sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Há 72 anos (3)


Construções urbanas

Conveniência do seu facies regional; materiais de construção; sua salubridade.

(continuação)

Por: J. Soares de Lacerda.

2.º- Procurando e determinando a natureza e condições a que a pedra deve obedecer, pedra essa que em todas as ilhas existe com pequenas alterações e que deve satisfazer aos seguintes requisitos:
(a)-não porosa.
(b) -não ser atacável pelos ácidos existentes na atmosfera do meio (o cloro especialmente).
(c) - não ser muito rija e estaladiça.

Em todas as ilhas há grande quantidade de pedra satisfazendo a estes requisitos.
Há um basalto cinzento-escuro, dum favadinho todo regular e miudinho, cujo feldspato como poroso que é todo, absorveu no estado ígneo bastante fluido o quartzo também líquido que o permeava: disso resultou ficar essa massa como se fora um vidro.

De permeio e ainda com uma certa regularidade de distribuição encontra-se nesta massa, abundância de quartzo em cristais, alguma magnetite, mica preta e branca, azorite, olivina, etc.Este conjunto torna por isso o basalto a que me refiro, uma substância nada porosa e ao mesmo tempo tenra e nada quebradiça prestando-se muito bem a uma britadura e lavoura finas desde que os operários sejam pacientemente preparados.

As partes que num edifício em construção feita com este basalto, têm de ficar a descoberto, e à acção directa das intempéries, jamais se desagregarão mesmo que os séculos por aí passem. E que lindo que é o aspecto dessa obra assim feita?

Escuso encarecer esta qualidade importante de resistência porque a pedra não carece de conservação e não exige despesa alguma.

Construir uma obra no basalto, geralmente cá usado na Terceira, é um erro imperdoável. É eminentemente desagregável.

De que serviu construir-se o Colégio de Ponta Delgada, com as suas finas e rendilhadas linhas exteriores nesta ordinária pedra só porque era mais fácil de lavrar? Um descuido na sua conservação foi o bastante para que a desagregação inutilizasse o paciente trabalho dos seus canteiros. O homem deve legar aos vindouros alguma coisa de firme e estável a afirmar o seu saber e a sua tenacidade.

Há também um ponto importante a observar em favor da salubridade, economia e segurança da habitação: a argamassa carece de ser expurgada de substâncias impróprias que se desagreguem prontamente e que sejam porosas.

Deve preferir-se a argamassa feita com cal e areia chiante.

Nos alicerces deve haver uma camada, embora delgada, de argamassa unindo as pedras para formarem uma primeira barreira contra o rato e contra a humidade do solo; na altura dos pavimentos e dos tirantes a mesma coisa.

(Continua)

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