segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Cor do Vinho da Última Ceia (2)



O VINHO À MESA DOS JUDEUS

Por: Oliveira Figueiredo

Cada semana, na celebração do Sabbat, o vinho ocupa um lugar de primazia. A celebração começa na véspera, ao fim do dia, com uma refeição, iniciada com uma oração (Kidoush) sobre o vinho e o pão. A prece consiste no relato da criação. Concluída a recitação, o oficiante (o pai de família ou quem o represente) pronuncia a fórmula “Aquele que abençoa os frutos, abençoa o vinho” e bebe um gole do copo. Passa-o, em seguida, aos outros comensais, que repetem o acto.

O copo é cheio até aos bordos, uma vez que a abundância de vinho é sinal de riqueza e de bênção. Segue-se uma oração sobre o pão e começa a ceia. O termo do shabbat sábado ao fim da tarde, é assinalado com uma outra prece sobre o vinho, o “havdala2. À frente do oficiante são, então, colocados um copo cheio de vinho, algumas especiarias e uma vela. O oficiante acende-a e dá a bênção ao vinho “símbolo da alegria e da abundância”, às especiarias “cujo perfume é mais um sinal de alegria” e, finalmente, benze a vela acesa, pois o lume recorda que a luz foi criada no sábado á tarde. Recitados os louvores a deus que “separa o sagrado do profano”, bebe o vinho e verte uma parte dele para apagar a vela.

São quatro os copos de vinho rituais bebidos no primeiro dia (seder) da Páscoa (14 do Nisan).

Por quatro vezes, durante esta refeição, cada um dos comensais tem de esvaziar um copo de vinho coimo prova de gratidão para com Deus. Os quatro copos correspondem às quatro etapas da libertação em que se manifestou a intervenção divina. O primeiro é bebido a seguir à oração, encostado à mesa, para simbolizar a liberdade, pois era assim que bebiam os homens livres no antigo Egipto. O segundo é cheio durante a apresentação do prato de seder com todos os alimentos rituais e bebe-se acompanhado da enumeração das dez pragas do Egipto, um gole por cada uma. O terceiro bebe-se após a Bírkath Hlamazone, a oração com que se termina o repasto. O quarto, finalmente, *a despedida, com voto mútuo de “no próximo ano em Jerusalém”, recordando a destruição do Templo e ao mesmo reforçando a esperança do regresso a Israel.

Foi nessa altura do terceiro copo que Jesus Cristo confiou aos apóstolos o seu testamento, um pacto de amor, selado com o vinho que Ele disse ser “a taça da nova aliança”, “o sangue a derramar para salvação de muitos”.

Que vinho era aquele e de que cor? Tratava-se, sem dúvida alguma, de um vinho puro, Kasher, ou seja, vinificado conforme as prescrições do Talmude, que abrangem todo o processo, desde o cultivo da vinha até à vinificação propriamente dita, passando pela vindima.

Vinho puro significava, igualmente, vinho de muita qualidade, sobretudo para as libertações litúrgicas. Assim, as vinhas deveriam ser plantadas nos terrenos mais apropriados para o efeito. – Na vinificação, entretanto, não se utilizavam uvas provenientes de vinhas que tivessem sido adubadas para tornar a terra mais fértil, nem das vinhas regadas artificialmente, pela mão do homem (a água deveria ser de origem divina). (Esta é uma regra que ainda hoje os viticultores observam, como, aliás, a observam os Gregos e Romanos e não só os Judeus). Por outro lado, não utilizavam vinho feito de mosto concentrado por evaporação da água, nem proveniente de vides enxertadas, nem ainda de vinhas cercadas por regueiras.

Os interditos relativos ao vinho não vigoravam apenas entre os Judeus. Em Itália, nomeadamente, havia normas rigorosas para a pisa das uvas, como a obrigação de os pisadores lavarem bem os pés antes de entrarem no lagar, assim como a proibição de comer e beber dentro do balseiro e ainda de nele entrar e sair com frequência. Quem tivesse necessidade urgente de sair, tinha de calçar-se. Por outro lado, os pisadores deveriam estar vestidos concretamente com calções, por causa do suor.

Aida hoje os Judeus, onde quer que se encontrem, só bebem vinho Kasher nos seus actos religiosos e observam rigorosamente a tradição na produção do mesmo.


Continua

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