Sempre que as férias se aproximam, lembro-me do “papel”…da necessidade do “papel”..e lembro-me também de uma historia com algumas dezenas de anos, contada por um familiar que esteve na Guiné, e cujo protagonista era “o papel”.
Decorria os anos sessenta e a guerrilha era dura nessa nossa ex-colónia. Sem entrar em pormenores que poderiam ferir a sensibilidade de portugueses do séc. XXI, conta esse familiar, que um certo oficial, começou a incluir nas suas conversas, despropositadamente, a pergunta “ e o papel?” Quando perguntavam do que se tratava, ele ignorava e seguia a conversa o seu curso, como se nada de estranho tivesse ocorrido. Tantas foram as vezes que isso sucedeu, que foi levado pelos colegas e contra a sua vontade ao médico, garantindo sempre que nada de mal se passava com ele.Diagnostico do médico – problemas mentais que aconselhavam o seu regresso á metrópole.
Ao subir as escadas do avião, um colega pergunta-lhe, em tom de brincadeira:
- Então e o papel? - Ao que ele responde, sacando do bolso a Guia de Marcha e levantando-o com ar triunfante
- O papel …tá aqui!
Ora “o papel” que me atormenta não é uma guia de marcha, mas “o papel” que tenho, que entregar na SATA, sempre que os meus filhos, estudantes em Lisboa viajam, para auferir de um desconto de aproximadamente 40€ num bilhete de mais de 200.
Começo a pedir-lhes um mês antes, “tem de ir à secretaria carimbar o papel da SATA”, uma folhinha que além da identificação do aluno, da data de matricula, do inicio e do fim do ano (que nunca sabem ao certo e por isso tem datas diferentes de período para período) leva uma rubrica que ninguém identifica, e um carimbo, porque não há “papel” que se preze que não leve um carimbo.
As senhoras das secretarias chateiam-se com aqueles ilhéus que trazem mais aquele papel para carimbar, os rapazes chateiam-se pelo tempo que perdem á espera do carimbo do “papel”, e os pais chateiam-se porque eles não trazem naquelas férias “ o papel” e lá terão que desembolsar mais 120 € alem dos 750 que teria de pagar (tenho três filhos e estes foram os preços que paguei em Janeiro de 2009).
Será que nas épocas de hoje, os cartões electrónicos de estudantes, que os identificam, ao ano/curso e Universidade frequentam” não poderiam, conjuntamente com o Bilhete de Identidade e Nº de Contribuinte ser suficientes, para confirmar a situação de estudante açoriano no continente.??
Porque toda essa burocracia? Será que evitam usos indevidos da rica tarifa de estudante? Tenho dúvidas, muitas dúvidas. Quando se quer dar a volta ao sistema consegue-se sempre, e não é “ um papel” que o vai impedir.
Mas entretanto tenho que me sentir muito orgulhosa, por viver numa região tão PRÁFRENTEX em que os pais para garantir que os seus filhos venham passar umas feriazinhas – de avião que é coisa de ricos e até poderíamos optar por transportes alternativos – tem que pagar a tal quantia acima mencionada, mas no Verão …no Verão não têm que se preocupar com as Férias e as viagens. É que para irem para espectáculos que propiciam “ajuntamentos de carácter duvidoso”, e eles são Cais de Agosto, de Julho de Setembro, e são Marés e são Semanas, e são Festas Daqui e Dacolá, por tudo isto meus senhores, eles pagam UM EURO, no Barquinho da Alegria. Que isto de estudar não dá saúde a ninguém, é para aqueles que não sabem fazer outra coisa da vida, há é que divertir e propiciar á rapaziada locais de diversão onde os usos e abusos, apanágio da idade, se farão certamente evidenciar.
Mas o Verão ainda vem longe, e ainda terei algum tempo para preparar os meus argumentos para os convencer a não irem, á Maré e à Festa da Praia e ao Cais de Agosto, embora tenha consciência que cada vez a luta é mais desequilibrada.
O que sei é que mais uma vez aguardo a chegada dos meus filhos nesta Páscoa, fazendo “figas “ para que tragam o famigerado “ papel”.
PS. As férias da Páscoa já terminaram, e desta vez trouxeram o rico “Papel”, o que não impediu contudo outros contratempos com a nossa rica Transportadora Aérea. Mas isto… são contas de outro rosário.
Maria Garcia
Sem comentários:
Enviar um comentário