terça-feira, 29 de abril de 2008

Conclusões do II Simpósio de Confrarias Báquicas e Gastronómicas

Após um almoço de Função- Sopas do Divino Espírito Santo- que teve lugar na Casa do Povo do Cabo da Praia, na presença do Vice- presidente do Município Praiense, Dr Paulo Messias, oferecido pela Câmara Municipal da Praia da Vitória, os Confrades e participantes no II Simpósio das Confrarias Báquicas e Gastronómicas de Portugal foram aos poucos se sentando para ouvirem as conclusões e assistirem ao seu encerramento.

Eng. Clara Roque do Vale, Grão -mestre da Confraria dos Enófilos do Alentejo com
Luís Mendes Brum da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos


Eng. José Valentim, Prof. Doutora Maria Eduarda Duarte e D. Lúcia Sousa

O Médico Cardiologista Dimas Simas Lopes e Carlos Manuel da Silva Parreira, Confrades do Verdelho dos Biscoitos e a Eng. agrónoma Maria João Fernão-Pires, Grão- mestre da Colegiada dos Enófilos de São Vicente.

Confrade do Vinho de Lamas e os
Confrades Prof. Dr. José Aurélio Almeida e Dr Adelino Paim de Andrade

Apesar deste evento ter sido classificado de interesse público pelo Governo Regional dos Açores, foi notória a falta de comparência por parte dos nossos governantes, autarcas ou seus representantes. Ficando a mesa assim constituída: senhor Jácome de Bruges Bettencourt, Grão-mestre da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, o Dr. Luciano Pereira Vilhena, Presidente da Federação das Confrarias Báquicas de Portugal e o Dr. Soares Marques, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa da Confrarias Gastronómicas e Presidente da Câmara Municipal de Mangualde.


Irene Ataíde, Vice Grão-mestre da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos e
Secretária- geral do Simpósio agradecendo a colaboração das
entidades oficiais e e privadas, referindo que a realização do Simpósio muito ficou a dever à dedicação e
experiência do Confrade Paulo Caetano Araújo Ferreira.
Seguidamente fez apresentação das personalidades intervenientes no encerramento.
A Eng. Clara Roque do Vale lendo as conclusões

O Grão-mestre da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, Jácome de Bruges Bettencourt, presidindo à sessão de encerramento do Simpósio. Ao fundo o retrato a óleo do Conselheiro José Silvestre Ribeiro "o Marquês de Pombal" do grande terramoto de 15 de Junho de 1841 que reduziu a Praia num montão de ruínas, grande Amigo do 1.º Visconde de Bruges.

O Simpósio decorreu nos Paços do Concelho da Praia da Vitória, de 24 a 27 de Abril, tendo-se iniciado com uma Oração de Sapiência intitulada “ O Vinho é o bem-estar da alma…”

A 1ª comunicação “A reforma da OCM vitivinícola. Consequências para as empresas do sector” fez a comparação entre as medidas do anterior quadro comunitário e as que vão ser postas em execução no período 2008-2013.

De realçar que vai haver ajudas para o abandono definitivo da vinha, como mecanismo regulador do mercado e com o objectivo de melhorar a estrutura de produção e a qualidade dos vinhos. As ajudas à destilação vão ser bastante reduzidas, eliminadas as ajudas à armazenagem, diminuídas as ajudas à adição de mosto concentrado, sendo no entanto reforçado o envelope das ajudas à promoção dos vinhos em mercados externos.

A comunicação “Pró-Rural / POSEI – Apoio vitivinícola” deu a conhecer as medidas já em vigor nos Açores desde 2007, as quais poderão ser reajustadas ao longo dos anos consoante se verifique que é necessário, ou que se justifica, reforçar o apoio a um ou outro sector específico, por forma a que não se desperdicem ajudas que tão difíceis foram de negociar com a Comunidade Europeia.

Foi dado especial realce às medidas para o sector vitivinícola, as quais infelizmente não foram aproveitadas integralmente em 2007. Está a ser reforçado o esforço de divulgação destas medidas como forma de sensibilizar os produtores para a necessidade de as aproveitarem, nomeadamente para a reestruturação das suas vinhas, arranjos de muros, recuperação de curraletas e melhoria tecnológica de adegas.

Foi dado grande enfoque ao envelope financeiro relativo à promoção e comercialização dos vinhos, no qual se podem inserir várias acções, tais como: a criação de rótulos e embalagens, com o objectivo de melhorar a imagem do produto; a possibilidade de efectuar estudos de mercado, campanhas de promoção, produção de material de divulgação, participação em feiras e outros certames, acções de degustação no ponto de venda, etc.

Da discussão desta comunicação surgiu a ideia, que mereceu a concordância da assembleia, de se aproveitar as ajudas à comercialização para estudo e concepção de uma embalagem, inviolável ou não, que permita que o turista possa levar para o seu destino uma ou mais garrafas de vinho, pois a venda de vinho aos turistas é sem dúvida um meio importante de comercialização e escoamento do vinho dos Açores e como tal não pode ser descurado.

Relativamente à comunicação “Uma perspectiva sobre os vinhos dos Açores” foi referido que as castas tradicionais dos Açores têm potencial para fazer vinhos de qualidade, sobretudo as castas para vinhos brancos.

