Destaque para o papel das Confrarias Báquicas no enaltecimento e valorização do vinho
(Continuação do anterior)
Por: João Carvalho Ghira *
E é já em pleno século XX que vimos encontrar o ressurgimento das confrarias, retomando aquela designação, com diversos aspectos em comum, mas com objectivos distintos.
É o surgimento das confrarias ligadas normalmente a uma região produtora de vinho e que, também normalmente sob a protecção de um santo, desenvolvem um movimento social, cultural e até certo ponto económico à volta do vinho.
A recordação de uma organização que velava pela qualidade dos vinhos, ou ainda o papel do companheirismo no cuidado da perfeição do oficio, foram motivos de inspiração que associados à existência de sociedades báquicas antigas levaram ao aparecimento em 1934, em França, da “Confrerie des Chevaliers du Tastevin”, verdadeira instituição regional com expansão mundial, instrumento de publicidade dos vinhos da Borgonha. Ainda que numa época difícil, de crise internacional e num ano de abundante produção, ela começou por participar activamente na promoção da qualidade. E é com este espírito também imbuído de uma convivência franca em actos por vezes solenes, outros de um certo humor à boa maneira francesa, que hoje em França o número de confrarias báquicas ultrapassa a centena.
Também em Portugal, na esteira deste movimento surge em 1965 a Coligida de São Martinho. Como motivação para a sua constituição o texto introdutório aos estatutos é extraordinariamente claro e elucidativo, razão que me leva a citá-lo em parte: “a alimentação – as comidas, as bebidas e as formas de as ingerir – é um elemento cultural que pode servir como distintivo da maneira de viver.
Os homens sempre desejaram comer e beber em companhia e desse desejo ancestral nasceu, nas sociedades civilizadas, a gastronomia, que é a arte de escolher, preparar e combinar iguarias e bebidas.
Cada grupo social sujeito a certo “habitat” e mergulhado em determinado clima, fixou normas para a sua alimentação. De tal maneira que estas caracterizam não apenas uma cultura mas também um nível social.
O uso do vinho conta-se entre as principais características da alimentação dos povos que evoluíram em torno do Mediterrâneo e se prolongaram na actual Europa Ocidental.
Uma das essências da nossa civilização milenária, produto afeiçoado e aperfeiçoado por cinquenta gerações de europeus, merece o Vinho que em sua defesa ocorram quantos se julgam no dever de conservar e ampliar a cultura da Europa Ocidental.
Por estas e outras razões se impõe a criação entre nós de uma Associação que tenha por fim – não em nível técnico, nem comercial, mas social – a defesa e valorização dos vinhos nacionais”.
Finalizando a referência a esta confraria cito dos estatutos os principais objectivos da mesma: valorizar a qualidade dos vinhos portugueses e promover a sua defesa e expansão.
(continua)
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