Anteontem faleceu, em Lisboa, um dos mais distintos oficiais da marinha de guerra portuguesa, o capitão-de-mar-e-guerra Joaquim Baptista Viegas Soeiro de Brito, que ao longo da sua vida manteve uma estreita relação profissional e familiar com os Açores.
Nascido há 91 anos, não longe das Portas de Olivença, provinha de uma família alentejana com tradição militar, em que se destacou seu pai o capitão Ernesto Alberto Soeiro de Brito que fez parte do C.E.P. em França, combateu na Flandres e sobreviveu a La Lys, pelo que foi louvado e condecorado, bem como o seu tio avô coronel Joaquim Maria Soeiro de Brito, a quem Marcelo Caetano referia como “aquele santo varão” e que pela sua acção benemérita a Câmara Municipal das Caldas da Rainha perpetuou o seu nome na toponímia da cidade.
Concluído o curso da Escola Naval e demais formações como oficial, embarca como imediato num patrulha em estação no Faial, tendo como companheiros os futuros almirantes Rogério Oliveira, Eduardo Serra Brandão e Henrique da Silva Horta. Nessa altura fica já a conhecer todas as ilhas, bem como a Horta, Angra do Heroísmo e Ponta Delgada. Seguidamente serve em vários navios e províncias ultramarinas, conhecendo superiores de referência como o comandante Morgado Belo, Sarmento Rodrigues, Costa Freire, Melo Breyner, Almeida Graça, Coelho da Fonseca e outros que com ele realizaram inúmeros cursos e especializações na Inglaterra, Alemanha, França, E.U.A., Canadá, Itália, Holanda, Bélgica, etc.
Participou em cursos e conferências da NATO, tornando-se especialista em armamento nuclear, habilitando-se com o curso complementar de Ciências Nucleares Aplicadas pela Universidade Livre de Bruxelas (3 anos), seguido de um estágio, de um ano, no Centro Nuclear de Mol.
Com a nomeação do general Kaulza de Arriaga para governador-geral de Moçambique, foi escolhido por Marcelo Caetano para substituir este na presidência da Junta de Energia Nuclear, onde permanece alguns anos e onde deixou obra notável.
Em 1974, por insistência de Marcelo Caetano, com alguma renitência, pois considerou-se sempre um cientista e não um político, aceita ser Sub-Secretário de Estado da Energia no último governo deste Primeiro-ministro.
Esteve colocado no Estado Maior da Armada e como tal foi incumbido de representar aquele órgão em importantíssimas actividades da área da Oceanografia Militar, incluindo missões especiais como a criação da Estação de Rastreio na ilha das Flores e do Polígono Acústica Submarina na ilha de Santa Maria.
Em 1964 foi designado para acompanhar uma missão de 15 especialistas franceses que visitaram os Açores a fim de escolher uma posição adequada para a instalação da dita estação de rastreio, que recaiu nas Flores.
Em 1985 preside à Comissão Organizadora das Comemorações do V Centenário da Passagem do Cabo da Boa Esperança e de seguida é nomeado Coordenador Adjunto da Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugueses, onde o seu papel foi da maior relevância pelo êxito das suas qualificadas iniciativas.
Em 1976 o Prof. Freitas do Amaral (que fora seu aluno, assim como Amaro da Costa e Roberto Carneiro) convida-o a assumir o cargo de Director do Gabinete de Estudos do C.D.S.
Foi, mais de uma década, professor na Universidade Nova de Lisboa nas áreas da Energia e Oceanografia. Desempenhou funções importantes na Academia de Marinha e na Sociedade de Geografia de Lisboa.
O currículo do comandante Soeiro de Brito é de tal ordem rico que encheria páginas, incluindo o que deixou escrito.
Foram-lhe atribuídas condecorações como Comendador da Ordem Militar de Avis, Ordem do Infante Dom Henrique, Grande-Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil), etc.
Deixa de luto a viúva D. Maria de Lourdes Félix de Mattos Fernandes, sua irmã a Professora catedrática Doutora Maria Raquel Soeiro de Brito, sua sobrinha Professora Maria Adelina Soeiro de Brito Soares, seu cunhado o Eng. Silvicultor Mattos Fernandes e nos Açores os seus sobrinhos netos Guilherme, Nicolau e Alexandre de Bruges Bettencourt.
JBB
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