1- Todo o bom contador de anedotas inclui no seu reportório um bom número daquelas em que se fazem comparações entre os comportamentos de cidadãos de várias nacionalidades, face a situações concretas, nas quais se plasmam, de forma jocosa, idiossincrasias especificas, existentes na realidade, ou apenas na ideia que fazemos dos outros.
Estas estórias têm um denominador comum: o “bom da fita” é sempre o português, o qual, nas mesmas, desempenha invariavelmente o papel do mais esperto, do mais criativo, do mais expedito, daquele que leva a palma a todos os demais…
2- O tema que hoje vamos aqui abordar, sendo extremamente sério, permite todavia fazer, também, o cotejo entre três tipos de “comportamento nacional” face à importante questão que é a ligação existente entre o Vinho e a Saúde, ou seja, a dos efeitos do consumo moderado de Vinho sobre a Saúde humana.
Infelizmente, neste caso, e ao contrário do que sucede nos chistes, o “desempenho” português deixa bastante a desejar…
3- O que nos propomos comparar é a “atitude” das sociedades francesa, norte-americana e portuguesa relativamente ao consumo de Vinho, e as repercussões daí decorrentes sobre o estado sanitário das respectivas populações. Cada uma delas apresenta, como veremos, componentes e/ou efeitos contraditórios. Daí, a referencia aos “três paradoxos” no título que escolhemos para a nossa exposição.
4- Comecemos pelo famoso “paradoxo francês”. Em que consiste ele afinal? No facto de, não obstante o estilo de vida gaulês médio incluir uma alimentação com elevada ingestão de gorduras, um consumo importante de tabaco e uma notável ausência de exercício físico, tudo significativos factores de risco acrescido de doenças coronárias, a população de França é a que apresenta menor taxa de mortalidade por aquele tipo de doenças, entre todos os países industrializados do Ocidente.
O segredo, asseveram-no os médicos e cientistas que têm estudado o fenómeno, está na “dieta mediterrânica” praticada pelos franceses, na qual, para além do consumo de fruta e legumes frescos e do azeite, desempenha um papel muito importante a ingestão regular de quantidades moderadas de vinho, nomeadamente tinto, a acompanhar as refeições.
Os resultados dos primeiros estudos científicos a que, sobre esta matéria, procedeu o Prof. Jack Masquelier, na década de 50, na Universidade de Bordéus, foram, mais recentemente, confirmados e ampliados pelas conclusões a que chegou um estudo médico prospectivo realizado pelo Dr. Serge Renaud, director da Unidade de Investigação em Fisiologia Vascular e Nutrição do INSERM em Lyon (França). Estas, por sua vez, foram posteriormente comprovadas pelo projecto MONICA, desenvolvido pela Organização de saúde em quarenta centros repartidos por todo o mundo (incluindo 3 franceses, cujos resultados foram comparados com os dos outros centros).
Tais conclusões permitem poder afirmar-se que beber vinho habitualmente, de forma moderada, previne as doenças cardíacas do tipo coronário em 50%.
Muitas pessoas se perguntarão: em que consiste, quanto é a ingestão moderada de vinho?
Para responder a esta questão haverá que ter em conta, antes do mais, alguns parâmetros relativos ao bebedor, nomeadamente sexo, envergadura física (sobretudo o peso corporal), estado de saúde, tipo de trabalho que executa (físico ou intelectual), e eventuais predisposições pessoais físicas ou psíquicas relativamente ao consumo de álcool.
Depois haverá que atentar em parâmetros respeitantes à bebida, particularmente o seu grau alcoólico e as circunstâncias de sua ingestão (a acompanhar refeições ou fora destas). Embora não haja consenso às quantidades, muitos investigadores opinam que, em condições normais, um homem poderá beber diariamente quatro medidas de vinho com 11º/12º de álcool (o que corresponde a cerca de 50cls.), enquanto uma mulher poderá consumir metade daquela quantidade, ou ligeiramente mais (25ª 30 cls.).
É ainda recomendável que nunca se beba em jejum ou com o estômago vazio. O vinho deverá ser ingerido durante as refeições.
Continua
2 comentários:
Além de interessante, vou enviar ao meu pai, ele se interessa muito pelo assunto: vinho e saúde.
Cara Camila
Obrigado pelos vossos comentários.
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