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Vinhos dos Biscoitos
Em busca de um lugar ao sol
Paisagem histórica a preservar
Cinco séculos depois, perdida a conta do número de naus e caravelas que à ilha aportaram para se abastecer, entre outros bens, dos históricos vinhos, as tradições vitivinícolas dos Biscoitos correm o risco de desaparecer às mãos de um progresso que sobrevaloriza a condição balnear da povoação. O primeiro passo para travar essa trajectória poderia ser a declaração da área de cultivo como Paisagem de Interesse regional, semelhança do que aconteceu com a instituição da paisagem Protegida da vinha e do Vinho da ilha do Pico, que abriu caminho à posterior classificação da área pela UNESCO. Tal medida tem sido defendida pelos poucos produtores que ainda se matem em actividade e pela Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, embora sem resultados visíveis, já que o compromisso com essa fundamental decisão não foi, em mais do que uma circunstância, levada a até ao fim por sucessivos responsáveis políticos.
Para se ter uma ideia de um possível (e catastrófico) desfecho para o vinho dos Biscoitos, é preciso começar por ir à povoação de Porto Martins, no sudoeste da Ilha. A zona das tradicionais curraletas, onde se cultivava a casta Verdelho, quase desapareceu sob boa pressão urbanística que cobriu uma boa parte da zona ribeirinha. O aspecto actual da povoação é o de uma estância de veraneio descaracterizada e sem carisma.
Na freguesia dos Biscoitos, na faixa ocupada pelas curraletas, tem vindo a fazer-se sentir uma pressão semelhante a no horizonte parece estar a urbanização de uma área de vinha próxima do porto de pesca, projecto que motivou a subscrição de um abaixo-assinado de protesto. Num ponto ou outro, aliás, ergue-se já algum casario disperso, contribuindo a sua presença para modificar as condições climáticas da área. Além da sombra que projectam sobre as vinhas em redor, interferem também na circulação dos ventos. O calor emanado pela pedra vulcânica e a protecção das curraletas contra a salinidade do vento são factores indispensáveis para o cultivo da vinha nos Açores. Mas estes saberes, aprimorados pelos primeiros povoadores, são agora negligenciados pelos poderes local e regional, cuja indiferença, alegam os produtores de vinho dos Biscoitos, permitirá a substituição irremediável de uma paisagem histórica (que constitui parte da identidade da Ilha e testemunha o esforço de várias gerações) põe casario (a)típico de estância balnear.
(…)
In Revista Fugas / Jornal Público de 22 . 01. 2005
Outros relacionados com a paisagem vitícola dos Biscoitos:
Planta da Freguesia dos Biscoitos (ano 1830) aqui
Plantas Vasculares nas Vinhas dos Biscoitos (ano 1971) aqui.
"A vinha perde-se e a população nada ganha" (ano 1994) aqui.
"Região de Biscoitos, nos Açores - Casas em vez de vinhas" - Santos Mota (ano 1994) - aqui.
"Biscoitos: que futuro? "-José Aurélio Almeida (ano 1996) - aqui.
"As Vinha dos Biscoitos" -Bailinho de Carnaval da Freguesia das Fontinhas. (ano 1997) aqui.
"Uma virada nos Biscoitos"(Açores)- (ano 1998) aqui.
O viticultor açoriano está envelhecido (ano 1998/99) aqui
“Provedor de Justiça dá razão à Confraria” (ano 1999) aqui.
“Museologia de Interpretação da Paisagem Ecomuseu dos Biscoitos, da ilha Terceira” - por Fernando Santos Pessoa (ano de 2001) aqui.
"Carta de risco geológico da Terceira" (ano ano 2001) aqui.
"Paisagem Báquica - Memória e Identidade" - Aurora Carapinha (ano 2001) aqui.
“A Paisagem Açoriana dos Biscoitos” - por Gonçalo Ribeiro Telles (ano 2002) aqui.
“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - por Margarida Pessoa Pires (ano 2009) aqui.
(continua)
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