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Na gastronomia, o bom vinho foi desde sempre indispensável.
Temos o exemplo da Alcatra, prato típico da ilha Terceira, confeccionado em alguidar de barro da terra, onde o vinho branco de mesa ou generoso seco velho, desde há muito, faz parte da alimentação das gentes da Ilha, principalmente quando da realização das festas anuais de cada freguesia. Aliás, sendo uma boa parte das vinhas da orla marítima dos Biscoitos pertença de proprietários dessas freguesias, principalmente do "Ramo Grande", a paisagem vitícola biscoitense era desprovida de adegas e moradias, dominando a pedra de basalto das travessas das curraletas e os biscoitos que constituem a calçada das mesmas, substituindo estas as poucas horas de sol, simultaneamente dando lugar a uma autêntica estufa, a grande responsável pelos bons vinhos brancos dos Biscoitos da ilha Terceira.
Após a invasão do filoxera nos Açores (cerca do ano de 1870) e com a introdução dos híbridos e dos produtores directos, sendo estes vinhos mais baratos e dependendo do gosto de cada um, o vinho da casta "Isabella", assim como outros parentes próximos, mais conhecido nos Açores por "vinho de cheiro", (há quem o rotule simplesmente de Tinto e no continente português de morangueiro ou americano), passou também a ser utilizado na Alcatra. Mas quem prova ou almoça uma Alcatra com Vinho de Verdelho nunca mais esquece este ícone da gastronomia da ilha Terceira.
Foi o que sucedeu com o formidável almoço após a Entronização de Confrades do Vinho Verdelho dos Biscoitos no dia 10 de Março deste ano, na Casa dos Açores em Lisboa, do qual já nos referimos. Um almoço onde foi cuidadosamente explicado pelos confrades o significado da disposição das mesas numa Função do Espírito Santo e a confecção dos pratos, incluindo a Alcatra e claro está o Vinho de Verdelho dos Biscoitos!
Antes de ser servida esta especialidade da Terceira, coube a vez do Confrade Paulo Caetano Ferreira, proferir algumas palavras que, com a devida vénia, aqui reproduzimos:
Quis o acaso que poucos dias depois de ser comercializada pela primeira vez a "Carne dos Açores", IGP (Indicação Geográfica Protegida), a Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos realizasse esta Entronização.
A carne que hoje utilizámos na confecção deste almoço regional, apesar de não ter aquela designação, pelo modo como foi criada, oferece as mesmas garantias de qualidade organoléptica e rastreabilidade.
O método de produção que permite obter a certificação e correspondente marca "Carne dos Açores" é sustentável económica e ambientalmente, com claros benefícios para os consumidores e produtores. Este gado tem que ser criado em pastoreio. A erva é o alimento mais barato que se pode dar ao gado e é um alimento que só pode ser utilizado por ruminantes, ao contrário, por exemplo, dos cereais que também podem serem consumidos pelo Homem e com melhor eficiência.Criado em pastoreio, em sintonia com a Natureza, este gado é mais saudável, a sua carne, vermelho escuro, é mais nutritiva, tem um sabor característico, agradável. É rica em ácido linoleico conjugado e ómega 3. Estes, e baseando-me em investigação feita desde a Nova Zelândia, passando pelos E.U.A., pelo Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, até ao resto da Europa, são comprovadamente benéficos para a saúde.
P.S. As fotografias foram gentilmente cedidas pelos Engenheiros Ana Luísa Pavão e Paulo Caetano Ferreira.
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