quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Lua-de-mel ou o mel-da-sogra?

Uma das muitas frases com que já nos deparamos ao entrarmos conscientemente na vida e que utilizamos como “frases feitas” pela mesma razão que utilizamos sem discussão os primeiros cueiros ou a primeira camisa que nos vestiram, é esta velha e anacrónica forma de desejar “que os noivos tenham uma boa lua de mel”.
Esta metáfora, que todo o mundo aceita, não tem a explicação que nos vem à mente nos primeiros instantes de reflexão. Não quer dizer o desejo de que a vida dos nubentes decorra por muito tempo, tão doce como mel.
Linan y Heredia filiam-na no facto de o mel ser um elemento reparador r energético de primeira ordem. Em muitos países é costume a sogra do noivo oferecer aos recém-casados todas as manhãs a seguir ao dia nupcial e até que a lua mude, uma ração de mel. Quer isto dizer que o povo conhece o valor do mel como alimento, o indica para ser usado no momento em que a lógica o indica como necessário para reparar o esgotamento das forças.
Manejando os antigos cancioneiros populares espanhóis, que são fontes magníficas onde se aprendem os hábitos populares, D. Inácio Calvo encontrou as coplas seguintes, muito antigas e que revelam, em Espanha, o uso tradicional do mel nos noivados:

Quando querrá Dios del cielo
nos entren al despertar
el confortador consuelo
de miel de tu colmenar.

En esta pícara vida
solo la suegra una vez
com dulzura nos convida;
en mestra luna de miel.

Para mieles apurar
de las mieles de tu amor,
voy acicalado por
la miel de mi colmenar.


Em Itália há também uma vasta colecção de sentenças abonatórias de mel para alimento dos recém-casados.
Parece, portanto, que, nenhuma oferta será mais justificada, no dia da boda, do que a de um pote de mel.


Fonte: Notícias Agrícolas nº 379 – 30 de Maio de 1940

Sem comentários: