"O riso é um dissolvente, não é um remédio. O riso amolece, relaxa e acaba por tornar imbecis aqueles mesmos que o empregam contra a imbecilidade alheia. É uma arma perigosa, de dois gumes, uma arma má. Voltaire feriu o cristianismo com as suas chocarrices, mas feriu mais profundamente ainda a seriedade moral, a dignidade, a religiosidade da geração, que se associou, sem bem saber porque, ao seu eterno ricanement.
Receio que nos venha a acontecer, em Portugal, coisa semelhante. Andamo-nos a rir continuamente uns dos outros, na virtuosa intenção, ao que parece, de nos corrigirmos e reformarmos mutuamente, e afinal temo que não façamos senão relaxarmo-nos uns aos outros cada vez mais.
Uma certa dose de seriedade ainda quando seja pouco hirta, um pouco pedantesca, na sua gravidade convicta, e por conseguinte um pouco ridícula, é condição essencial da vitalidade e da sanidade do espirito publico. Quando um povo chega a rir-se de si próprio, é porque perdeu, com alguns preconceitos e uma certa estreiteza inerente a toda a convicção séria, uma boa parte, senão a melhor parte, da sua virtude colectiva."
Anthero do Quental
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