terça-feira, 25 de março de 2008

O Terrorista Português na TAP

O terrorismo, palavra-moda do século XXI, representante supremo do mal e o diagnóstico mais ouvido pelos políticos internacionais. Uma palavra que, de tantas vezes pronunciada, se torna banal e sem significado. Isto até que o mal bata à sua porta.

Deve ter sido assim que os passageiros num voo da TAP, durante a época do Natal de 2007 se sentiram. Retidos num autocarro durante uma boa meia-hora, por razões ainda desconhecidas, viram entrar um segurança do aeroporto de Lisboa, que com o laconismo típico, chama um nome: "Bruno Faria!" (este é um pseudónimo, pois claro).

Após um pequeno silêncio, há uma resposta do fundo do autocarro, quase apenas um murmúrio – Aqui! – Surge então uma figura, de porte encorpado, com um casaco preto e uma mala de aspecto pesado que obrigava a personagem a inclinar-se, cedendo ao seu peso. A cara era coberta por uma densa barba, terminando em cima com um chapéu de marinheiro, também preto. O segurança faz sinal para o acompanhar e ambos saem do autocarro.


Deixados sem informação e com espaço para especular, os ocupantes do autocarro começam a tentar deduzir a razão do atraso com as poucas peças que tinham. Um avião atrasado, um passageiro sombrio chamado por um segurança e uma mala pesada. Começam então a dizer: "É um terrorista português!", " ...e aquela mala é onde está a bomba!", " ...pois bem, viram que ele tinha barba?", "Mas é por causa dele que estamos atrasados, devem estar a prende-lo...". Isto até que os deixam no avião. Passados uns minutos, tendo pensado que tinham resolvido o caso, viram entrar o suposto "terrorista português" no avião, com a sua pesada mala. Com este novo facto as opiniões divergem. Há quem se acalme e pense que não deve ter sido por isso que se atrasou o avião, sendo ele um passageiro normal. Outros, pelo contrário, afirmam que ele foi a causa do atraso, e que se o deixaram ir foi porque ele afinal não tinha a bomba com ele, mas que não deixava de ser suspeito. E lá o avião seguiu a viagem sem mais delonga até à Ilha Terceira nos Açores.





A bomba com símbolo de qualidade: MADE IN PORTUGAL

Mas eis o que se passou com o alegado terrorista: Estava eu no autocarro à meia-hora, quando um segurança me chamou e disse-me para o seguir. Eu saio do autocarro, sigo-o pelo inferno que é o Terminal 2, até à zona das bagagens, para eu abrir a minha mala, porque dentro tinha um dispositivo suspeito. Esse dispositivo acabou por ser um fogão Primus, antigo, de colecção, que levava para o meu avô. Feita a verificação, pude seguir viagem e por ai ficou. Muito mais tarde, pelo Carnaval, no espaço Karnart, encontro um passageiro desse voo, sendo a primeira coisa que ele me conta exactamente isto que se passou entre os passageiros. Foi então por uma mera casualidade que descobri toda esta especulação pela minha ida à central de bagagens. Há coisas estranhas, não?

L.P.B.

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