quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Cor do Vinho da Última Ceia (3)


Por: Oliveira Figueiredo

São duas as condições essenciais para que um vinho possa ser considerado Kasher. A primeira é a de que todo o material usado no processo de vinificação seja ele próprio Kasher. Os recipientes, tonéis e cubas, antes de serem utilizados, devem ser cheios de água três vezes, com intervalos de 24 horas e não podem conter nenhum resíduo de vinho não Kasher. As mangueiras devem ser “purificadas” com água a ferver e, eventualmente, com detergente. As cubas e tonéis devem ser seladas após cada operação, para garantir que ninguém que não sejam os operadores autorizados (judeus religiosos) tenha contacto físico com o vinho.

A segunda condição para o vinho Kasher é a de que só os Judeus religiosos podem tocar no produto ou nos equipamentos da adega.

Donde vinha o vinho que os judeus consumiram em Jerusalém no tempo de Jesus Cristo? Esta é uma das perguntas a que não se pode responder em termos absolutos. Mas podemos tentar uma aproximação à realidade.

O vinho já era conhecido nas terras de Israel, nos tempos pré-bíblicos, cerca de 2000 anos antes da vinha ter chegado à Europa. Tanto a Bíblia como as mais recentes descobertas científicas e arqueológicas revelam que a indústria vinícola dos antigos israelitas era um dos esteios da sua economia. A vitivinicultura atingiu o seu máximo no período referido como do segundo Templo, ou seja entre três a quatro séculos antes de Cristo.

Todavia, quando os Romanos destruíram o Templo (ano 70 da nossa era, os Judeus foram dispersos pelo mundo e o que outrora havia sido uma actividade florescente afundou-se.

Vejamos, entretanto, o que representaram a vinha e o vinho na história de Israel. No Antigo Testamento a vinha é a imagem do povo eleito (Isaías 5,7).Esta vide (o povo) foi arrancada por Deus do Egipto e plantada numa terra fértil depois de ter expulsado dali sete nações e tratou-a com desvelo (Salmos 80, 9-11). Ela, porém, em vez de produzir abrolhos (Isaías 5, 1-7) e converteu-se em Sarmento degenerado (Jeremias 2,21) ou ficou reduzida a lenha seca, que não presta senão para queimar (Ezequiel 15, 2-7), etc.

O vinho, por seu turno, também no Antigo Testamento, é considerado necessário para conservar a vida (Eclesiástico 39, 31):”As coisas necessárias à vida do homem são a água, o fogo, o sal, o mel, as uvas (“sumo dos cachos” segundo a tradução da Bíblia de Jerusalém), o azeite e o vestuário”. Os viajantes levavam-no consigo como parte dos seus farnéis (Juízes 19, 19); armazenava-se para fornecer às tropas que defendiam a cidade (2 Paralipómenos 11,11).

No tempo dos Macabeus (2 Mac 15, 40) era misturado com água.

Prémio ou castigo, Javé servia-se do vinho ora para abençoar ora para punir o seu povo, fazendo com que a colheita fosse abundante ou escassa, conforme as situações.

Admitindo esta regra, podemos concluir que o actual florescimento da vitivinicultura em Israel, com excelentes vinhos) brancos, tintos, rosés, espumantes e licorosos) como os que temos tido ocasião de provar durante a VINEXPO, em Bordéus, constitui uma prova de que Deus está satisfeito com os israelitas.

Note-se, porém, que se os actuais vinhos que povoam o território de Israel ocupam praticamente pos mesmos solos de há dois mil anos, pois foram plantadas de Bíblia na mão, as castas cabernet-sauvignon, grenache ou merlot, por exemplo das tintas e as chardonay, semilon, chenin blanc ou rieslig, entre outras, das brancas são muito diferentes (quando muito remotíssimas descendentes) das que os Judeus, comandados por Moisés, encontraram em Canaan, a terra Prometida.


Constituída a principal bebida dos banquetes; era mesmo usado como remédio capaz de fazer esquecer tristezas e melancolias (Provérbios 31, 6s; Jer.16,7) «de consolação pela morte dos pais”.

No campo religioso, contudo, não ocupa lugar de relevo. Sem constituir oferenda propriamente dita, figurava nas cerimónias religiosas apenas como acompanhamento de outros sacrifícios. Assim. Por exemplo quando se sacrificava um cordeiro, devia juntar-se, como libação, ¼ de hio (medida hebraica equivalente a 6, 56 litros), ou seja cerca de litro e meio de vinho (êxodo 29, 40 5; Números 15 5; 28, 7-9; 14).
No sacrifício de um carneiro a quantidade do vinho de libação era de 1/3 de hin, cerca de dois litros (Números 15 de hin, cerca de dois litros (Números 15, 7; 28, 14), enquanto no sacrifício de um bezerro a quantidade de vinho subia para ½ hin, ou seja três litros (Números 15, 10; 28, 7). Portanto, uma proporção directa da quantidade do vinho com o volume ou peso do animal sacrificado. O vinho, devia ser sempre fermentado (não bastava um simples mosto), (Números 28, 7) era derramado sobre o altar dos holocaustos (Eclesiástico 50, 17). Porém, bebia-se nos banquetes sacrificiais (Samuel1, 9-14).

Só tardiamente foi dado um significado especial de algum modo ligado religioso, ao vinho que acompanhava o cordeiro e outros manjares pascais. Foi Jesus quem o elevou a uma categoria suprema ao afirmar que aquele, ali, na última ceia, era o Seu sangue.

Continua

2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Com uns copitos e via-se logo Deus, e até se falava com ele.

Bago uva disse...

"Até ao terceiro copo os espíritos vão-se embora! Mas, com o quarto eles logo voltam".