sábado, 5 de setembro de 2009

“A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo” - Por Margarida Pires

(Continuação)

É com muito gosto que aqui me encontro a participar uma vez mais na XVIII Festa da Vinha e do Vinho dos Biscoitos, embora desta vez com uma responsabilidade acrescida que é a de falar para tão ilustre assembleia.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer a disponibilidade e empenho da Casa Agrícola Brum, sem a qual esta festa não seria possível. Apesar do tema deste colóquio ser a “Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo”, não poderei como Guia deixar de abordar outros aspectos importantes desta freguesia. Quando falamos dos Biscoitos, as primeiras imagens que nos vêm ao pensamento são a vinha, o vinho e o mar, mas esta freguesia é muito mais que isto, porque neste lugar se pode contar toda a história da ilha Terceira desde o seu povoamento até aos dias de hoje, senão vejamos: Os Biscoitos são o local ideal para se falar do modelo de ocupação das terras em anel, também conhecida como “roda do capote”, ou seja, ocupação de áreas até aos 300m de altitude, claramente privilegiando as zonas litorais, onde se encontrava a melhor terra para cultivo, designadas de terras altas, deixando as terras situadas em altitudes mais elevadas para criação de gado e produção de madeira. As torrentes de lava que penetram escuras no mar, foram aproveitadas para plantação de vinhedos estreitamente murados para proteger dos ventos salgados. E quando falamos de terras não podemos deixar de falar nas “dadas”, nas sesmarias, e nos morgadios, pois Antão Martins Homem, capitão da Praia, logo em 1486 outorga uma carta de sesmaria a Pêro Álvares, primeiro povoador da actual área dos Biscoitos, mais tarde, ao tempo de Pêro Enes do Canto, os Biscoitos eram um morgado. Mas falar dos Biscoitos, é falar do mar, do arquipélago, dos descobrimentos, da emigração e da condição de ser ilhéu. Nos Biscoitos de Pêro Anes do Canto, podemos falar da Provedoria das Armadas e do seu provedor, Pêro Anes do Canto, da pirataria e do domínio Filipino. Dos Biscoitos, sentimos que somos ilhéus, pois em dias limpos vemos a ilha Graciosa. Dos Biscoitos partiam corajosos homens que ganhavam e perdiam a vida no mar, à pesca e à caça da baleia. Os Biscoitos são o testemunho vivo do vulcanismo desta ilha, da formação do arquipélago, da sismicidade, da lava que brotava dos vulcões e que correndo em direcção ao mar formou áreas de pedra escura que foram berço das cepas das videiras que deram o vinho que abastecia as naus. Nos Biscoitos podemos falar do clima da ilha e dos Açores. Dos ventos húmidos predominantes do sul, e que interceptados pela serra de Santa Bárbara, perdem humidade à passagem para a costa norte, e que são responsáveis pela criação do micro clima que aqui se desfruta.

(Continua)

Sem comentários: