Da autoria da Dr.ª Luísa Romão, o texto que se segue fará parte de uma brochura sobre a exposição “O Espírito do Vinho”, a inaugurar já no próximo dia 27, no Centro Cultural da Malaposta, em Olival Basto. A Dr.ª Luísa Romão é igualmente Comissária Científica deste evento.
EXPOSIÇÃO “O ESPÍRITO DO VINHO”
Segundo alguns autores, a cultura do vinho nasceu das várias encruzilhadas surgidas pelas grandes correntes civilizacionais, uma vez que ela é sucessiva e permanentemente atravessada pela História e transformada progressivamente pelos costumes das grandes migrações humanas: celtas, romanos, visigodos, francos, árabes, etc.
Cada um destes povos, com os seus modos próprios de pensar e as suas interpretações/representações do mundo, deram ao VINHO e à sua civilização uma riqueza particular traduzida em três grandes correntes de pensamento que construíram o seu ESPÍRITO: as correntes greco-latinas, judaico-cristã e islâmica.Na corrente greco-latina, representada pelo personagem Dionysos - Baco – deus do vinho e da fertilidade - a ideia central é a figura de um deus e de catarse social. Era o símbolo da vida dissoluta, da alegria, das festas e, simultaneamente, da organização social e colectiva.
No pensamento judaico-cristão, decorrente da herança deixada pelo Antigo Testamento e depois pelo Cristianismo, passa-se do simples saber-beber a uma simbologia onde o vinho representa o sangue de Cristo derramado na Cruz.
Na corrente islâmica, essencialmente dialéctica, o debate apoiava-se em oposições radicais que, apesar do interdito dogmático – proibição de consumo de bebidas fermentadas ou destiladas -, este coabitava com uma tolerância autorizada. No caso particular de Portugal, a exportação de vinho através do porto de Lisboa aumentou significativamente durante a ocupação árabe.
Para além de tudo isso, o vinho é, também alquimia e obra de arte. Alquimia porque na técnica utilizada na sua produção, a matéria – a uva – transforma-se num álcool composto pela sua própria decomposição e da “fervura” provocada pela fermentação, surge uma nova matéria – um néctar digno dos deuses. Obra de arte porque ele é, em si mesmo, transversal a todos os tipos de arte. Está presente na literatura, na poesia, na pintura, na escultura, na arquitectura, na música, na paisagem, na cerâmica, nos têxteis, na religião e nas festividades populares, isto é, no sagrado e no profano, entre outras formas das grandes expressões do Homem.
Luísa Romão
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