quinta-feira, 15 de outubro de 2009

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E APLICAÇÕES – VII e derradeiro

Por: Segismundo Pinto

(continuação)

Na heráldica autárquica os elementos mais utilizados num ordenamento são: o escudo, a coroa mural – coroa de formato variável que encima o brasão de uma autarquia ou povoação. Para as autarquias que tem sede em cidades é de prata, com cinco torres aparentes, com excepção da da cidade de Lisboa que, por ser a capital do país, é de ouro. Para as freguesias com sede em povoação que são vila é de prata, com quatro torres aparentes. Para as freguesias com sede em povoação simples também é de prata mas apenas tem três torres aparentes, o listel – Fita onde se inscreve o grito de guerra ou a divisa e as condecorações

Nos primitivos brasões, tal como acontece hoje em dia, para se tornarem visíveis e identificarem quem os utilizava eram usados um número limitado de tintas – designação dada em heráldica quer aos metais quer aos esmaltes -– Que se pode ver; que não está interceptado por coisa que o oculte.

A propósito de visibilidade refira-se que nas coroas murais e nos coronéis, dado o seu formato circular, quando vistos na posição convencional, de frente, apenas é visível a metade voltada para o observador pelo que tudo o que figura na outra metade não é visível.

As tintas dividem-se em três grupos e têm nomes próprios para as distinguir. – Em heráldica apenas se utilizam como metais o ouro e a prata. Quando não são representados nas suas cores reais utiliza-se, respectivamente, o amarelo e o branco.

O vermelho, o azul, o negro, o verde e a púrpura chamam-se esmaltes – o nome que usualmente se dá às cores usadas na heráldica.

As peles – são forros que na heráldica englobam o arminho e os veiros e os seus contrários.

Como em todas as ciências, há regras próprias que têm de ser sempre cumpridas. As da heráldica são muito poucas e chamam-se leis heráldicas – conjunto de normas e regras, de carácter universal, que têm vindo a ser aplicadas desde a consolidação da heráldica enquanto ciência e arte e que regem, disciplinam e uniformizam a sua prática.

A primeira lei heráldica, é a lei da iluminura que proíbe colocar metal sobre metal ou esmalte sobre esmalte mas permite usar esmalte ou pele sobre metal e metal ou pele sobre esmalte.

A segunda é a lei da estilização. Para a cumprir todas as figuras podem ser representadas desde que sejam estilizadas e não figuradas tal como se apresentam ao observador. É graças a essa lei que novas figuras passaram a ser utilizadas, embora com aspecto diferente do que têm na realidade.

A terceira é a lei das proporções. Manda que tanto peças como figuras sejam desenhadas com arte, de tal forma que a composição seja harmónica – proporcionada, coerente, agradável de contemplar e agradável. Por isso devem preencher o campo do escudo mas não devem tocar nos seus limites.

Como já se disse é no escudo que se representa o brasão. A superfície do escudo chama-se campo – e é delimitada pelos bordos, sendo nela qual se representam peças e as figuras.

As peças – formas que se desenham no campo do escudo, constituídas por linhas geométricas, rectas e curvas, abrangem as fundamentais ou ordinárias, as diminutas e as derivadas. Quando uma peça não assenta directamente sobre o campo do escudo, mas sim noutra, diz-se que a primeira está carregada da segunda.

As figuras – o que se representa no escudo e não tem configuração geométrica, dividem-se em naturais, abrangendo seres humanos, animais, vegetais, minerais, elementos astros, etc. artificiais, abarcando objectos produzidos pela indústria humana; fantásticas, as que representam seres imaginários, frequentemente animais ou combinações de partes de animais e quiméricas ou fabulosas se representarem animais inexistentes.

Tal como na geografia também no campo existem áreas – espaço delimitado duma figura geométrica com nomes próprios. Conhece-los é fundamental para se saber que lugar – espaço ocupado por uma peça ou figura ocupam no campo do escudo.

Por outro lado, é muito importante saber a postura – situação ou lugar ocupado por uma peça ou figura heráldica e o alinhamento – posição relativa entre as das figuras ou peças.

No primeiro caso preocupamo-nos com a posição que têm no escudo. No segundo com a maneira como agrupamos duas ou mais peças ou figuras segundo determinado sentido.


A heráldica usa uma linguagem própria – maneira de mencionar ou descrever mediante qualquer sistema ou conjunto de sinais, fonéticos ou visuais, que servem para a expressão do pensar e sentir para descrever os brasões.

Deve ser sintética – diz-se de uma descrição resumida; precisa, – clara, exacta, rigorosa, que não permite induzir em dúvida e concisa – modo de exprimir conceitos e ideias com exactidão empregando o menor número possível de palavras se bem que, por vezes, se empreguem termos arcaicos – pertencentes ou próprios de tempos anteriores e não são usados na actualidade.

Os brasões são representados em diversos lugares e com funções específicas e finalidades diversas. Registe-se que as funções mais usuais são a identificadora, ligada á posse e a propriedade, e a sumptuária e a honorífica.

A este propósito é particularmente significativa a passagem, constante do texto das cartas de brasão de armas emitidas em Portugal: posa entrar em batalhas, O qual escudo, armas, a sinaes po / as trazer e traga o dito fulano, assim como as tro / cerão e dellas uzarão seus anteçe - / ssores, em todos os lugares de / honra, em que os ditos seus na - / tessecores, e os nobres, e antigos fi / dalgos sempre as custumarão tra / zer em tempo dos muy esclarecidos Reys meus na - / teçessores, e com ellascã - / pos, escaramuças, e exercitar com ellas todos os / outros actos licitos da guerra, e da pax, e assim as / posa trazer em seus firmaes, aneis, senetes, e deuizas / e as por em suas cazas, e edificios, e deixallas sobre / sua propria sepultura, e finalmente se servir e hon - / rar, gozar,e aproveitar dellas em todo, e por to - / do, como a sua nobrexa convem

Hoje, como no passado, a representação heráldica é figurada nos mais variados sítios e situações pelas mais diversas entidades. Em casas, automóveis ou móveis. Em peças de louça ou objectos de prata. Tanto num guardanapo de papel como na mais artística pintura. No mais discreto bilhete como no mais luxuoso convite.

Resulta daí a sua aplicação prática.

Deste modo, embora com origem no século XI, a heráldica, independentemente de regimes, convencionalismos ou práticas sociais, faz parte duma forma indelével e indeclinável do nosso quotidiano

É por isso que a heráldica é uma ciência viva, actual e dinâmica.

Angra do Heroísmo, 5 de Outubro de 2009

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – I

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – II

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – III

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – IV

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – V

HERÁLDICA – SUAS ORIGENS, EVOLUÇÃO, PRÁTICAS E
APLICAÇÕES – VI


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