Continuação do anterior
Por: Geraldo J.A. Coelho Dias, FLUP
III – Confrarias Báquicas: sua natureza e objectivos
Clube Militar de Macau (1995) – Confraria dos Enófilos de Macau
No Portugal moderno, a partir do séc. XIX, perpassou uma onda de associativismo laical, que começou com as lojas maçónicas, numa espécie de independência face ao domínio autoritário e mental da Igreja. Estendeu-se, por força de iniciativas da sociedade civil, a variadas actividades artísticas, culturais, desportivas, recreativas, sociais. Com a liberalização contemporânea, o associativismo ganhou foros de reinação, mesmo ao nível das associações de gastronomia e vitivinicultura. De resto, o trabalho da vinha e do vinho sempre assumiu uma dimensão associativa, bem patente no trabalho das vindimas.
É, pois, neste contexto que devemos inscrever as Confrarias Báquicas. Por sua natureza, estão orientadas para ser associações de confraternização e amizade no sentido de promover o vinho, emblematizado no deus Baco., em todas as suas dimensões: alimentar, medicinal, honorifica, religiosa. Se o nome BACO ainda traz o estigma da depreciação romana, que proibiu os bacanais, na realidade, as Confrarias Báquicas, também chamadas enófilas, têm importância comercial, social e cultural. Nada de as confundir com clubes de amigalhotes para uma noite de farra no sabor duns bons copos de vinho. Elas asseguravam a importância do vinho, quando, nos banquetes reais de tempos passados, ele se prestava a todo um delicado ritual que, ainda hoje, transparece nas provas vinícolas. É ver a delicadeza com que os escanções tiram a rolha da garrafa, o jeito com que baldeiam o vinho no copo e lhe aspiram o “bouquet”, a mestria amaneirada como o provam.
Confraria dos Enófilos da Estremadura
A Europa mediterrânica é região privilegiada de vinhos de excelente qualidade. Como a união faz a força, a promoção e defesa dos vinhos levou à criação das regiões vinícolas e, naturalmente, provocou o associativismo dos produtores e vendedores. Deste modo, um pouco por toda a Europa e em diversas partes do mundo, aparecem as Confrarias Báquicas, hoje tão numerosas e activas, que até possibilitam em 1998 a realização do 35º Congresso Mundial com 7 países representados. Com estas confrarias fica-se a conhecer melhor a rota geográfica dos vinhos e encontram-se razões para fomentar viagens de turismo internacional temático.
Confrarias du Franc Pineau e Consulat de la Vinée (França)
Talvez a França tenha sido o primeiro país a promover este tipo confrarias. Tipicamente báquica deve ter sido a “Ordre de la Méduse”, criada em Marselha por volta de 1683, com divisa “Laetificando petrificat”. Em 1703 apareceu a “Ordre de la Boisson” que, em 1812, dava origem à “Ordre du Boisson” em Beaune, na Borgonha. Destas, como que de embrião, aparecia em 1924 a “Confrérie des Chevaliers du Tastevin” para promoção dos vinhos da Borgonha.
(continua)
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