quarta-feira, 27 de maio de 2009

APRESENTAÇÃO – DOM DUARTE E A DEMOCRACIA – UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA 25 DE MAIO DE 2009


(continuação)

3 – DOM DUARTE E A DOUTRINA MONÁRQUICA

Um dos aspectos mais esclarecedores e apaixonantes desta biografia consiste na necessidade sentida por Sua Alteza de clarificar a doutrina monárquica. Afirma-se que «Dom Duarte lamenta que os monárquicos sejam conotados com gente de direita» (92), militando sempre por desfazer a associação entre “monarquia” e “reaccionarismo”. Aliás, a nossa História recente mostra bem o contributo dos monárquicos na resistência à ditadura. O facto de o Doutor Salazar, com máxima ironia, ter perguntado se os monárquicos «enfiavam o barrete frígio» (89), de ter exercido uma ardilosa contemporização com as aspirações monárquico-democráticas e ainda a manipulação que exerceu sobre os bens da Casa de Bragança mostra o quão consciente era daquilo que o separava de um verdadeiro regime monárquico. Por outro lado, o controlo a que a PIDE (89) submetia a oposição monárquica à II República e as repressões na sequência do 12 de Março de 1959 (90) comprovam à saciedade o confronto das duas posições. Depois de Abril de 74, as forças monárquicas deram provas cabais da sua plena integração no sistema democrático. É bem verdade que nem toda a direita é reaccionária, mas, pela minha parte confesso que só pela leitura deste livro entendi a fundo a pertinência desta questão; ela é verdadeiramente vital para a definição e estabelecimento de uma monarquia democrática, como todos desejamos. (Permitam que lembre, entre parênteses, que a coexistência do Presidente e do Secretário da Direcção da Real Associação da Ilha Terceira são prova de um entendimento e cooperação em nome de interesses bem superiores.) Na pessoa de Sua Alteza, podemos ver a prudência dos reis e a concretização de um espírito imparcial e soberano, fidelíssimo ao bem do Povo e da sua idiossincrasia. Sem nunca negar os valores cristãos, e por isso, universalistas e abertos e tolerantes, desde a defesa da vida humana em todas as suas fases, à justiça e ao bem-estar das populações. É todo um programa de vida, a que chamaremos régio, sem haver lugar para nenhuma ironia. Este livro é a prova de um rei em exercício, que soube e sabe reinar à maneira do Evangelho, pelo serviço. E aqui não há exagero. A vida de Dom Duarte, tal como é magistralmente descrita, e sabemos que assim é, pretende desfazer o lamentável equívoco que associa «democracia com república e monarquia com ditadura» (94). Por muito que tenha sido feito, muito há a fazer neste sentido, sobretudo no combate contra esse pecado mortal do nosso século que dá pelo nome de indiferença.

(continua)

Sem comentários: