sábado, 8 de janeiro de 2011

Candelária - Um vinho digno da mesa do Rei (2)


(continuação do anterior)


Por: Valdemar Mota

De Luís Meireles do Canto e Castro, o primeiro aqui mencionado, forma também filhos dois vultos importantes, Luís do Canto e Castro que renunciou ao título de conde e Francisco Meireles de Távora do canto e Castro, jornalista, autor literário, cônsul de França e sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, e que veio a ser pai do 1º Visconde de Meireles.


Nomes que se não devem esquecer como antigos possuidores da Quinta da Candelária, com casa nobre e capela sob aquela invocação, que souberam caprichar no arranjo da mesma com as suas avenidas e cascatas, assim como promoveram a expansão agrícola, a fruticultura e também as vinhas de castas europeias seleccionadas, de boa qualidade, pois um dos proprietários mais representativos por estes empreendimentos a que se dedicava, o primeiro neste artigo enumerado, homem de sociedade, influente, politico e interessado na pujança agrícola da sua Quinta, viajado, actualizado e conhecedor de novos processos, selecções e técnicas, só poderia enriquecer a Quinta com produtos de qualidade. Aliás, são facilmente testáveis as suas capacidades e a forma como seguia atentamente os avanços das agriculturas, através da obra que publicou em francês e depois em português intitulada “Memória sobre as Ilhas dos Açores, na Imprensa de M.me Huzard (nascida Vallat da Chapellie), Rue de L’Eperons, nº 7 Paris, 1834. Nesta obra analisa grandes questões como a educação da mocidade, a agricultura, o comércio, a administração da fazenda Pública e o Governo Municipal. Além do mais foi proposto e elevado a sócio de “ l’Académie d’Horticulture” da cidade de Paris, o que comprova realmente os seus méritos e o seu espírito científico em matérias agrícolas. Mas em ideias politicas as suas opções eram mais de índole absolutista e as suas venerações iam também mais para Sebastião José de Carvalho e Lelo o poderoso ministro de D. José a quem chamava de imortal e grande Marquês de Pombal.

Na pequena sala que servia de escritório no imenso casarão que é a Candelária, tenho a vaga lembrança de quando lá ia há muitos anos com o procurador e meu amigo Diogo Pereira Forjaz Coelho Borges, de ver pelo chão e em mesas cheias de poeira num desalinho de casa há muito desabitada, velhas gazetas e publicações estrangeiras de especialidade agrícola, o que comprova o incessante interesse de actualização dos donos daquela propriedade.

Nessa obra já referida e escrita por Luís Meireles do Canto e Castro já ele advogava e defendia na década de 30 do séc. XIX o interesse do vinho tinto continental nas ilhas dos Açores, sobre o que dizia textualmente: “…seria um resultado necessário também importarmos nas nossas ilhas muito mais vinho tinto de Portugal do que, com efeito, importamos, sendo certo que ordinariamente gostamos mais daquele do que do nosso”, o que parece não excluir a existência de castas tintas nos Açores já por essa altura e supostamente até na Candelária em fase experimental.

(continua)

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