MOINHOS UMA HERANÇA A RESGATAR [1]
Victor Cardoso
Investigador
IV DAS CONCLUSÕES
Sem duvidas que esta foi mais uma excelente iniciativa, em boa hora iniciada e acarinhada por esta Escola, prolongando assim as comemorações do Dia Nacional dos Moinhos Abertos até ao ultimo dia do mês.
Este evento nacional, já na sua 4.ª edição e numa organização da Rede Portuguesa dos Moinhos atingiu este ano novo numero recorde com 143 moinhos visitados. O grande objectivo desta iniciativa, consiste em abrir se ao público para acesso livre, tantos moinhos quantos forem possíveis em todo o país. Torna-se assim importante passar e reforçar essa mensagem, porquanto o seu valor patrimonial é inestimável pela valia do acervo edificado, sendo o dos moinhos uma estrutura tradicional com grande impacto no território.
Deixar-vos como desafio e incentivo, dada a importância capital de que se reveste, no encetar-se a recolha de fontes orais, porque a matéria-prima essa existe ainda, em bom número e em qualidade, mas que não podem estar votada a calendarizações mediáticas – á que arregaçar mangas [!]
Tivemos hoje aqui um bom exemplo dessa atitude que importa empreender, com a presença dos mais “idosos”, possuidores de rica informação e saber armazenado pronto a disponibilizar. Por outro lado, muitos de vós terão seguramente parentesco ou uma relação directa com os moinhos e moleiros, pelo que é chegada a hora de se fazer alguma coisa, que seja a Escola a dar o primeiro passo, se o der, seguramente prestará um contributo para a salvaguarda do saber fazer e reforço na valorização destas questões culturais.
Que na próxima edição, surgem com novas iniciativas mais trabalhadas, divulgadas e conjuntas. Está-se praticamente a 1 ano de distância, tempo suficiente, para que se construa uma equipa de trabalho que elabore um programa de maior detalhe e alcance.
A importância da musealização dos territórios, sinalizando os factos da história produz um inquestionável valor às coisas do nosso património cultural e consequentemente activa o seu desenvolvimento, quer se esteja a falar de áreas rurais ou urbanas.
A criação destes produtos culturais, com a consequente valorização ambiental do património construído, enfileirado conjuntamente com o património natural e paisagístico que combinam e de que são parte de um todo que é e nossa paisagem são fundamentos sérios para a criação deste importante núcleo museológico e na sua ligação umbilical, deste, às actividades tradicionais com que se relacionam.
Concluindo, o resgate deste Património de que vos falei, deve ainda ser encarado como um factor de desenvolvimento socioeconómico fundamental para os nossos dois concelhos.
COMO NOTAS FINAIS
Dou-vos primeiro noticia, que na região o destaque vai uma vez mais para a Ilha de Santa Maria com o moinho de vento do Ginjal aberto, onde parece estar a soprar bons ventos nessas bandas de oriente no sentido de se iniciar a recuperação efectiva de mais moinhos. Por sua vez, na Ilha Graciosa o Moinho das Fontes, propriedade do “Museu da Região”, abriria também de novo a sua porta.
Por cá, o destaque por inteiro vai para o vosso moinho e para o moinho do Grupo Folclórico das Doze Ribeiras. São sem duvidas os nossos melhores embaixadores, devendo reforçar a sua presença activa neste evento com carácter anual – sugerindo-se, como já tive oportunidade de referir a vossa adesão à Rede Portuguesa dos Moinhos.
Sendo a vossa Escola uma unidade de ensino que “gere” também um vasto território nesse domínio, a par do formativo, isto porque o maior número de moinhos identificados se localiza na zona oeste e norte/nordeste da ilha, devem valer-se dessas valências e responsabilidade, ao mesmo estabelecendo parcerias, desde logo com o grupo Folclórico já identificado, com uma entidade cultural de relevo, que partilha este mesmo território, como seja o caso da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos. O Instituto Histórico da Ilha Terceira, que poderá dar um contributo na área de uma eventual publicação sobre o tema.
Estreitar laços com a Escola Secundária Manuel de Arriaga – Horta/Faial, através do seu Clube da Filatelia O Ilhéu e com Escola Professor Vitorino Nemésio da Praia da Vitória devem ser também encaradas.
Por ultimo a Criação de um Grupo dos Amigos dos Moinhos, pode ser mais uma janela de oportunidades para a valorização deste Património.
Devo concluir, tal como iniciei com uma citação de fontes, chamando em particular à atenção para a sensibilidade e o alcance visionário do autor, de que devemos reflectir.
“O moinho a água ou a vento pertence a uma época passada; o seu desaparecimento pode apenas olhar-se com certa melancolia. Em breve, junto dos ribeiros não restarão senão uns restos de paredes que as cheias do Inverno vão desmoronando aos poucos. E no alto dos outeiros, ou nas terras planas do litoral, o vento, em vez de mover as quatro velas brancas, assobiará apenas nos braços de uma entrosga presa ainda a um mastro partido”
Fernando Galhano, Moinhos e azenhas (pág. 130.)
Que os moinhos, voltem alguns a moer, a farinar, para produzir o nosso valioso pão rural, hoje tão apreciado. Que as ribeiras corram limpas e as levadas recuperadas, fazendo-se aquilo que lá fora já é uma realidade, ou seja implementar-se projectos de reúso da água [reutilização de água] e acreditar que é possível também ver-se de novo, azenhas e rodízios ao redor desta Ilha Redonda e novamente panos brancos amarrados nas varas dos moinhos, sinal de que os tempos podem mudar, quando alicerçados na vontade, porque o vento, esse continua a soprar, tal como a água a correr – Graças a Deus!
Foi com todo o gosto que partilhei convosco este tema, agradecendo uma vez mais o honroso convite para aqui estar, deixando nota, que estarei sempre ao dispor, para partilhar esta paixão pelos moinhos.
Enalteço uma vez mais a excelente iniciativa da Escola em dar relevo a esta temática, que quero acreditar será a mola para que os moinhos venham a ser objecto de um exemplar tratamento, daqui para a frente e que à muito se vinha justificando.
Registar ainda o perfeito cruzamento com um outro tema do nosso património imaterial como é o caso dos Maios e de terem juntado os Centros de Dia e de outras Escolas nesta data.
Que os moinhos da Ilha voltem, com um novo enquadramento, ao nosso quotidiano é a mensagem final que aqui vos quero deixar, restaurando-os e sublinhando a necessidade para esse RESGATE por se tornar imperioso fazê-lo!
O meu sincero obrigado
Victor Cardoso
30/04/2010
[1] Tema da palestra, inserida no Dia Nacional dos Moinhos, numa iniciativa da Escola Básica Integrada dos Biscoitos – Disciplina de E.T.
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