto é a edificação de autênticas obras de arte relacionadas com a cultura da vinha.
A exemplo daquilo que se passa nas ilhas do Pico, da Graciosa e Santa Maria, a ilha Terceira, nomeadamente na freguesia dos Biscoitos, tem largas tradições na cultura da vinha e na produção de vinho licoroso – O Verdelho. Esta tradição não se esgota apenas na actividade vitivinícola, mas motiva e proporciona uma das paisagens mais belas e invulgares da ilha que lhe é conferida pelo rendilhado das curraletas construídos em pedra solta que a partir da Primavera se envolvem num sem número de folhas verdes (as parras da videira), um pureza que se mistura e se reflecte no azul do mar, condimentado pelos tons acinzentado e acastanhado dos rochedos vulcânicos que na costa suportam o embate do oceano que nos envolve.
O rendilhado e o reticulado da paisagem é atribuído à existência das curraletas de pedra solta que tinham e têm como principal objectivo a defesa da cultura da vinha contra a acção dos ventos fortes, em particular ressalgas (ventos do mar), bem como proporcionar um microclima muito especial à volta da videira, concentrando o calor que esta necessita e assim minimizar as amplitudes térmitas verificadas entre o dia e a noite, beneficiando toda a planta e em particular, o seu mecanismo natural de crescimento, emprestando simultâneamente e de modo acentuado, uma importância paisagística, ambiental, histórica e patrimonial que não podemos ignorar.
E, o não podemos ignorar, desencadeou na comunidade da freguesia dos Biscoitos e em muitos outros sectores da sociedade civil, uma vontade em classificar a Zona Demarcada onde se produz o Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Determinada – V.L.Q.P.R.D. – “Biscoitos”, como Área de Paisagem Protegida de Interesse Regional, de acordo com a legislação existe, por forma a preservar-se um património natural, característico desta zona vitícola, que constitui um elevado interesse paisagístico, histórico-cultural e agrícola, que deverá em todos fazer reflectir a sua importância no sentido de se preservar e proteger.
* Director Regional do Desenvolvimento Agrário
(continua)
Outros :
Planta da Freguesia dos Biscoitos (ano 1830) aqui
Plantas Vasculares nas Vinhas dos Biscoitos (ano 1971) aqui.
"A vinha perde-se e a população nada ganha" (ano 1994) aqui.
"Região de Biscoitos, nos Açores - Casas em vez de vinhas" - Santos Mota (ano 1994) - aqui.
"Biscoitos: que futuro? "-José Aurélio Almeida (ano 1996) - aqui.
"As Vinha dos Biscoitos" -Bailinho de Carnaval da Freguesia das Fontinhas. (ano 1997) aqui.
"Uma virada nos Biscoitos"(Açores)- (ano 1998) aqui.
O viticultor açoriano está envelhecido (ano 1998/99) aqui
“Provedor de Justiça dá razão à Confraria” (ano 1999) aqui.
“Museologia de Interpretação da Paisagem Ecomuseu dos Biscoitos, da ilha Terceira” - por Fernando Santos Pessoa (ano de 2001) aqui.
"Carta de risco geológico da Terceira" (ano ano 2001) aqui.
"Paisagem Báquica - Memória e Identidade" - Aurora Carapinha (ano 2001) aqui.
“A Paisagem Açoriana dos Biscoitos” - por Gonçalo Ribeiro Telles (ano 2002) aqui.
“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - por Margarida Pessoa Pires (ano 2009) aqui.
(continua)
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