Luís de Torres de Lima, morgado da Ladeira, publicou em 1630 um livro intitulado “Compêndio das mais notáveis coisas que no reino de Portugal aconteceram desde a perda de el-rei D. Sebastião até ao ano de
“Conta Tullio que, no templo de Diana, havia um altar dedicado ao Deus dos Vagares, porque não respondia aos que o invocavam, senão depois de feito o dano e assim dizia o passado, e não o que estava por passar; e quando se queria acudir ao remédio, na detença que tinha, se perdia a resolução e o acerto. Em todos os conselhos e tribunais deste reino preside o deus dos vagares e como assistente no governo, não há poder dar fim ao que se começa, nem começar a remediar o que está acabado pela imortalidade de sua resolução, sendo mortal; e assim se acrescenta o dano e não diminui a perda.”
Queixa-se depois o autor das injustiças e arbitrariedades dos governantes, e fecha o assunto com esta sentença: “Que os mandamentos de Deus são dez, e as do governo infinitos.”
Se fosse dado ao morgado da Ladeira ressuscitar nos tempos que vão correndo, teria ocasião de observar que o deus dos vagares ainda hoje conta por cá muitos devotos. Em quanto aos tais mandamentos...é melhor não falar nisso!
Os Mandamentos de Deus continuam sendo dez. E, os do governo infinitos...
Esperamos que não acabem mesmo por adormecer.
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