sexta-feira, 2 de agosto de 2013

JOÃO AFONSO

VIDA E OBRA
NO SEU NONAGÉSIMO ANIVERSÁRIO

João Afonso discursando no descerramento da placa existente na casa onde viveu Almeida Garrett na Rua de S. João em Angra, 1954. Foto/col. : Pedro Brito do Rio. 

João (Dias) Afonso nasceu na cidade de Angra do Heroísmo, freguesia da Sé, a 27 de agosto de 1923, filho de Joaquim Luís Afonso, comerciante e da professora do ensino primário, D. Maria da Glória Zulmira Dias Afonso. Cumpriu serviço militar obrigatório como oficial miliciano de administração, sendo desmobilizado tenente no B.I.I. nº 17. Em agosto de 1997 fica viúvo de D. Rahyra Leonissa da Silva Santos Afonso que foi estimada professora da Escola do Magistério Primário de Angra do Heroísmo e foram pais da licenciada D. Maria João Santos Afonso Galvão Teles, casada com Carlos Henrique Archer Galvão Teles, funcionário superior aposentado da antiga Petrogal.

Após a conclusão do curso complementar no Liceu Nacional de Angra, segue logo para Coimbra, em cuja Universidade se matricula aos 18 anos na Faculdade de Direito, interrompendo esses estudos por motivo de doença que o fez regressar à Terceira. Após a convalescença concorreu ao lugar de bibliotecário municipal, chegando a diretor, até à integração dessa biblioteca municipal na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo. Aqui aposentou-se com a categoria de técnico superior principal, assumindo, por diversas vezes, a direção interina deste estabelecimento, como aconteceu no impedimento do Dr. Manuel Coelho Baptista de Lima, enquanto este foi presidente da Câmara Municipal de Angra.

Na Biblioteca e Arquivo a que esteve ligado por mais de quatro décadas, bem como noutros arquivos nacionais e estrangeiros, realizou aturadas pesquisas no âmbito da história dos Açores (Açores em novos papéis velhos, ed. do Instituto Histórico da Ilha terceira, 1980) e da etnografia histórica açoriana (O traje nos Açores, id. 1978, 2ª ed. 1987) e procedido a um exaustivo inventário da bibliografia açoriana (Bibliografia Geral dos Açores, ed. Secretaria Regional da Educação e Cultura, de que saíram 3 volumes: 1985-1997) lamentando-se que os 8 volumes restantes ainda não tenham merecido publicação. Aliás o mesmo, imperdoavelmente, aconteceu com a obra do Dr. Franz-Paul de Almeida Langhans, Ofícios antigos subsistentes nas ilhas dos Açores, de que saíram só o primeiro volume (Flores e Corvo, 1985) e o segundo volume (Graciosa, 1988), sendo urgente reparar situações destas em que os autores deixaram obra de monta (gratuitamente), interrompidas abruptamente.

Fez também criteriosas investigações sobre baleação e museologia que o levaram a estagiar em instituições especializadas, na Europa: Mónaco, Sandefjord, Rennes, Concarneau, Londres, Paris e Colónia e na América do Norte: Terra Nova, Washington, Nova Inglaterra, Califórnia e Hawai. Participou em dezenas de congressos no país e estrangeiro e proferiu conferências em Universidades norte-americanas como Harvard, Brown, Arlington, Honolulu, etc.

O Governo Regional dos Açores encarregou-o da conceção/instalação do Museu dos Baleeiros do Pico, reconhecendo a sua elevada competência.

Sem dúvida que os maiores estudiosos da baleação açoriana foram José Mouzinho de Figueiredo com Introdução ao estudo da indústria baleeira insular, ed. Museu dos Baleeiros, Pico, 2ª ed. 1996, e João Afonso a culminar com o seu álbum Mar de baleias e de baleeiros, ed. Direção Regional da Cultura, Angra do Heroísmo, 1998.

A longa carreira de João Afonso como jornalista, está ligada principalmente aos jornais de Angra do Heroísmo Diário Insular (co-fundador) e A União, no primeiro dos quais coordenou uma notável página de Artes e Letras, durante 30 anos, de 1946 a 1978, apenas com uma interrupção entre 1958 e 1961, durante a qual foi chefe de redação da antiga Agência Nacional de Informação, Lisboa. Durante anos foi correspondente do Diário de Notícias (Lisboa) e de outros títulos, assim como da A. N. O. P. e colaborou em O.C.S. da diáspora. Foi o primeiro delegado da RTP nos Açores, nomeado por Ramiro Valadão em 1969.

Segundo Eduíno de Jesus, João Afonso surge como poeta «no âmbito do modernismo insular de meados do século passado com uma poesia em que se reconhece um pouco o torneio da frase nemesiana, mas cuja genuinidade o próprio Nemésio foi o primeiro a acentuar, sublinhando a vaga fluidez da sua expressão, a qual lhe permite conseguir às vezes admiráveis efeitos de simplicidade e pureza. Em alguns poemas publicados na imprensa periódica usou o pseudónimo de Álvaro Orey». Também traduziu poesia (inglês, francês e espanhol).

Publicou três opúsculos de poesia intitulados Enotesco, Angra do Heroísmo, s.d. [1955], Pássaro Pedinte e Ruas Dispersas (com prefácio de Vitorino Nemésio), Lisboa, 1960, o que o faz arrecadar o Prémio Nacional de Poesia do S.N.I., e Cantigas do Terramoto para Ler e Passar, Angra do Heroísmo, 1980, bem como numerosos ensaios e estudos sobre temas de história, literatura e etnografia dos Açores, de que destacamos - além dos citados e de muitos outros dispersos ou publicados em opúsculo - Garrett e a Ilha Terceira, ed. da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, 1954; Antero de Quental e o Pensamento da Revolução Nacional, Lisboa, 1967; Açores de Outrora na Ilha Terceira Daqueles Tempos, ed. Inst. Açoriano de Cultura, 1978; Memoração Ribeiriana (sobre Luís da Silva Ribeiro), ed. Inst. Histórico da Ilha Terceira, 1982; Notabilidade de Dacosta, Angra do Heroísmo, 1983; O Galeão de Malaca no Porto de Angra em 1659: Um Processo Judicial - Linschoten, ed. Inst. Histórico da Ilha Terceira, 1984; Baleias e Baleeiros - Açorianos nos Sete Mares e Ancorados nas Suas Ilhas, Angra do Heroísmo, 1988. Organizou, anotou e prefaciou: Luís Ribeiro, Subsídios para Um Ensaio sobre a Açorianidade, Angra do Heroísmo, colecção «Ínsula», 1964; id., Obras, 3 vols., ed. Inst. Histórico da Ilha Terceira / Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1982-1983.

Promoveu o Movimento das Cidades Irmãs de Angra do Heroísmo e de Tulare, Califórnia.


É sócio efetivo das seguintes instituições: Academia Portuguesa da História, Sociedade de Geografia de Lisboa, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (Brasil), Instituto Histórico a Ilha Terceira, Instituto Açoriano de Cultura, Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves e Núcleo Cultural da Horta. Colaborador de várias enciclopédias e revistas culturais portuguesas.

É comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1989). Foi-lhe conferida a Medalha de Honra do Município Angrense (2003). Possui dois ex-líbris, um deles executado por Ruy Palhé, xilogravura. Mereceu ser fixado por artistas pintores e caricaturistas renomados como Martinho da Fonseca, Victor Câmara e Mateo Alzina Oliver, entre outros.
J. B. B.


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