terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Leitura heráldica do Brasão de Armas dos Merens de Távora


As peças heráldicas constantes do rótulo do vinho tinto produzido na Candelária (ilhaTerceira), são semelhantes às utilizadas posteriormente no Ex-Líbris do 1º Visconde de Meireles, Francisco de Meneses Meireles do Canto e Castro, título concedido pelo Rei D. Carlos em decreto de 9 de Maio de 1904.

Esse Ex-Líbris vem representado na excepcional obra de Sérgio Avelar Duarte, intitulada “Ex-Líbrís Portugueses Heráldicos, Livraria Civilização Editora, Porto, 1990, pág. 160, com a seguinte descrição simplificada e sem cor dos esmaltes:

Escudo esquartelado. I- Castro (de seis arruelas)II- Meireles III- Távora IV – Canto. Sobre o todo Castro, mal representado; todavia, no rótulo a representação em sobre o todo é do Melo. Coronel de Visconde. Timbre: Meireles.

São estas as famílias representadas no brasão, quer do rótulo quer do ex-líbris.

Portanto e de uma simples, os Castros são representados por seis arruelas; o Meireles por uma cruz florenciada e vazia; os Távoras (mal representados) por cinco faixas ondadas e os Cantos (de Pero Anes do Canto) um baluarte com quatro bombardas entre as ameias, sustido por uma ponta de prata.

Omitem-se aqui os esmaltes para não confundir, dado que o mesmo desenho entre si devido às cores dos esmaltes. Assim como, também, há ramos de mesma família com brasões completamente diferentes.

Temos aqui um desses casos típicos, pois observando-se o segundo quartel, o de Meireles, ver-se-á que a sua representação se faz através de uma cruz florenciada e vazia do campo e por timbre um alão sentado; enquanto outros ramos de família Meireles trazem por armas seis crescentes invertidos, postos 2,2 e2 como timbre um alão sem coleira, sentado com uma pata no ar.

Ora os senhores da Candelária trazem no seu brasão de armas no segundo quartel, o de Meireles, precisamente a cruz florenciada e vazia que representa para os heraldistas as Armas de Meira, como se disse também usada por alguns ramos de apelido Meireles e como timbre uma galgo ou alão de negro com coleira, não na posição de sentado, como é em geral representado, mas correndo.

De resto, em heráldica nem tudo é rigor, por vezes há erros e por vezes há o belo prazer criativo e estético do artista que elabora o Brasão.

Apenas mais um pormenor: a ausência da “diferença” – peça diminuta posta no canto superior esquerdo do escudo no primeiro quartel – destinada a identificar os seus possuidores. Trata-se de um símbolo fundamental em heráldica, significando também posse, a obrigação e direito consuetudinário quando devidamente registado na chancelaria régia.
Todavia, há sempre excepções à regra e poderosas famílias de fidalga antiguidade, por vezes, não se submetiam às normas vigentes, antes, pelo contrário, opunham-se-lhes. – V.M.

In Revista Verdelho n.º 7 ano 2002


Sem comentários: