quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Existe o sabor a rolha?

A resposta a dar a um simples consumidor não é fácil. Por várias e importantes razões, a primeira das quais será a opinião dos provadores profissionais, que consideram não existir “gosto a rolha”, mas sim “aroma a rolha”, porque a percepção inicial se faz através do sentido do olfacto, antes de o vinho entrar na boca.

Os leitores conhecem o gesto, frequente, de levar a rolha ao nariz, a seguir à abertura da garrafa. Os provadores oficiais têm razão quando afirmam que a expressão “gosto a rolha” é um abuso de linguagem.

Para estabelecer a confusão outra verdade: há, efectivamente, casos de “aroma a rolha” (em cerca de 1 por cento do vinho engarrafado, o que representa um número elevado de garrafas), mas os cientistas e técnicos que estudam o problema dizem que os consumidores normalmente informados não são capazes de detectar este aroma.

As dificuldades de compreensão de fenómeno aumentam mais quando se sabe que há, na verdade, um “aroma a rolha” que, embora surja num número muito reduzido de garrafas, torna o vinho imbebível. Qualquer que seja o grau de conhecimentos do consumidor, neste caso, nunca se engana!...

Mas o problema complica-se ainda mais quando se sabe que os falsos gostos a rolha também são devidos à acção de microrganismos que se desenvolvem na cortiça. E vejam só! - Já se fizeram notar esses falsos gostos a rolha em vinhos armazenados em cubas de cimento e tonéis de madeira e que, portanto, nunca estiveram em contacto com cortiça...Sendo, certo, que os maus aromas destes vinhos se aproximam mais dos que são provocados por bolores (Bento de Carvalho e Ponte Fernandes).

Resumindo, a situação resultante de tudo isto parece ser esta: a cortiça transmite algumas vezes ao vinho engarrafado, através da rolha, um aroma que é imperceptível ao nariz do comum dos mortais; a rolha de cortiça natural, por vezes, felizmente raras, comunica ao vinho aroma a rolha que o torna imbebível; acontece algumas vezes notar-se em vinhos guardados em cubas de cimento e tonéis de madeira um aroma próximo do que é provocado pelos bolores.

Este resumo da situação leva-nos a concluir que há consumidores que recusam nos restaurantes vinhos por “saberem a rolha”, quando esse defeito pode ter tido origem em vinificações imperfeitas ou a conservações descuidadas.
Fácil, leitor, é perceber que estamos perante um tema sempre actual e da maior importância, já que não existe alternativa: a rolha de cortiça natural é insubstituível! Esta actualidade e esta importância ganham relevo particular em Portugal, país que, além de vitícola, é o maior produtor de cortiça do mundo. A rolha de cortiça natural tem papel fundamental em todo o processo de envelhecimento do vinho em garrafa é o “casamento” perfeito entre dois produtos da Natureza. A cortiça – a casca do sobreiro – é um material compressível., elástico, durável, leve e de boa estanquicidade.
Resistente à penetração da humidade, devido às suas ceras e ácidos gordos, é quase impermeável aos gases, propriedade importante para o envelhecimento dos vinhos em garrafa.

E o articulista remata: Os consumidores devem evitar rejeitar uma garrafa de vinho nos restaurantes apenas por snobismo, porque há interesses legítimos que devem ser defendidos.

In Caderno de Vinhos 11 Bacos

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