quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ano Novo

NOVO ANO

Ao bater da meia-noite,
E pelos portais da Glória,
Cercado d’ irradiações
De uma luz extra-terrestre,
Sai aos ombros de anjos quatro,
Na cadeira gestatória
------------------------São Silvestre.

Mais formoso que um rei mago
De tiara, leva ao peito
Três estrelas reluzentes,
Arrancadas da amplidão.
Seu anel pontifical
Dir-se-ia que fora feito,
Para usá-lo tal e qual,
-----------------------Salomão.

Tem nos pés as sete jóias
Da Grande Ursa adamantina;
Grande capa constelada,
Oiro fino em fundo azul;
E no broche com que a prende
Resplandece-lhe a divina
---------------------Cruz do sul.

Vai às bandas do Oriente
Encontrar o róseo barco
Em que trás, a mão da Aurora,
Triunfante o rei Janeiro!
Despejou Dezembro a aljava,
Seta a seta, pelo arco
-------------------Do Arqueiro.

A beira negra do abismo
Misterioso do Eterno
O gigante Sagitário
Não se cansa de frechar;
Encostado ao pólo frio,
Amparado pelo Inverno,
-------------------Sobre o mar.

Cada seta que dispara,
Cada seta é uma hora;
Doze aljavas, cada ano,
Lhe destina o rei Janeiro;
E na sombra se destaca
A figura vencedora
-------------------Do Arqueiro.

Do gigante em derredor,
A voarem sem sossego,
Andam almas, que se foram
Procurando a eterna paz.
Bate as asas membranosas
De noctívago morcego
--------------------Satanás.

São Silvestre, sob o palio,
Matizado de virtudes,
Do celeste Vaticano
Chega aos míticos umbrais,
Coros d’anjos, vespertinos,
Em celestes alaúdes,
Loas cantam, cantam hinos
------------------- Imortais

Reza o santo e pontifica;
E ao mirar que chega o barco
Em que a rubra Aurora trás
Triunfante o rei Janeiro,
Ante Deus bem-diz o mundo,
E o seu braço abrange o Arco
--------------------E o Arqueiro.


Fernando Costa (trad.) no Açores - ano X-1914

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