domingo, 25 de janeiro de 2009

Há 72 anos (4)

Construções urbanas

Conveniência do seu facies regional; materiais de construção; sua salubridade.

Por: J. Soares de Lacerda.

(continuação)

Os municípios deveriam ter uns três ou quatro tipos de plantas de habitação subordinadas a estes requisitos, à sua escolha.
O construtor nada mais teria do que seguir essa planta empregando unicamente os materiais nela indicados.
Tanto as cidades como as aldeias açorianas ficariam dentro de algumas dentro de algumas dezenas de anos com habitações bem regionais e a sua balança comercial teria lucrado imenso.
Para dar uma ideia do que poderia ser esta habitação eu não teria dúvida de construir na cidade de Angra uma, feita pelos mestres de canteiro que apontei, desde que obtivesse um terreno desafogado e amplo nas imediações da cidade.
Julgo ser um dever dos governantes orientar a economia do seu meio e estou certo de que haverá quem se detenha sobre este assunto e o resolva.
O problema das construções tem ainda de ser estudado sob o ponto de vista espiritual.
Pobre ou rico, operário ou industrial, todos têm uma alma mais ou menos sensível ao meio que o rodeia, susceptível de se modificar ao contacto do conjunto que a envolve.
Se em sua volta existir a beleza, essa alma sentirá impulsos nobres, generosos, amará os seus pensamentos, as suas tradições, a sua vida. A casa, florida, alegre, risonha, cheia de luz e de ar será um elo entre a família que se sentirá feliz no seu seio.
Faltando-lhe essas condições, a família será um fardo insuportável, a habitação um túmulo pestilento a afastar de si o seu morador: nessa altura estará sempre latente a revolta, a tristeza, os pensamentos sombrios, a indiferença pelo bem colectivo e por conseguinte o sentimento Pátrio nada terá da sua essência.
Não se pense que só o rico pode ter uma casa alegre; o pobre pode tê-la também.
Imaginai uma construção pequena ou grande, isolada no meio de uma horta salubre; por todos os lados a luz e o ar entrando a jorros; em frente, um pequeno jardim coberto de rosas ou outras flores. O muro do caminho, baixo encimado por pequeno gradeamento revestido de roseiras trepadoras, com seu portal ao centro; na parte anterior um espaço desafogado para manter a cultura anual das hortaliças, e tereis um lar modelo.
Quanto simples e económico uma vivenda em tais condições!
Angra tem a tendência para o aglomerado: daí resulta uma parte da sua insalubridade. É necessário fazê-la crescer.
Porque se não abre uma avenida a partir do portão do Pátio do Conde junto ao Chafariz Velho, indo em linha recta até à Ladeira Branca?
Dum e outro lado fornecer-se-iam terrenos de, pelo menos, um alqueire a todos os que desejassem construir, conformando-se com una modelos especiais, embora condicionados no sumptuoso às posses de cada um.
O rico faria uma vivenda luxuosa; o pobre uma vivenda modesta, mas uma e outra seriam alegres, risonhas, cheias de ar e luz, de flores, salubres.
Bem mereceria essa avenida de ensaio o nome de Avenida das Flores.
Para não haver desarmonia, a Câmara determinaria com exactidão a distância a que as fachadas deviam ficar retiradas do muro de vedação do caminho e bem assim, os materiais a empregar, a escolha dum dos modelos adoptados, etc.

No Açores. 1937.páginas 85 a 91

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