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A Coroa do Espírito Santo
“Um dos símbolos da iconografia do Espírito Santo é a Coroa do Divino Espírito Santo.
Pertença do Império, as coroas são na sua maioria de prata batida, lavrada, contendo variados signos paracláticos (água, ar, p. ex.), havendo também as de casquinha. Possuem vários tamanhos.
As coroas apresentam-se com quatro imperiais (hastes ou braços), cinco e actualmente com seis hastes, com o aro em relevo. No cimo, uma pomba de asas abertas pousada sobre uma esfera simbolizando o globo terrestre, isto nas mais recentes. Nas mais antigas, a pomba é substituída pela cruz latina.
No mesmo material, conclui a salva (prato liso com cercadura em relevo e pé alargado (chamado de pé da salva que serve para apoiar a coroa no altar ou na mesa)) e o ceptro (pequena vara com cerca de 35 a 40 centímetros) com a pomba colocada na extremidade mais delgada.
Todo o conjunto é enfeitado com flores em tecido de cambraia. No ceptro amarra-se um laço comprido de fita branca. Na base da coroa, o aro, é colocado uma pano vermelho com a finalidade de segurar a coroa na cabeça.
Para receber a decoração, as coroas são previamente limpas com preparos químicos apenas utilizados nas ourivesarias, a exemplo da Ourivesaria Soveta que anualmente procede à limpeza de um grande número de coroas.
As coroas mais antigas (século XVII, Coroa da Irmandade do Espírito Santo da Nossa Senhora dos Anjos, ilha de Santa Maria) eram fabricadas com a autorização do Rei e semelhantes à coroa real. Com o passar dos anos, sofreram alterações. É, também, nas coroas primitivas que se vê o maior empenho dos artificies, toda a simbologia paraclatiana.
As coroas foram trazidas para os Açores pelos capitães donatários que, em dia de Pentecostes usavam o mesmo cerimonial iniciado na corte de D. Dinis e D. Isabel. Muitas das vezes, as coroas saíam à rua quando à fúria da natureza se fazia sentir, em especial os abalos e as erupções vulcânicas. Com a coroa pousada num estrado improvisado, as populações imploravam clemência do Paracleto, entoando orações
Com o passar do tempo, o culto passou para as mãos do povo, democratizando-se. Aparecem as Irmandades do Espírito Santo e uma maior proliferação de coroas. Das casas dos fidalgos, as coroas passam a ser cuidadosamente guardadas em pequenos edifícios de cariz comunitário chamados de Império. Em muitas destas edificações, uma coroa de pedra domina os frontispícios.
Também, muitas casas enquadradas na dominada Arquitectura Popular do Ramo Grande, concelho da Praia da Vitória, possuem coras de relevo, em pedra de cantaria, entendidas como marcas de posse.
No contexto das festividades do Espírito Santo, a coroa assume papel de destaque quando colocada no trono, quando integrada nos cortejos e, sobretudo quando colocada na cabeça, na missa da coroação.
Todavia, e como pude constatar através desta entrevista e trabalho de pesquisa, existem algumas pessoas, ditas curiosas, que limpam e efectuam reparações indiscriminadamente, provocando nas coroas, em muitos dos casos, danos irreparáveis. Acho, que já é hora de se proceder a uma investigação e inventariação ao longo do arquipélago destes símbolos do Espírito Santo, para salvaguarda deste património.”
CARREIRO, TIBÉRIO e MARQUES, RUI –“Figueiras do Paim –O Império da Caridade”, 2001
FÉLIX, EMANUEL – “ Iconografia e Simbologia do Espírito Santo nos Açores”. Edição Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, 1996
In A União de 4 de Maio de 2002
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