Não obstante a melhoria tecnológica e consequente melhoria de qualidade dos vinhos, já conseguida nos últimos anos, é necessário ainda conhecer melhor os vinhos das castas regionais, pelo que foi preconizada a realização de estudos/ensaios durante os próximos 3 ou 4 anos.

É importante que se façam vinhos monovarietais, a partir dos quais se podem constituir lotes, caso se pretenda.

Foi ainda referida a necessidade de melhorar a tecnologia de vinificação.

De seguida e após a comunicação “A evolução da produção e consumo de produtos tradicionais de qualidade. O caso do Alentejo” houve uma interessante troca de impressões sobre a mais valia obtida com a comercialização dos vinhos DOC e Regionais e sobre as consequências negativas que a implementação da nova OCM pode ter na comercialização destas categorias de vinho, ao permitir que os vinhos de mesa possam fazer referência às castas e ano de produção.

Da comunicação “A comercialização dos produtos regionais dos Açores em Portugal Continental” ressaltou a necessidade de encontrar uma forma, uma imagem, que permita identificar devidamente qualquer produto da região, associando-o com evidência aos Açores.

Foi também evidente a necessidade de integrar alguns produtos da Ilha Terceira, nomeadamente a doçaria e vinhos, no leque de produtos dos Açores que estão a ser comercializados em Portugal Continental.

Foi considerado importante que as empresas que desenvolvem este trabalho com seriedade, se possam candidatar às ajudas previstas para a promoção e comercialização (Programas Pró-Rural POSEI ou outros).

Durante a comunicação “Reforma Institucional – Entidades Certificadoras” foram apresentadas as exigências que são colocadas às novas entidades certificadoras de vinhos DOC e Regionais, tendo também sido apontados os pontos fortes e fracos daí decorrentes.

A discussão mostrou que as exigências são grandes e nalguns casos até desajustadas (caso da composição da Câmara de Provadores) e que vão onerar os custos de certificação. Se as entidades certificadoras não aumentarem o valor dos selos de garantia, para não penalizarem os produtores, vão forçosamente ter de reduzir as verbas destinadas até aqui à promoção.

Da interessante comunicação “O Vinho e a Saúde” retirámos que os problemas com o consumo de vinho se prendem com a quantidade e foi demonstrado que consumo moderado é beber pouco.

Questionou-se o que se pode fazer a favor do vinho. Em resumo: devem-se caracterizar os vinhos; tem de se estudar, para se poder fazer a diferença entre o vinho e as outras bebidas; devem-se diversificar as aplicações (deve-se consumir uvas frescas, vinagre natural, e aproveitar o óleo de grainhas; deve-se inclusivamente utilizar o vinho para cosmética); devem-se angariar novos consumidores, BONS consumidores.

O vinho tem virtudes e defeitos. É preciso que os conheçamos para tirar proveito do seu consumo.

Foi lançada a réplica à Federação das Confrarias Báquicas de Portugal para que abraçasse a ideia de mandar realizar o estudo do perfil dos vinhos das várias regiões vitícolas de Portugal, contando obviamente com a colaboração das Confrarias associadas.

Um outro projecto, este de outra dimensão, que também poderá ser equacionado prende-se com o estudo epidemiológico sobre os efeitos do vinho na saúde.

Durante a comunicação “Contributos e subsídios para a história da Alcatra, como símbolo gastronómico da Ilha Terceira” foi dado especial realce ao Turismo Gourmet.

Foi apresentada concretamente a proposta: A ALCATRA COMO TURISMO GOURMET”.

Foi referida a necessidade de implementar as medidas de higiene e segurança alimentar já regulamentadas desde 2004 (Reg. Nº 842/04).

Por outro lado e dado que Portugal se esqueceu de pedir, ao tempo, as derrogações previstas no Regulamento Nº 2074/05, é necessário trabalhar agora, rapidamente, no património imaterial, fazer a inventariação dos vários pratos/receitas e fazer a respectiva ficha técnica, única forma de se poder preservar a autenticidade dos pratos regionais, ou seja as receitas da Cozinha Popular ou Étnica.

Falou-se na gastronomia com parte integrante do património cultural português e como produto turístico.

Foi dito que não pode haver várias receitas de “Alcatra”. Há que fazer um trabalho consistente no sentido de arranjar consenso sobre as receitas, por forma a que passe a haver uma única receita de “Alcatra” na Ilha Terceira.

Com a colaboração de vários participantes, foi discutida a forma como deve decorrer um almoço de função.

Uma outra situação que se entendeu referir nas conclusões, como recomendação, prende-se com a necessidade de sensibilizar a Hotelaria e Restauração para dar, prioritariamente, visibilidade aos vinhos dos Açores, o que infelizmente não está a acontecer.

Também como recomendação, a necessidade de integrar nos currículos dos cursos das Escolas Profissionais noções sobre a vitivinicultura e a gastronomia da região, associando-as ao vasto património cultural.

É importante que se informem, ensinem e sensibilizem os jovens para as especificidades dos vinhos dos Açores, nomeadamente no que respeita ao Vinho Verdelho dos Açores.

Praia da Vitória, 26 de Abril de 2008

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