Rótulo (arte nova) - 1910, usado para vinhos de Verdelho e Terrantez produzidos nas propriedades do Dr. José Homem de Noronha, na Ilha de S. Jorge.
Por: Alfredo Borba*
Hoje em dia quando falamos de S. Jorge vem-nos logo à ideia o seu queijo, as suas pastagens e a produção de leite, que são símbolos da produção económica da Ilha. Nem sempre foi assim, a Ilha de S. Jorge já foi uma grande produtora de vinho e vinho de qualidade. A atestar esta informação está a provisão de El’Rei D. João V, de 30 de Julho de 1716, na qual foi permitido a cobrança de um imposto especial de 1 real em canada de vinho e aguardente, para construção da Casa da Câmara das Velas (1).
Para reforçar esta ideia transcrevemos duas passagens de Gaspar Frutuoso (2), a respeito do vulcão de 1580, que q nosso ver são significativas «…dali a espaço de seis horas rebentou o fogo noutro pico, sobre as vinhas, que chama as Queimadas, as quais eram remédio daquela Ilha, porque não tinham outras lavouras senão aquelas e dali se vendiam cada ano 1500 pipas de vinho… havia naquelas vinhas que se perderam até trezentas adegas sobradadas que os donos delas tinham mais lustrosas e custosas que as casas da vila, que só eram térreas…».
Os primeiros vinhedos, de bacelos trazidos pelos povoadores, instalaram-se nas Fajãs e vales abrigados, desde Rosais até ao Topo, sobretudo na banda sul da Ilha. Destacamos a zona que vai da Queimada aos Terreiros e as Fajãs Grande e de São João (3). Depois do vulcão de 1580 a zona da Queimada ficou muito reduzida. Na erupção de 1808, vulcão da Urzelina, as vinhas dos Castelletes foram cobertas com grandes quantidades de areia (4)
O sítio mais conhecido da produção de vinho de qualidade situava-se na freguesia da Urzelina, lugar dos Castelletes, que segundo Avellar (5) apenas compreende um terreno de alguns hectares, que era o que produzia o melhor vinho dos Açores, como o classificam os antigos apreciadores. Sousa (6) reforça esta ideia, referindo que a Urzelina é uma aldeia célebre e famosa pelos seus generosos vinhos brancos do lugar dos Castelletes e que os seus habitantes cultivam as melhores vinhas dos Açores. Estas vinhas seriam constituídas essencialmente por Verdelho e Terrantez.
A excelência dos vinhos fazia com que certos importadores não duvidassem em adquirir vinhos com outras proveniências para o exportar como Jorgense. Por esse motivo, foi por diversas vezes proibida a entrada de vinho proveniente de outras ilhas, por exemplo, a 7 de Abril de 1612, a Câmara deliberou que, com as demais autoridades e proprietários, que todo o mestre carregasse ou que trouxesse vinho para o porto das Velas, com proveniência do Pico, Topo, Calheta, Faial e Graciosa, que perdesse a embarcação e pagasse mais vinte cruzados de prisão.
Continua
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