segunda-feira, 7 de maio de 2012

Dois resistentes Moinhos


Victor Cardoso*

TEIMOSAMENTE SÓLIDOS CONTRA O DESLEIXO DE ALGUNS VENTOS:

Dois resistentes Moinhos que devem merecer nota alta e exemplar, com vista a uma mudança de atitude no objecto do resgate e recuperação, de outros tantos que ainda resistem, mas que em ruínas se vão perdendo nas ilhas.
Os Moinhos de Vento, outrora duplos símbolos de uma identidade muito nossa, onde a excepção poderá se ter verificado apenas na mais ocidental ilha “europeia”- por razões geográficas. Efectivamente desde o povoamento nas ilhas, a importância da edificação de um sistema que permitisse a farinação de cereais, foi preocupação dos donatários, tendo cabido mesmo a Álvaro Martins Homem - Terceira, a construção das primeiras azenhas, aproveitando os ricos caudais das ribeiras – casos da Ribeira dos Moinhos; Arrabalde da Vila; Quatro Ribeiras e Ribeira de Agualva. 
Na ilha Terceira, o primeiro Moinho de Vento, segundo as fontes, poderá ter sido construído no povoado da Fonte do Bastardo, seguindo-se o da Vila de São Sebastião – Pico da Forca e depois os periféricos à cintura da então Vila da Praia, depois da vitória, hoje cidade. Com toda a naturalidade se devem ter seguido os que foram construídos na zona norte: Biscoitos; Raminho; Serreta e Doze Ribeiras, dadas as características de ventos predominantes.
Essa duplicidade e natureza identitária - primeiro pela necessidade directa de garantir meios de subsistência alimentar aos habitantes, tirando-se ainda também todo o partido, crucial, da sua valência económica – usando-se a energia limpa dos ventos. Depois pela marcante presença física, enquanto património edificado e caracterizador da nossa paisagem, que de forma sublinhada, devendo-se dar eco de tão preponderante elemento que nos caracterizava.
Os Moinhos de Vento têm vindo nesta data – 7 de Maio, a merecer distinta atenção, com incidência anual, comemorando-se o Dia Nacional dos Moinhos – moinhos abertos. 
Nesta ilha, esse evento, é associado, numa iniciativa da Escola Básica IB dos Biscoitos, que lhe tem dedicado especial atenção, abrindo o seu Moinho, localizado na Ponta-Negra – freguesia dos Biscoitos, à população, organizando um bem elaborado manifesto de realizações programáticas que o valoriza e o distingue – o moinho é parte integrante das suas infraestruturas físicas. 

Outro Moinho que não podemos ficar indiferentes é o que é propriedade do Grupo Folclórico das Doze Ribeiras – freguesia das Doze Ribeiras, quer pela beleza do seu enquadramento paisagístico – com a serra de Santa Bárbara ao fundo, mas também por nos testemunhar o cuidado posto na sua conservação – pelos seus legítimos possuidores.
Das suas Tipologias:

Moinho de Vento da Ponta-Negra – Biscoitos

 Moinho Giratório de Madeira - Moinho mecânico, visto ter sofrido algumas alterações, podendo ter sido mesmo, inicialmente um moinho fixo de pedra do tipo holandês, semelhante ao que existiu na canada do moinho, neste mesmo povoado dos Biscoitos. É composto por dois corpos que lhes estão sobrepostos: A base – corpo inferior, onde comporta todo o sistema da moenda, é de alvenaria de pedra, caiada e em forma tronco-cónica, com uma pequena vizinhança (espaço exterior envolvente e pertença do moinho). Toda a estrutura do corpo superior é em madeira – em forma tronco-piramidal, assim como o rabo de orientação. Possui uma hélice de quatro pás, recentemente restaurada, substituindo o antigo velame. Anexo ao corpo inferior, foi construído um compartimento para alojar o motor. Existe nesta freguesia outra unidade idêntica, na Canada do Mistério – em ruínas.

Moinho de Vento do Grupo Folclórico – Doze Ribeiras


Trata-se também de um Moinho Giratório de Madeira (MGM). Muito naturalmente descende dos primeiros moinhos de poste do século XII – XII (Bélgica - Holanda) – Inicialmente o poste era enterrado no solo, tendo depois sido reforçado com a inclusão de um tripé de madeira, que tinha como função escorar melhor a casota que comportava todo o sistema de moagem. No caso presente deste moinho terceirense, o poste está protegido por uma base redonda – um pedestal maciço de pedra. É no espigão central que está fixa e roda a casota do moinho, esta, em madeira e com forma octogonal, cujo diâmetro é praticamente equivalente ao do próprio pedestal. O sistema de velame é constituído por 8 velas. É o único sobrevivente na freguesia.
Como nota final, ao nos associarmos, uma vez mais a tão importante registo, que dá notoriedade a tão notável elemento que identifica o nosso Património Cultural, deixamos votos para que 2013 traga-nos efectivamente “novos ventos”, no sentido de se reverter a actual passividade e cumplicidade, de quem deve e pode fazer mais e melhor pelos Moinhos destas Ilhas, o mesmo será dizer, que cuide da nossa Cultura com prontidão, energia e sobretudo saber!

*Investigador

1 comentário:

Paulo disse...

Gostei do artigo, realmente muita coisa se vai degradando aos poucos e o cimento impera no lugar das pedras trabalhadas arduamente pelos nossos pais. Por falar em moinhos, lembro-me daquele que até está classificado na freguesia de Porto Judeu, se bem que, ao primeiro olhar mais parece uma casa moderna, sem telha "tipo caixote"...vai-se lá saber o porquê da classificação quando, no meu modesto entender, sem velas ou os braços destas, como moinho...
Uma sugestão aqui fica ao Amigo Victor, catalogar também os silos antigos que ainda existem nas zonas rurais da nossa ilha. Também eles fruto do suor de muitas pessoas. Silos que antigamente eram local de guardar o "sustendo do corpo" e hoje, um sonho meu, serem local para guardar o "sustento da alma", isto é tornarem-se pequenas ermidas ou capelas.