Calcula-se em 2.000hectares a área ocupada por matas na ilha Terceira.
Sendo a área total da Ilha 50.000hectares, vemos que a superfície arborizada é relativamente muito pequena.
Não falando nos terrenos abertos, chamados vulgarmente baldios, onde existem grandes extensões eminentemente próprias para matas, mas apenas tratando de terrenos particulares, que enorme riqueza não poderia representar uma vez arborizados, quando actualmente rendem uma miséria e muito pouco valor tem.
Refiro-me a esses solos chamados biscoitos que abundam por toda a Ilha e rendem 200, 500 réis, e pouco mais, por alqueire e ao ano.
Suponho uma renda média de 500réis por alqueire (968m2) vejam o valor que representariam depois de arborizados, e a facilidade com que os particulares plantariam tais terrenos.
Dividindo estes biscoitos em lotes, conforme os recursos do proprietário, e plantando cada ano um lote, em poucos anos esta ilha teria o dobro das matas que actualmente a revestem, o rendimento dos proprietários seria pelo menos dez vezes maior.
As matas assim plantadas ordenadamente continuariam a dar pastagens, pois, uns seis anos depois de arborizado o primeiro lote, nenhum inconveniente haveria em meter-lhe gado; e supondo uma propriedade dividida em 20 lotes e plantada de pinheiros, quando se arborizassem o último lote, cortar-se-ia o primeiro, (se a explorabilidade fosse os 20 anos como muitas vezes se pratica entre nós), ou pelo menos daria um corte importante para lenhas, barrotaria, etc., fora os desbastes mais novos, e ficariam ainda árvores que por si só representariam um valor muito superior ao pobríssimo solo onde vegetam.
Nestes terrenos pobres, onde o pinheiro duma rusticidade admirável se presta ao seu revestimento, conseguindo vegetar bem e com o decorrer dos anos fazer-se um grande árvore, poder-se-ia também nas clareiras melhores e nas ravinas húmidas, e com mais terra, plantar outras essências florestais como Acácias, Cedros, etc., embora em mistura com o pinheiro que nas primeiras idades lhes daria abrigo.
Já no período de bastio proceder-se-ia a um desbaste nos pinheiros e as outras essências cresceriam livremente dando esplêndidas madeiras de construção.
Isto, para estes solos pobres, pois existem entre nós terrenos próprios para matas onde se poderiam cultivar essências florestais bastante exigentes.
As Câmaras e Juntas de Paróquia nos baldios municipais e paroquiais procederiam da mesma forma e poderiam emancipar esta terra da importação de quase todas as madeiras que utiliza.
Actualmente, quando existem países absolutamente devastados, milhares de cidades, vilas e aldeias em ruínas, e nesses mesmos países estando os seus domínios florestais imensamente reduzidos, quem poderá pensar em importar madeira?
Aproveite-se os recursos que a Ilha tem, e se Há 40 anos se tivesse intensificado a arborização, possuiríamos hoje madeiras em abundância para as necessidades próprias e para exportar.
Nessa época a arborização custava menos de metade do que agora, pois os terrenos em questão que actualmente pouco valem, e quase nada rendem, antigamente nada valiam ou rendiam.
A mão-de-obra era incomparavelmente mais barata, e sem prejuízo para as restantes culturas, poderia desviar-se um bom número de operários rurais para a silvicultura.
Todavia é sempre tempo de principiar uma obra útil, e a falta de madeiras far-se-há ainda sentir por muitos anos, convindo imenso intensificar a criação de matas.
Nos últimos anos é certo que se tem plantado muito terreno; mas não o bastante, pois o consumo tem sido enorme e uma mata que se abate num mês precisa de dezenas de anos para fazer-se.
Sob o ponto de vista moral, o proprietário que pode e não planta árvores, é um egoísta; procura apenas o lucro imediato, embora pequenos, e prefere essa miséria presente a uma farta abundância futura, para ele, se é novo, para os seus descendentes, se é idoso.
A cultura florestal pública e particular é uma das primeiras riquezas das regiões; ao mesmo tempo que é uma das suas maiores belezas,
Angra – Julho – 1917
Jácome D’Ornelas Bruges
(Engenheiro Agrónomo)
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