Por: Segismundo Pinto
A evolução da arte da guerra verificada na Europa, a partir do século XII, dando mais destaque à cavalaria– instituição que se desenvolveu na vigência do sistema feudal aparecendo cerca do ano 1000, agrupava os cavaleiros que tinham sido submetidos aos ritos da iniciação e, consequentemente, armados cavaleiros, obedecendo a regras específicas e seguindo uma maneira de viver particular. Teoricamente, constituíam uma categoria social, aberta, não requerendo prévia nobreza para a ela pertencer pois, qualquer cavaleiro podia armar outro cavaleiro, conferindo-lha a Ordem da Cavalaria. Na prática, e sobretudo a partir do início do século XII, tendeu a confinar o recrutamento dos seus membros aos filhos de outros cavaleiros ou senhores de terras. Pressupondo grande disponibilidade financeira, necessária para custear o cavalo, o equipamento militar, a cerimónia e as festas da sagração, progressivamente foi deixando de ser considerada uma situação individual para se tornar uma instituição de carácter hereditário, o que implicou a fusão entre a cavalaria e a nobreza sendo, por isso, reservada aos estratos superiores da aristocracia e aos cavaleiros – indivíduos que, na Idade Média, combatiam a cavalo e, ou, tinham recebido a ordem da cavalaria. Pressupondo uma preparação específica, que decorria desde o início da puberdade, consagrada à aprendizagem dos rudimentos da equitação, da caça e do manejo das arma, prosseguia, entre os dezasseis e os vinte e três anos, com a apropriação de conhecimentos tendentes a transforma-lo num homem de guerra. Assim, desde que iniciada esta formação, e até ser ordenado cavaleiro, passa a ser designado como escudeiro, denominação que manterá caso nunca venha a ser armado cavaleiro. Essa cerimónia pressupunha uma preparação sacramental, com confissão e comunhão, uma vigília de armas, com a passagem duma noite, numa capela ou igreja, destinada a meditação. No decurso da cerimónia ocorria a bênção das armas, que o padrinho entregava ao afilhado de acordo com a seguinte ordem – espada e esporas, cota de malha e elmo, lança e escudo. Após ter envergado a nova indumentária e proferido juramento confirmativo do respeito pelos costumes e cumprimento das obrigações da cavalaria, o escudeiro recebia a acolade. De joelhos, face ao padrinho, o futuro cavaleiro recebia daquele, nos primeiros tempos, uma palmada, no ombro ou na nuca, substituída, mais tarde, por uma pancada seca dada com a lâmina duma espada no ombro, acompanhada da enunciação duma fórmula ritual, usualmente Em nome de Deus, de São Miguel e de São Jorge, eu te declaro cavaleiro. Após a sagração esperava-se que o novo cavaleiro tivesse um viver e um procedimento ético, exercitando as qualidades que era suposto ter: lealdade ao seu senhor e respeito pela fidelidade jurada; franqueza, bondade e nobreza de coração; piedade e temperança; coragem, força física e desdém pela fadiga, sofrimento e morte; consciência do seu valor e orgulho de pertencer a uma linhagem. Mas também, e sobretudo, largesse, isto é, desprendimento da posse e uso da riqueza, e courtoisie, expressões dificilmente traduzíveis em português, pelas quais se pode entender delicadeza no procedimento e fidalguia no comportamento.
(continua)
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
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