Apesar de estar a convalescer, na minha casa da Amadora, duma intervenção cirúrgica, no dia 6 de Dezembro último, pude, diga-se com o maior prazer, estar presente naquela que foi uma das maiores homenagens que se fez, em vida, a um politico português.
O grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian e respectivos espaços circundantes foram pequenos para receber tanta gente, Presentes pessoas de todos os quadrantes políticos e mais diversas ideologias.
Uma manifestação invulgar e de subido significado que só podia acontecer a uma figura com rara estatura, a todos os níveis, o Gonçalo Pereira Ribeiro Telles.
Fui, como não podia deixar de o fazer, abraçá-lo, sentindo que este nosso encontro e conversa teve expressivo e mútuo contentamento. Aí vi outro açoriano, o jovem terceirense Luís Fernando Pinheiro Brum, um arquitecto paisagista que, acompanhado de colegas, quis manifestar o quanto admiram o Mestre.
Comecei a ouvir falar do Gonçalo em 1959, mas só o conheci pessoalmente no inicio dos anos sessenta, por volta de 1963, quando integrei a Secção Liceal de Lisboa da Comissão de Juventude da Causa Monárquica, apresentado a ele por Fernando Amado, ao mesmo tempo que Francisco Sousa Tavares, Henrique Barrilaro Ruas, João Camossa de Saldanha e outros, que de vez em quando participavam em conversas politicas que se faziam no 46, 2º andar do Largo Camões e alternadamente, em dois lugares das imediações, para despiste do pseudo vendedor de gravatas, que não era mais do que um informador da PIDE responsável pela vigilância do que se passava na Causa Monárquica e sobretudo quanto às movimentações desta gente que “ desencaminhava da situação”…
Iniciei a colaboração em “O Debate” (Lisboa), em 1962. Mais tarde, quando já regressado aos Açores (Faial e Terceira), o Gonçalo punha-me a par da acção da Convergência Monárquica e tempos depois convidou-me para aderir ao P.P.M., partido de que foi co-fundador e liderou com sucesso. Recordo o quanto tornou a instituição monárquica simpática e bem aceite aos portugueses. Nunca mais o P.P.M. voltou a ser o que foi após a sua saída que, aliás, levou consigo imensos militantes, incluindo eu próprio.
Mas, voltando à grande homenagem, que é o tema deste escrito, ela realizou-se sob o signo: Sabedoria, Coerência, Visão: GONÇALO RIBEIRO TELLES – Um Homem de serviço. A Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Nacional de Cultura, com a colaboração de Aurora Carapinha (hoje catedrática da Universidade de Évora e antiga aluna de G.R.T. na mesma Universidade) foram os promotores desta evocação que se estendeu ao longo de todo esse dia.
Na abertura falaram Guilherme d’Oliveira Martins e Emílio Rui Vilar. Depois, sobre O HOMEM ouviram-se declarações de António Barreto, Eduardo Lourenço e Dom Manuel Clemente. Como O POLITICO, falou Augusto Ferreira do Amaral, Luís Coimbra e Diogo Freitas do Amaral. Do O PROFESSOR, dissertou Carlos Braumann, Aurora Carapinha e Ário Lobo de Azevedo. Sobre O VISIONÁRIO, encarregou-se Manuela Raposo de Magalhães, Nuno Portas. Margarida Cancela d’Abreu e Viriato Soromenho Marques. Em tempo de DEPOIMENTOS, depôs Dom Duarte de Bragança, Miguel Sousa Tavares, Pedro Roseta, António Ramalho Eanes, Mário Soares, Francisco Pinto Balsemão, Jorge Paiva, Maria Calado, Alberto Vaz da Silva e outros.
Lembramos que o Gonçalo é o único fundador vivo do Centro Nacional de Cultura. Vai completar 90 anos de idade no próximo dia 25 de Maio.
Antes do encerramento do evento, foi apresentada por Alexandre Cancela d'Abreu uma excepcional fotobiografia do homenageado. Livro que reúne mais de 230 imagens seleccionada pelo seu autor o arquitecto paisagista Fernando Santos Pessoa que compilou e organizou o seu conteúdo, fruto de cuidadosa pesquisa e saber, mostrando sobretudo conhecimento e profunda admiração pelo biografado, não fosse Fernando S. Pessoa um dos colaboradores mais chegados e admirados por G.R.T..
Sobre o muito que foi dito refiro apenas o que o Miguel Sousa Tavares escreveu e disse: “Sá Carneiro teve a percepção da necessidade das politicas que G.R.T. defendia há muitos anos e chamou-o para o governo, onde este inventou uma coisa que ninguém sabia o que era e para que servia” e não resisto a transcrever apenas mais 2 parágrafos do extraordinário texto do Miguel Sousa Tavares. “Gonçalo Ribeiro Telles inventou a política de Ambiente, criou o Ministério (que, depois dele, nenhum governo entendeu mais a sua utilidade) e foi ainda a tempo, na sua governação de lançar as leis sobre a Reserva Agrícola e a Reserva Ecológica Nacional – as quais, apesar de tão esquarteladas, excepcionadas, autarquizadas e transaccionadas em projectos PIN e outras batotas que tais, são hoje o travão que nos resta ao simples fartar vilanagem, em matéria ambiental e territorial”.
Ainda do Miguel: “Com essa invocada superioridade de quem dizia representar a modernidade contra a estagnação, as ideias de Gonçalo Ribeiro Telles foram chutadas para o caixote do lixo da história, até descobrirem, tarde e a más horas, que, afinal, eram elas a modernidade.”
Falar do currículo do Gonçalo, será difícil pela sua invulgar extensão, desde o engenheiro agrónomo e arquitecto paisagista pelo I.S.A., ao Sub-secretário e Secretário de Estado do Ambiente, em vários Governos, ao Ministro de Estado e Ministro da Qualidade de Vida, ao deputado, ao vereador da Câmara Municipal de Lisboa, ao Professor Emérito e Honoris Causa pela Universidade de Évora, ao Chanceler das Ordens Nacionais, ao detentor de Grã – Cruzes como da Ordem Militar de Cristo, da Ordem da Liberdade, da Ordem Militar de Santiago da Espada, da Ordem Equestre da Santo Sepulcro de Jerusalém, da Ordem de N.ª S.ª da Conceição de Vila Viçosa, da Ordem de Mérito da República Italiana, da Ordem da Bandeira com rubis da República Popular Húngara, etc. etc. Recebeu dezenas de veneras de Municípios Portugueses e Prémios, como o da Latinidade 2010 da União Latina. Galardoado bastas vezes pela sua imensa obra como arquitecto paisagista de que se destacam os jardins com que dotou Lisboa, sem esquecer o da Gulbenkian que é considerado um dos seus melhores e mais bem concebidos projectos. Agora a ser remodelado novamente sob a sua direcção.
Gonçalo Ribeiro Telles visitou a Ilha Terceira, que me recorde, pelo menos 4 vezes. Esteve nos Biscoitos, lamentando algumas incongruências no terreno e escreveu um artigo sobre o assunto para a revista "Verdelho".
É Confrade de Mérito da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos. E segundo me disse tem muita honra nessa especial distinção, embora pertença a outras confrarias e irmandades nacionais.
Angra, no Dia de Reis de 2012
J.B.B. escreve de acordo com a antiga ortografia
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